30 de junho de 2008

Rostos hazaras

«Representando cerca de um quinto da população do Afeganistão, há muito que os hazaras são considerados forasteiros. São maioritariamente muçulmanos xiitas num país de maioria esmagadora muçulmana sunita. Têm fama de trabalhadores, mas reservam-lhes os empregos mais indesejáveis. As suas feições asiáticas marginalizaram-nos numa casta inferior e a sua alegada inferioridade é tão frequentemente recordada que alguns a aceitam como verídica. Os talibãs no poder – sobretudo sunitas fundamentalistas, da etnia pastum – consideravam os hazaras infiéis. Não tinham o aspecto morfológico que um afegão deveria ter, nem prestavam culto como um muçulmano deveria prestar. (...) Chegou então o dia 11 de Setembro de 2001, tragédia noutras paragens que pareceu trazer consigo a salvação para o povo hazara. Seis anos volvidos sobre a queda dos talibãs, ainda restam cicatrizes na pátria dos hazaras, mas existe uma sensação de viabilidade, impensável há uma década. Actualmente, a região é uma das mais seguras do Afeganistão e está em grande parte livre dos campos de papoila que prevalecem noutras regiões e alimentam o tráfico de droga. (...) Numa altura em que o país faz esforços para se reconstruir após décadas de guerra civil, muitos acreditam que Hazarajat poderia ser um modelo do que é possível, não só para os hazaras, mas para todos os afegãos.»

National Geographic, Fevereiro de 2008

Há muito tempo que não me surpreendia com rostos tão belos assim (fotos de Steve McCurry):

Ali Aqa, 15 anos.

Hatika, 11 anos.

Torpekai, 12 anos.

Fiza, 12 anos.

27 de junho de 2008

Desistir de um livro

É algo que detesto, que me rói por dentro, que me traz sentimentos de culpa e cuja decisão arrasto durante dias a fio. Inicio a leitura cheia de entusiasmo, à segunda página começo a ter dificuldade em concentrar-me, são palavras que desconheço, frases que preciso de ler duas vezes, parágrafos de que me esqueço no parágrafo seguinte. Depois salto umas páginas só para espreitar, para ver se a coisa evolui de outro modo. Até que, apesar de muita insistência, dou por mim sem aquela vontade de me ir deitar cedo para ler, algo que todos os bons leitores compreendem perfeitamente. Porque o que me espera na mesa de cabeceira não me chama e não me prende.

Hoje desisto do Diário mínimo, de Umberto Eco. Ainda por cima, é um autor de que gosto, de quem já li quase todos os romances. E, mais por cima ainda, com ganância comprei também logo o Segundo diário mínimo, que assim vai ficar eternamente na prateleira dos não lidos... Das crónicas de costumes, gostei apenas de uma ou duas, e entendi de facto apenas três ou quatro. Deplorável.

Antigamente, insistia e insistia, e lia até ao fim mesmo com grande sacrifício. Hoje, insisto durante uns dias e depois desisto. Daqui a uns tempos, se não gostar da primeira página, passarei logo ao livro seguinte.

Segundo o meu pai, mudanças advindas do avanço na idade, de não querer perder tempo em algo que não nos prende quando há tanta coisa interessante à nossa espera.

Já hoje...

... voltei ao normal:

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25 de junho de 2008

Follow-up

Só para os muito curiosos - Relatório do auto de recepção da minha casa nova:

- Cozinha: afinar o tic-tac por cima do exaustor e abertura do exaustor + vista da bancada com mancha (união das pedras) + falta torneira do corte de gás + porta da cozinha com quina danificada e com falha no lacado em baixo

- Hall: óculo da porta de patim está torto + porta de patim com pequena folga (afinar) + porta de patim com pequena lasca no lacado (canto inferior direito - interior)

- Pátio: ripa partida (3.ª fila)

E pronto, agora é só esperar pelas correcções, receber a chave e começar a pôr lá tralha. E, depois da escritura, parede abaixo!, para pôr a decoração em marcha.

23 de junho de 2008

Em contagem decrescente

É amanhã que, embora ainda sem chave própria, vou abrir a porta da minha futura nova casa e verificar se está tudo em ordem.

Just in case, levo o meu maninho comigo, para verificar paredes e vidros, portas e rodapés, madeiras e soalhos. Estou exigente.

21 de junho de 2008

O dia mais longo

Tem anoitecido tarde nos últimos dias, e às 10h da noite ainda se vê luz do dia. Mas hoje vai anoitecer mais tarde ainda. Porque é hoje, aqui no hemisfério norte, que se dá o solstício de Verão, um dos dois dias do ano em que o Sol se encontra mais afastado, em latitude, da linha do equador (o outro é no solstício de Inverno, a 21 de Dezembro, a noite mais longa).

