31 de março de 2020

Tal mãe, tal filha

Há uns 42 anos:
A minha Mãe: Rita, vai ao quarto buscar uma fralda para eu mudar a Inês.
(Eu vou, e regresso com uma data delas.)
A minha Mãe: Querida, porque é que trouxeste tantas?
Eu: Para ficar já despachada.

Hoje, por telefone:
A Luísa (ao meio-dia): Quero vestir já o pijama.
Eu: Amor, mas para quê? Ainda é muito cedo.
A Luísa: para ficar já despachada.

18 de março de 2020

Adiar a vida

Adiamos idas ao médico.
Adiamos idas ao parque.
Adiamos passeios a pé ou de bicicleta.
Adiamos comemorações de aniversário.
Adiamos o conforto na morte.
Adiamos dias comemorativos.
Adiamos jantar com os amigos ou com a família.
Adiamos exames importantes.
Adiamos a ida para o trabalho.
Adiamos um café na esplanada.
Adiamos visitas aos idosos ou aos doentes.
Adiamos viagens marcadas há meses.
Adiamos uma dor de dentes.
Adiamos idas ao cinema, ao teatro ou a um concerto.
Adiamos conduzir só porque nos apetece.
Adiamos a aprendizagem nas escolas.
Adiamos intervenções cirúrgicas.
Adiamos ir dançar.
Adiamos prazos de tarefas.
Adiamos casamentos.
Adiamos reuniões.
Adiamos ver os nossos pais e avós.

E, sobretudo, adiamos beijos, abraços e carícias. Aquilo que mais nos humaniza.

Que isto passe depressa.

15 de março de 2020

A minha Babá faria hoje 96 anos


A minha Babá, Avó materna que nunca quis que lhe chamássemos avó mas que foi a melhor avó que se pode ter, nasceu a 15 de março de 1924 e deixou-nos a 30 de setembro de 1997, com apenas 73 anos.

Era uma pessoa rígida e simultaneamente afetuosa, muito ligada a nós mas pronta a libertar-nos se fosse para o nosso bem, culta e poliglota porque era tradutora mas ao mesmo tempo a adorar ver telenovelas e concursos de televisão.

Foi ela que me iniciou no inglês e no francês, e foi com ela e com o meu Avô que visitei os primeiros museus da minha vida.

Não se considerava bonita, mas eu acho que era muito. E adorava receber festinhas dela na cabeça quando víamos televisão. Todos os dias penso nela, e não tenho qualquer dúvida de que é um dos meus anjos da guarda.

11 de março de 2020

8 dicas para sermos melhores pais (e evitarmos conflitos desnecessários)

1. Distraí-los durante uma birra - focar a atenção para algo tão simples como a cor da roupa pode acabar com as lágrimas num ápice. Ainda não me tinha lembrado desta!


2. Não lhes dizer quanto tempo falta para terminar uma diversão - a noção de tempo ainda é muito abstrata, é preferível colocar limites com unidades contáveis. Faço sempre isto, até porque elas não fazem ideia do que seja um minuto.

  

3. Limpar primeiro a nossa cara, depois a deles - dar o exemplo é sempre a melhor estratégia. Vale também para outras coisas que não gostem de fazer, como lavar os dentes, por exemplo. Também ainda não me tinha lembrado disto. 

 

4. Dizer-lhes «obrigada» e «desculpa» - mais uma vez, dar o exemplo, até nas mais pequenas coisas e nas mais pequenas tarefas. Faço sempre isto, seja por arrumarem os brinquedos, apanharem uma coisa do chão ou por ter gritado com elas. 
 

5. Dar-lhes legumes e fruta antes da refeição - para o caso de serem avessos aos frescos, oferecer-lhos quando ainda estão com fome. Não o faço por não ser necessário. A fruta, adoram!


6. Fazer alternância de dias quando há vários filhos - argumentos como ser o mais novo ou o mais velho não são os mais justos. No meu caso, como são as duas da mesma idade, praticamos a alternância sempre, até para o dia em que cada uma escolhe a história para ouvir à noite.


7. Dar-lhes escolhas concretas - isto é, em vez de os deixar escolher totalmente à vontade, dar-lhes duas ou três hipóteses concretas. Eles ficam na mesma com a sensação de que escolhem, mas é uma escolha controlada. Lá em casa, por enquanto, estas escolhas só se fazem nos acessórios, pois no vestuário ainda sou uma ditadora.


8. Deixá-los verem-nos a «adormecer» - mandar para a cama quando estamos a ver televisão ou no telemóvel pode parecer-lhes um contrasenso. Ultimamente, tenho argumentado que me vou deitar logo a seguir, baixo as luzes e faço silêncio nos primeiros momentos*.

*E mais uma coisa de que falarei daqui a uns tempos. 


Nota: Ideias retiradas daqui.

10 de março de 2020

O coronavírus, pelo matemático Jorge Buescu


(Editado, com os meus cortes e acrescentos entre parênteses retos e a bold.)

«Evitei até hoje pronunciar-me sobre este assunto; mas chegados à situação actual, acho que  é uma questão de serviço cívico enquanto matemático.

