22 de maio de 2008

Impressões de Berlim

Já regressei há 3 dias e ainda não consegui escrever praticamente nada sobre Berlim. Porque gostei TANTO da cidade que tenho medo de não conseguir fazer jus à sua grandiosidade… E, ao deparar-me com os contrastes que por aqui vejo, ainda mais penso em como poderíamos ser e não somos. Se bem que possa parecer chocante o que vou escrever, e parafraseando o que li num manual de História, «será que o sofrimento não contribui também para o crescimento das pessoas»? Porque, se pensarmos que Portugal foi um dos pouco países que não esteve directamente envolvido nas guerras mundiais (leia-se, envolvido com guerra «no território»), percebemos que os países que nela estiveram se calhar se desenvolveram bem mais, porque tiveram necessidade de as ultrapassar e de renascerem quase das cinzas… E Berlim é bem um exemplo disso.

Filosofices à parte, aqui vai então o que mais me impressionou, não necessariamente por esta ordem de importância:

- a quantidade de ciclistas e o respeito que todos têm por eles. Em Berlim, o ciclista é rei e vive no melhor de dois mundos (eu também fui uma…). Se vai pela estrada e o sinal fica vermelho, passa para o passeio e segue caminho. Se se dá o contrário, idem idem, aspas aspas. E o mais giro é que ninguém se chateia, com os próprios taxistas sempre cheios de pachorra a abrandar logo que um ciclista se aproxima. Conclusão: como a cidade é plana e as condições são excelentes, vê-se poucos carros e bicicletas encostadas em todo o lado.

- pessoas a comer de tudo a qualquer hora do dia. Às 11h da manhã, podem estar a comer salada de frango, às 11h da noite a começar a jantar. Grande parte dos restaurantes estão abertos 24h/dia. E, melhor ainda, não são caros. Excepção: as bebidas são caríssimas, com uma cerveja a custar em média €3,00 e uma água também.

- a segurança. Não por ingenuidade, mas nunca senti medo. E parece-me que os berlinenses também não. Andam pelas zonas mais recônditas às horas mais estranhas, sozinhos e descontraídos. Curiosamente, também não vi muitos polícias, o que significa que deve haver muitas câmaras espalhadas por ali.

- a qualidade (e o preço) dos museus. Fui a dois de graça (às quintas-feiras à noite os museus da Ilha dos Museus têm entrada gratuita), o Altes Museum e o Pergamon Museum, onde fiquei assombrada com o Altar de Pérgamo e com a Porta de Ishtar, da Babilónia. Por €5, visitei o Museu de História Natural, com o maior dinossauro completo do mundo (mais de 13m de altura) e diversas salas de exposição atraentes e interactivas (fosse em Lisboa, e passaria lá um dia inteiro a explorá-lo). Por €6, fui ao recente Museu Judaico. Muito bom.

- a nova arquitectura. Desde há 18 anos, quando a Alemanha foi oficialmente reunificada, a reconstrução não tem parado. E é toda muito boa e bem integrada, com traços arrojados, sem medo de chocar. Porque não construir ao lado do rio Spree edifícios altos e envidraçados? Porque não reconstruir a cúpula do Reichstag com um aspecto renovado, de Sir Norman Foster, que ainda por cima é amiga do ambiente com um sistema de espelhos que ilumina o interior do parlamento? A cada esquina, em cada rua, a qualidade da arquitectura é, não tenho dúvidas em dizê-lo, esmagadora.

- a velha arquitectura. Porque também andei por Berlim Leste, aquela que está mais longe da zona em reconstrução, vi muitos dos edifícios que por ali ainda há, muito ao estilo do filme Goodbye, Lenin. Prédios de traços direitos, não rebocados, de cores tristes e feias. Ao vê-los, percebi a tristeza de quem dali não podia sair.

- o excelente sistema de transportes públicos. Dois sistemas de metro, o U-Bahn (só subterrâneo) e o S-Bahn (de vez em quando vem à superfície e anda mais pelos arredores), suprem todas as necessidades de transporte, a funcionar com pontualidade e regularidade. As estações de metro são de longe bem mais feias dos que as nossas, mas muitíssimo mais práticas e abrangentes.

- as enormes lições de História. É verdade, a História está em cada passo que damos. Na Bebel Platz, onde Hitler mandou queimar publicamente milhares de livros. No Memorial ao Holocausto. Perto dali, numa praça escondida e disfarçada, debaixo da qual Hitler se matou (a sério, é mesmo impressionante pensar que ele viveu os seus últimos dias debaixo do sítio que pisamos). Junto ao que resta do Muro - e não só no que resta, mas na marca indelével, colocada no chão em paralelepípedos, que atravessa toda a cidade. Em Checkpoint Charlie que, apesar de agora ser «a fingir», marca e conta uma série de histórias de fugas bem e mal-sucedidas.

O que recomendo vivamente: o alojamento em apartamento e não em hotel (sente-se muito mais a cidade) e a deslocação em bicicleta (mesmo que chova, um guarda-chuva ou um impermeável resolvem o assunto).

E poderia continuar a escrever sobre tantas coisas… Mas não quero massacrar ninguém. E ainda tenho as fotografias para mostrar.

Nova arquitectura:


Berlim Leste:



Pormenores:

3 comentários:

Mary disse...

Está definitivamente provado: mais vale não visitar uma cidade a fazê-lo mal. Porque não existe uma segunda hipótese de obter uma boa primeira impressão.

Fico muito feliz por teres gostado. Depois quero ver as fotografias todas!!!

Vespinha disse...

Talvez, mas podes sempre tentar obter uma boa segunda impressão... Eu por exemplo não gostei de Roma porque a visitei mal e um dia destes, passados uns anos, quero dar-lhe uma segunda oportunidade!

Cláudia Abreu Antunes disse...

Olha que fiquei com curiosidade... o meu próximo "retiro" (sem ser o de Junho) poderá ser para aí...
Quero ver as fotos também!