O solstício de Verão marca também o início de uma das estações mais aguardadas, pelo significado de descanso que tem. O Google dá-lhe assim as boas vindas, com uma imagem que evoca claramente longos fins de tarde na praia:

O que acabo de ler - Um homem bom é difícil de encontrar, de Flannery O'Connor:

São 10 contos um pouco estranhos, todos passados na América sulista dos anos 40-50. Apesar de a crítica os classificar como assombrosos e inesperados, obras-primas imprevisíveis ao estilo de Kafka, a mim não me surpreenderam assim tanto. Sim, há finais improváveis, mas a meio do conto eu já os previa. Não achei assim tão fantástico, mas gostei de «O preto artificial», «A gente sã do campo» e «A pessoa deslocada».

20 de junho de 2008

I'm in

E tudo graças às instruções via telefone do meu maninho. Depois de a máquina nem sequer me deixar fazer backups de tudo o que tem lá dentro antes de a levar para o técnico, e já com o desespero em níveis altos, através do Modo de Segurança e de muitos F5, F11, F65, F367... lá consegui que ela me obedecesse, que fizesse um update do antivírus e que matasse os bichos (sim, eram dois). Recomeço da actividade bloguista em breve.

18 de junho de 2008

I'm out

E tudo por causa dos malditos vírus. Parece que entrou pelo menos um no meu computador de casa, portanto para aceder à net só na empresa... E como tempo não abunda por aqui, a actualização do blog terá de ficar para quando o computador já não estiver constipado...

14 de junho de 2008

Bacoco...

per... é quando uma mulher que se gaba de nunca ter lido um livro na vida já vai no lançamento do seu segundo título. Depois da autobiografia Learning To Fly (que deve ser interessantíssima, com imensas coisas importantes para contar...), temos agora Aquele pedacinho a mais (tradução de That Extra Half an Inch), da Esfera do Caos, em que a ex-Spice actual senhora Beckham conta os seus segredos acerca de como ter estilo e classe, que sapatos usar em que ocasiões, o que vestir para levar os miúdos à escola. Por €29,90, a menina partilha com todas as interessadas como ter uma vida cheia... de futilidade. Que gira que ela é:


Sono...

... mais precisamente, falta dele. Pois, desde há 15 dias (mais ou menos desde a operação) que não durmo como dormia antes. No início pensei que fosse por falta de rotina, uma vez que, dormindo sempre um bocado à tarde, era inevitável que depois a noite não fosse a mesma. Mas já se passou uma série de tempo e continuo na mesma. Não durmo à tarde, à noite estou cansada e adormeço rapidamente, mas passo a noite cheia de sonhos bizarros e acordo cedíssimo a ouvir os carros a começar a passar e a cidade a despertar. Eu, que precisava de uma hora de despertador para me levantar, agora antes das 8h já não prego olho... Espero que seja apenas um efeito do calor.

O que acabo de ler - Uma pequena história do mundo, de Ernst H. Gombrich:

Do tempo dos dinossauros ao final da II Guerra Mundial e à bomba atómica, Gombrich relata de modo didáctico e carinhoso a história do mundo, como se a contasse a uma criança. Sem dar grande ênfase a datas, dá uma visão geral de tudo o que aconteceu, com opinião mas sensata e muito humana. Por cá, temos a versão As origens de Portugal - História contada a uma criança, que Rómulo de Carvalho escreveu e ilustrou para o filho. Também a não perder, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

13 de junho de 2008

10 de junho de 2008

Histórias de semáforos

Li algures que, na Suécia, querem fazer uma mudança nos semáforos para peões. Assim, em vez de vermos um «homenzinho» verde a andar e outro vermelho a andar consoante se pode atravessar ou não a rua, querem substituir um deles por uma «mulherzinha». Resta saber qual, se o passivo se o activo. Por mim, acho simplesmente ridículo. Se se quer defender a igualdade de direitos, há por aí tantas outras coisas por fazer...

E por falar em semáforos, os mais engraçados que vi até hoje foi no centro de Berlim. Esses sim, com história.

Os Ampelmännchen representam um cavalheiro de chapéu muito apressado a andar ou parado de braços abertos. Eram os semáforos utilizados em Berlim Leste, criados em 1961 para segurança ao atravessar as ruas numa época em que o número de automóveis aumentou. A ideia era ser uma figura simpática para as crianças e facilmente identificável pelos mais velhos. Com o fim da Cortina de Ferro e com a reunificação, as autoridades quiseram substituir os semáforos de Berlim Leste pelas figuras mais estilizadas e «magrinhas», mas a população opôs-se ao fim de um símbolo da sua identidade. Hoje, mesmo em muitas zonas da antiga Berlim Ocidental, quando um semáforo se avaria é substituído por um Ampelmännchen.

