Quando as crianças mentem

Quem me conhece sabe que não sou de lágrima fácil no cinema, por isso A caça, do dinamarquês Thomas Vinterberg, só pode ser muito bom para me ter feito derramar não uma, mas muitas.

Lucas trabalha num jardim de infância e é adorado por todas as crianças. Até que uma delas desenvolve   por ele uma obsessão infantil e, sendo rejeitada, inventa uma pequena história que traz atrás uma sugestão de pedofilia. O rastilho é rápido, e num ápice outras crianças e pais queixam-se do mesmo, descrevendo inclusivamente abusos na cave de Lucas, local que nunca existiu em sua casa. Lucas torna-se um pária numa pequena comunidade, banido de entrar no supermercado e olhado de lado por todos os vizinhos e amigos. Mesmo depois da situação desmascarada, a vida de Lucas nunca voltará a ser a mesma. As crianças mentem, sim, e podem destruir uma vida.

Nós, como espetadores, sabemos que Lucas é inocente e por isso tomamos sempre o seu partido, admirando a sua calma a sua passividade. Mas... e se não o soubéssemos? Culparíamos na mesma um homem que à partida deveria ser considerado inocente? Não sei, e acho que foi sobretudo isso que me fez chorar.