Este gráfico [...], que consta de um site de Johns Hopkins que acompanha a situação do coronavirus em tempo real [...], compara o número de infecções por coronavírus na China (laranja) e resto do Mundo (amarelo) com os casos de recuperação. À data de hoje (1/3/2020) há 42.600 recuperados, de um total de 87.000 casos identificados. Devemos ficar preocupados? Não, pelo contrário. Devemos ficar muito tranquilizados. Note-se que a curva dos recuperados acompanha perfeitamente a das infecções, com um tempo de latência de 3-4 semanas. O número de recuperados hoje, 1/3/2020, é igual ao total de infectados em todo o Mundo em 10/2/2020. A taxa de recuperação para os casos de infecção registados em Fevereiro é superior a 99%.

Para ganhar sensibilidade para a evolução da doença, transcrevo os números em bruto. I é o número de infectados, R de recuperados.
22 Jan: I = 547, R=28
29 Jan: I = 7.700, R=133
5 Fev: I= 20.000, R= 1.100
12 Fev: I=50.200, R= 5.200
19 Fev: I=75.700, R= 16.100
26 Fev: I=81.000, R= 30.400
1 Mar: I=87.000, R=42.600
[10 Mar: I= 114.544, R=64.034]

Ou seja, em Janeiro quase não havia recuperados; hoje mais de metade do total de infectados já recuperou. Num mês, o número de recuperados cresceu por um factor de 300. Curiosamente, nunca vi estes números referidos na imprensa, mais preocupada com visões do apocalipse.

Estamos pois a braços de uma virose essencialmente inócua (mais pormenores abaixo), com um período de recuperação de 3-4 semanas, após o qual, de acordo com os melhores números actuais, 99,3% dos infectados recuperam sem complicações.

Do ponto de vista da saúde pública, a questão colocada pelo nCOVID-19 é apenas a sua elevadíssima taxa de contágio. A OMS estima um valor de R_0, grandeza que nos modelos matemáticos SIR (Susceptíveis-Infectados-Recuperados) determina a taxa de propagação exponencial, de 2,3. Para comparação, a gripe sazonal tem R_0=1.3, propagando-se de forma muito mais lenta. [...]

Por outro lado, os números mostram que se trata de uma virose essencialmente inócua: o período de recuperação é de 3-4 semanas, após o qual 99,3% dos infectados estão recuperados. A estimativa actual da OMS para a taxa de mortalidade para casos surgidos depois de 1 de Fevereiro, portanto depois do surto inicial, é actualmente de 0,7%. Esta é mais baixa do que a da gripe sazonal, que é de 1%. Como termo de comparação, o vírus Ébola tem uma taxa de mortalidade próxima dos 50%.

A virose em si não é complicada; um dos maiores virologistas espanhóis e Presidente da Sociedade Espanhola de Virologia, José Antonio Lopez Guerrero, descreve-o como “mais do que um catarro, menos do que uma gripe”. 80% dos casos são assintomáticos ou têm sintomas muito leves. Apenas em 5% dos casos existem complicações graves, na sua grande maioria em grupos de risco: por exemplo, pessoas com bronquites crónicas, DPOC ou sistema imunitário estruturalmente enfraquecido como doentes oncológicos. São essas pessoas que podem estar em perigo – tal como estariam, com o mesmo nível de risco, se contraíssem uma gripe comum.

O coronavírus já está em Portugal, isso é uma inevitabilidade cósmica. Isso é preocupante? Não particularmente, a menos que se pertença ou se esteja em contacto próximo com um grupo de risco. Como descrevi acima, ele é menos perigoso do que uma gripe. Mas, tal como alguém com uma gripe toma precauções para não a passar, também aqui essas precauções devem ser tomadas, de forma mais drástica divido à altíssima taxa de contágio. 

Se o coronavírus servir para implantar socialmente comportamentos como lavar mãos frequentemente ou não espirrar para o ar, tanto melhor. Podemos ter de cancelar algumas viagens de avião, como aconteceu comigo, mas vamos viver a vida normalmente. De resto, não há qualquer motivo para pânico ou sentimentos de apocalipse, apesar da desinformação constante e do alarmismo mediático a que assistimos diariamente – esse sim, o mais perigoso vírus de toda esta história.»

6 de março de 2020

Coisas de meninas

Sempre disse que evitaria ao máximo que as minhas filhas se agarrassem ao cor-de-rosa, e aos brilhantes e pirosadas do género. Que fossem como eu, no fundo. Mas elas são crianças, e há coisas que não conseguimos contornar.

Hoje, tinha esta surpresa na secretária, coisinhas de menina trazidas por um colega. Batons, vernizes e sombras para crianças, bolsinhas. Os vernizes e as sombras vou tentar guardar para bem mais tarde, mas os batons sei que vão adorar, até porque me veem a pôr batom todos os dias e estes não têm praticamente cor.

Desde que sou Mãe que tenho engolido muitas das coisas que dizia.

4 de março de 2020

Marcar férias

Hoje em dia marcar férias para agosto é uma verdadeira dor de cabeça, sobretudo com duas crianças que exigem que seja um apartamento com dois quartos, que haja uma piscina para se entreterem de manhã e que a praia seja perto.

Se calhar é pedir muito, mas a verdade é que já perdi a conta às horas que gastei a fazer pesquisas, quase todas a devolverem-me resultados que exigem o pagamento de entre dois  e três mil euros por apenas sete noites. Finalmente, lá consegui, prescindindo da praia walking distance.

Marcar férias em agosto no Algarve é bem mais difícil do que marcar uma semana em Nova Iorque. Já contando com os voos e o hotel.