Por todo o lado, se vende merchandising com a engraçada figurinha. Eu comprei dois pins, que ficam o máximo no meu casaco de ganga.

8 de junho de 2008

Fabrico próprio - O design da pastelaria industrial portuguesa

Um tópico especial para os gulosos, mas daqueles que, como eu, gostam de coisas muito muito doces. (Não, Mary, tu é mais chocolate, este é mais para o meu pai, que se pela por um bom bolo de pastelaria...). Ideia tirada do blog da minha prima: http://tropismos.blogspot.com/.

Então do que se trata? De um site que é sobre um livro que é sobre bolos. Isto é, de design de bolos... dos da pastelaria tradicional portuguesa. Não os doces conventuais, não os doces típicos, mas os bolos que vemos todos os dias, aqueles que todos temos um preferido, aqueles que provêm do chamado «fabrico próprio» de tantas pastelarias. O livro é carito, mas deve ser um prazer folheá-lo. Enquanto não o compro, vou consultando as fotografias dos mais de 60 referidos. Consultem o site na barra lateral, «Todos os bolos»: http://www.fabricoproprio.net/.

Os preferidos da minha infância - guardanapo e caracol:



Os preferidos de hoje e sempre: bola de berlim (de preferência com creme) e palmier:



Os preferidos do meu pai - pastel de nata (1 por cada dentada) e duchesse:



Bom apetite.

7 de junho de 2008

Paixão por casas (Le Corbusier, cités radieuses)

Gosto de casas, sobretudo de apartamentos. Isto é, de as conhecer. Não que seja daquelas pessoas que aos fins-de-semana vai ver casas só porque sim. Aliás, a última vez que fiz isso acabei com uma casa comprada. Mas gosto de conhecer casas de pessoas, mobiladas e já com alma.

Tantas e tantas vezes, vou na rua, olho para uma janela e quase tenho vontade de tocar à campainha para lá ir espreitar. Então quando ando em viagem a vontade é ainda maior. Porque adorava ter entrado em dezenas de apartamentos em Berlim, em Barcelona, em Moscovo, em Veneza. Na impossibilidade de lá entrar, folheio revistas de decoração e de arquitectura, e tenho uma série de livros só sobre apartamentos.

E, hoje de manhã, fui ao CCB ver uma exposição sobre Le Corbusier (1887-1965), por muitos considerado o maior arquitecto do século XX. Não sei se terá sido o maior, mas pelo menos um dos mais versáteis foi de certeza. Dele, vi pintura, escultura, mobiliário, papel de parede, capas de livros e de revistas, igrejas, pavilhões, sedes de instituições, casas e, claro, prédios de apartamentos.

Os que mais me impressionaram, pelo carácter funcional, foram as diversas unités d’habitation que projectou para Marselha (a mais conhecida), Rezé-Nantes, Berlim, Briey en Forêt e Firminy. As unités d’habitation, construídas após a II Guerra Mundial, são também chamadas de cités radieuses (por o conceito ser essencialmente o de concentrar uma pequena cidade em altura, com todos os serviços essenciais num mesmo bloco).

Para dar uma ideia, ao nível do rés-do-chão há apenas grandes pilares, para que a circulação se faça como se ali não houvesse qualquer edifício. A entrada para o bloco é feita pelos extremos. A cada x andares, há 1 ou 2 exclusivamente dedicados a comércio (mercearia, talho, cabeleireiro, padaria), acessíveis através de «ruas aéreas». No terraço, a cerca de 16 andares de altura, há uma piscina para crianças e um jardim infantil.

E as casas? Ah, pois, as casas… Nada de fantástico a nível de dimensões, nada do que se vê hoje com salas de 30 e 40 m2. Mas tudo extremamente funcional, com um aproveitamento do espaço incrível e muito eficiente (concebido para corpos humanos com 1,83 m). Desenhados como «garrafas numa garrafeira», isto é, construídos ao comprido e abarcando o edifício nas suas duas frentes (o que facilita a ventilação), cada apartamento tem dois pisos com cerca de 24 m de comprimento por 4 m de largura. Fora dos apartamentos, corredores escuros para desincentivar a «conversa» (o que poderia incomodar com o barulho) e portas de entrada muito bem iluminadas. Lá dentro, cozinha americana com triturador de lixo no lava-louças, fogão eléctrico e conduta de lixo (atenção, estávamos nos anos 50!). Ainda no andar de baixo, sala com pé direito elevado junto à janela, que comunica com o andar de cima. Lá em cima, os quartos. O das crianças, dividido ao meio por uma porta deslizante que une ou divide as áreas. Aberta, proporciona um espaço comum. Fechado, tem uma ardósia para escrever na parede.

