14 de outubro de 2019

Milkman, de Anne Burns

Tudo se passa nos anos 70 numa cidade sem nome de um país sem nome, que facilmente percebemos serem Dublin e a Irlanda do Norte. O ambiente é opressivo e de desconfiança permanente, entre os pró-governo («os de lá») e os antigoverno («os de cá»), em que quase todas as famílias já viram um ou mais dos seus assassinados por motivos políticos.

A protagonista (e narradora) é uma rapariga de 18 anos cujo nome nunca conhecemos, que sempre tentou passar despercebida, porque quando não se dá nas vistas corremos menos perigos. Até que um dia se levanta um boato de que anda envolvida com um leiteiro com o dobro da sua idade, homem sabido e influente dos antigoverno que subtilmente a persegue. A partir daqui, toda a sua vida é condicionada por este boato, que limita os seus movimentos, os seus interesses, os seus relacionamentos e até os seus sentimentos, até se sentir quase apática.

A escrita, que segue sempre a linha de pensamento da rapariga, é fluida apesar de todos os desvios que o pensamento implica, mas fácil de acompanhar se estivermos concentrados.

Um bom retrato do ambiente vivido aquando dos conflitos entre as duas Irlandas a propósito de um caso de assédio sexual.

Nota: Este livro ganhou o Man Booker Prize 2018 e foi bem merecido.

2 comentários:

PEQUENOS DELITOS RENOVADOS disse...

Ótima crítica do livro...dá vontade de ler!!!!

Vespinha disse...

E vale a pena. Tem é de se entrar bem!