Já aqui falei várias vezes de Paul Auster, um dos meus escritores preferidos. Só nunca contei que um dia me zanguei com ele. Há já uns anos, quando esteve em Lisboa a dar umas conferências e a lançar um livro, já não me lembro qual. Depois de horas à espera na Fnac Chiado, só para o ouvir falar, chegou com o editor (na altura, o Manuel Valente) que transmitiu que o autor estava demasiado cansado para falar e que só iria dar autógrafos. Tinha feito uma palestra no dia anterior na Culturgest, e pareceu-me que não estava para mais conversas. Fiquei fula. Mas continuei a comprar e a gostar dos livros na mesma.
Foi assim com um certo cepticismo que fui ontem à Fnac do Cascaishopping com o mesmo propósito. Conferência às 15h. Pelas 15h10, informação de que o autor estava atrasado. Pelas 15h20, a mesma coisa. E eu a começar a ferver. Mas então lá apareceu. Alto, vestido de escuro, tal como eu o imaginava. Começando por dizer que só tinha sido informado da conferência às 12h. Medo. Mas o gelo lá se quebrou, só que a conferência seria à base das perguntas da audiência. Primeiro o silêncio da vergonha, depois lá arrancámos. E lá lhe perguntei sobre a experiência como realizador (por acaso, sobre um filme de que não gostei). E Paul Auster tornou-se de repente humano, com piadas, com desejos, com sonhos, com simpatia. Mais 5 ou 6 perguntas e a conversa esmoreceu. Até que arranjei coragem para o confrontar com uma dúvida que me assolava há muito: a grande semelhança entre um dos livros da sua mulher (Siri Hustvedt) e o seu próprio estilo - as histórias dentro da história. Negou, julgo que ficou incomodado, e se calhar até fui eu que fui injusta, afinal só li um livro dela, e dos mais antigos, e parece que hoje já não é assim.
Mas tirei a barriga de misérias. E fiz as pazes com ele. Mesmo que ele não as tenha feito comigo. Porque não sabia que precisava de o fazer.
2 comentários:
Fico muito contente por saber que as pazes foram feitas :-)
Curiosamente, ainda ontem contei a história da tua zanga... que foi complementada com uma outra história, de um fã incondicional que preparou algo para dizer ao PA durante semanas a fio... e que, quando chegou a altura, ficou tão mas tão nervoso que só conseguiu verbalizar um tímido "thank you".
Pois eu tive coragem para dizer muito mais, uma vez que ninguém abria a boca... :)
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