Para quem quiser experimentar uma visita virtual, espreite http://maisonradieuse.org/visiter/visiter.html. Para ver fotografias, aqui: http://www.villes-en-france.org/histoire/Corbu13.html.
Vale bem a pena.

Que estranho...

... não sinto a euforia do Euro! Se calhar sou uma portuguesa desnaturada, mas acho que com tanta euforia colectiva estou a criar anticorpos!


6 de junho de 2008

Curiosidade sobre os dias da semana

Descobri que os nomes de alguns dias da semana (não como os dizemos, mas como dizem os espanhóis, os franceses ou os ingleses) estão ligados aos nomes dos planetas e astros que os babilónios conheciam. Veja-se:

- Lunes / Lundi - Lua (ou Monday - Moon)
- Martes / Mardi - Marte
- Miércoles / Mercredi - Mercúrio
- Jueves / Jeudi - Júpiter
- Viernes / Vendredi - Vénus
- Saturday - Saturno
- Sunday - Sol

Fonte: Uma pequena história do mundo, de Ernst H. Gombrich - tal como o nome indica, uma pequena história do mundo, escrita em linguagem muito simples e altamente recomendável. Felizmente, ainda vou na pág. 70, na antiga Grécia, e ainda tenho muito para aprender.

4 de junho de 2008

Afinal há justiça

Não escrevo isto por ser do Sporting, a sério. Mas o que e facto é que fiquei muito contente pelo facto de a comissão de disciplina da UEFA ter decidido suspender o FC Porto da Liga dos Campeões durante um ano. Porque, pela primeira vez desde há muitos anos, este clube e, sobretudo, os seus dirigentes, é verdadeiramente penalizado por tentativas de corrupção que toda a gente conhecia mas que ninguém tinha coragem de penalizar. E, seja o FCP, seja o SLB, seja o SCP, que isto sirva de exemplo - sobretudo agora em clima de Euro - para mostrar que as regras são para se cumprir e que jogos ganhos limpos terão com certeza outro sabor.

2 de junho de 2008

De negro por YSL

Não costumo ligar muito a estas coisas, mas foi com pena que soube hoje da morte do criador Yves Saint Laurent. Porque era excêntrico e atrevido, porque levou pela primeira vez mulheres negras para a passerelle, porque não teve medo de assumir a sua homossexualidade, porque deu um novo papel às mulheres no mundo da moda, nomedamente com a versão feminina do smoking e com a utilização das transparências. E porque, só agora recordo algo que estava bem guardadinho lá no fundo da memória, foi a personalidade que escolhi para um dos primeiros trabalhos de Educação Visual que fiz algures no 3.º Ciclo.


To be beautiful, all a woman needs is a black pullover and a black skirt and to be arm in arm with a man she loves. - YSL

1 de junho de 2008

Ao Hospital dos Capuchos, muito obrigada

E confirmo a opinião que já tinha de que é melhor um hospital público com quartos modestos e fracas casas de banho mas com uma excelente equipa médica, do que um hospital privado (ou semi) com quartos e casas de banho de hotel mas com uma equipa desumanizada.

No velhinho Hospital dos Capuchos – Centro Hospitalar de Lisboa Central (que, sublinhe-se, ficou num justificado 1.º lugar no ranking dos hospitais portugueses no que diz respeito às doenças do aparelho ocular), estive 3 dias em que fui muitíssimo bem tratada. Pelas enfermeiras, constantemente atentas e disponíveis para todos os doentes. Pelas auxiliares de enfermagem, sempre cuidadosas e carinhosas. Pela equipa de anestesistas, empenhada em explicar todos os procedimentos para dissipar dúvidas e acalmar os internados. E, claro, pelo excepcional cirurgião que é o dr. Francisco Loureiro, cujo único defeito é não conseguir chegar a horas a lado algum…

Desses 3 dias, ficam-me na memória as vozes doces a perguntar se preciso de alguma coisa, uma mão no bloco operatório a fazer-me festinhas na cabeça, alguém e desejar-me bons sonhos, e depois uma quantidade imensa de pessoal a ir ter comigo para saber se tudo tinha corrido bem.

Amanhã, vou a uma consulta de verificação. Hoje, antes de mais nada, quero dizer a todos: MUITO OBRIGADA. Se soubesse que ficar internada era assim, recomendá-lo-ia a qualquer um…

Para que não restem dúvidas, título da Sábado, 08.11.2007: