26 de janeiro de 2008

Saúde doente

Ontem e hoje vi várias referências nos jornais e televisão a uma chamada para o INEM feita por um indivíduo de Alijó, para prestar assistência a uma pessoa que tinha caído. Após uma conversa surrealista, em que o tom é de tudo menos de urgência, é muito improvável que o socorro tivesse chegado a tempo. A qualidade da ligação era péssima, a operadora do INEM não percebia o que dizia o irmão da vítima, a morada e os números de telefone eram constantemente mal entendidos. Quando finalmente a operadora percebeu o que se passava (aí por volta do 5.º minuto da chamada), e de ter duvidado inúmeras vezes da veracidade da chamada, tentou enviar para o local uma ambulância dos bombeiros de Favaios. Só que, além de o bombeiro não estar a prestar atenção ao que ela dizia, estava ao telemóvel, coitado. E quando finalmente percebeu que tinha um serviço, não podia ir, porque estava sozinho na corporação. Então, a operadora ligou para a corporação de Alijó, que também só tinha um bombeiro disponível. Mas o senhor lá disse que ia chamar um colega e assim terminou a chamada de emergência. Quase 15 minutos depois de ter começado.

http://www.youtube.com/watch?v=88ukPcA55jI&eurl=http://kropotkine.blogspot.com/ (1.ª parte)

http://www.youtube.com/watch?v=MRDh-5aEKkg&eurl=http://kropotkine.blogspot.com/ (2.ª parte)

Nas duas únicas vezes em que tive contacto com o INEM, foi para pedir assistência para a minha mãe, em 2004. Apesar de, depois de chegarem, a terem assistido da melhor forma possível, a verdade é que da primeira vez demoraram cerca de meia hora a chegar. Estávamos a 5 km do Hospital Fernando da Fonseca. Nunca me vou esquecer desses 30 minutos, com a minha mãe a ter um AVC e a entrar em coma, o meu pai atarantado, o meu irmão a chegar a casa no meio da confusão. Da segunda vez, eu não estava presente, mas foi mais rápido e a assistência igualmente boa.

O que pergunto é: Será sempre uma questão de sorte? Sorte de ligarmos e sermos atendidos pela pessoa certa? Sorte de haver uma ambulância disponível? Sorte de a ambulância dar com o caminho? Sorte de a pessoa a precisar de assistência aguentar mais uns minutos?

Depois, no hospital, a confusão também foi muita e a assistência muito precária. Durante um mês, a minha mãe entrou no na urgência do HSF 4 vezes em estado grave, tendo sempre alta poucos dias depois e sem lhe fazerem os exames necessários. Numa das vezes, esteve 2 dias deitada numa maca no corredor das urgências porque alguém se esqueceu de avisar que havia camas livres lá em cima. Até que o meu pai perdeu a cabeça e, como médico, ou apesar disso, teve de intervir. Em pouco tempo, os exames foram feitos e o processo encaminhado, e só no Curry Cabral e mais recentemente no Garcia de Orta ela foi bem tratada. Mas as sequelas ficaram e, sobretudo o trauma sempre que uma emergência se avizinha.

Podemos sempre recorrer aos seguros de saúde, claro... Mas e quando até os seguros de saúde não comparticipam intervenções realmente necessárias? Esperamos? Até quando? Até já não ser necessário pelos piores motivos?

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