17 de dezembro de 2015

«Não ceder à preguiça - votar Sampaio da Nóvoa», por Isabel Moreira

Isabel Moreira desperta em mim mixed feelings. Ora concordo com o que diz, ora a acho extremista e às vezes me parece até um pouco pateta. Mas este texto reflete bem aquilo que penso. Publicado no Expresso, a 28.11.15.


«(...) Estamos num tempo novo e desafiante.

O paradigma político-social mudou para sempre com a morte das convergências que de tão tradicionais se pensaram donas da democracia e Cavaco, terminando o seu mandato formalmente, dá-nos a oportunidade de devolver um Presidente da República à República.

Esta última oportunidade não pode ser desperdiçada. Não pode ser decidida pela empatia televisiva de quem faz campanha há um ano em exclusivo na TVI, porque a desigualdade dessa arma deve pesar mais do que a habituação ao rosto.

Não pode ser decidida apenas porque Marcelo - que aprecio pessoalmente – é popular, abandonamo-nos à preguiça de constatar que o candidato em causa não tem um plano da sua conceção dos poderes presidenciais, não é claro e direto nas respostas, num estilo de rede simpática apanha-tudo, é incerto, é imprevisível, a sua história política prova que não sabemos mesmo com quem contar numa segunda-feira e com quem contar numa sexta-feira, embora estejamos sempre a falar mesma pessoa.
De resto, é isso que faz de Marcelo um homem divertido, mas não um candidato.

Sendo mulher, e feminista, tenho por importante a representação feminina nos cargos políticos. Nunca houve uma Presidente da República. É um facto. Mas nunca me bastaria a constatação de ver uma militante do meu Partido – no caso, Maria de Belém – para desatar a correr para o voto em nome das mulheres ao poder. Porque não é esta a mulher que eu quero a fazer história.

Direi mesmo que até por ser mulher, a minha adesão à candidatura de Sampaio da Nóvoa é reforçada perante Maria de Belém. Basta recordar-me, sobretudo na semana em que se discutiu, quase dez anos depois, o absurdo de mulheres que não tenham a tutela de um homem serem excluídas do acesso à procriação medicamente assistida (sexismo e homofobia num pacote), que Maria de Belém tutelou esse processo. Sim, em 2006, Maria de Belém tutelou o processo que informou mulheres solteiras, viúvas, lésbicas, casais de lésbicas disto: o vosso útero pertence a um homem.

É verdade que com a disciplina de voto votou favoravelmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas ficou clara a sua discordância na declaração de voto que apresentou. Pertencia ao grupo que defendia um outro caminho.

Estes dois exemplos não relevam apenas das matérias em causa. Relevam para nos apercebermos que Maria de Belém, sendo mulher, não comporta em si o desígnio mais forte que essa condição na Presidência mereceria: um conceito amplo, sem pó, sem adversativas da igualdade.

É por isto, por também não encontrar em Maria de Belém uma vontade fundacional de ser candidata, nem um guia do que entende ser o exercício dos poderes presidenciais que, por mim, Belém não irá para Belém.

Sampaio da Nóvoa não esperou. Nada tem contra os Partidos, antes pelo contrário, mas dispenso a retórica que lhe vejo ser atirada vinda de um bafiento conceito de monopólio dos Partidos ou da pertença a um Partido, como fator de superioridade para se atuar politicamente.

Sampaio da Nóvoa tem uma visão cosmopolita do mundo, tem como positivas as diferenças de identidade, de modelos de família, de modelos de parentalidade, rejeita a abominável tarefa estatual que desgraçou o século passado, essa de padronizar comportamentos.

Finalmente, Sampaio da Nóvoa apresentou uma Carta de Princípios que corresponde à mais correta interpretação que já li do que deve ser o exercício dos poderes presidenciais. (...)

É ouvir, é ler, é estar atento, é ter memória, é não ceder à preguiça e fazer de Sampaio da Nóvoa o grande candidato da esquerda.»

6 comentários:

Same Old Guy disse...

Preferia partir uma unha, do que votar em alguém indicado pela "doidona" da Isabel Moreira... :p

Vespinha disse...

Ela não me indica em quem votar, os nossos votos é que coincidem. :)

Sérgio disse...

Eu nem sei em quem vou votar...

CAP CRÉUS disse...

Nem Maria nem o tontinho do outro.

O resto logo penso.

Vespinha disse...

Eu já tinha decidido avançar nada antes de eles se terem candidatado, em setembro de 2013! :) http://vespaaabrandar.blogspot.pt/2013/09/e-de-por-os-olhos-neste-senhor.html

João disse...

É de notar que apesar do "bafiento conceito de monopólio dos Partidos" a Isabel Moreira descarta completamente os outros candidatos do PCP e BE como se eles nem existissem. Isabel Moreira, por mais que uma vez, tem mostrado total ignorância e apenas uma fixação ideológica que a agarra à ténue linha da realidade.