28 de novembro de 2008

Outras profissões que não me importava de ter

Porque adoro ser editora, mas porque também gostaria de ser muitas outras coisas, não me importava de:

- ser tratadora de animais num parque – passar o dia rodeada por eles, selvagens ou mais pacíficos, preocupar-me com o seu bem-estar, com a sua alimentação, com o estudo dos seus comportamentos;

- ser jardineira – ter como grandes preocupações a chuva e o sol, o frio e o calor, o vento e a geada. Sentir o cheiro da terra molhada, da relva acabada de cortar, ter os braços arranhados por ramagens;

- ser curadora de um museu – pesquisar e conhecer ao pormenor todas as peças, catalogá-las, torná-las atraentes e perceptíveis para quem as visita;

- ser arquitecta – talvez seja herança de família, sonhar com casas imaginárias e concretizá-las, poder entrar em espaços criados por mim, ver crescer edifícios rasgados saídos do meu papel;

- ser pet-sitter – ter um molho de chaves de casas diferentes, passar os dias a passear cães, a falar com gatos, a alimentar os periquitos e as tartarugas.

3-3. Três profissões ao ar livre vs. três profissões em espaços fechados. Não sei quais ganham. Mas sei que se um dia tivesse de fazer reboot não me atrapalharia.

26 de novembro de 2008

Distracção?

Será possível andar tão distraída, tão a pensar noutras coisas, tão com a cabeça cheia de hipóteses e de encruzilhadas, que até me engano no caminho para casa? Pior é quando um «pequeno» engano destes me obriga a atravessar para lá e para cá uma ponte com quase 20 km, a passar o rio num dos seus troços mais largos, a gastar um balúrdio em portagem e a chegar a casa 3/4 de hora depois.

Fotografia de Dora Lopes.

24 de novembro de 2008

And here we go again...

... pelo menos mais 2 dias para levantar parte do chão e colocar de novo. Porque só depois disto é que se pode aplicar o papel de parede. E só depois colocar o sofá e a mesa. E só depois a estante. E só depois as luzes. Será que entro em 2009 com a casa habitável?

17 de novembro de 2008

Tréguas

Já aqui falei várias vezes de Paul Auster, um dos meus escritores preferidos. Só nunca contei que um dia me zanguei com ele. Há já uns anos, quando esteve em Lisboa a dar umas conferências e a lançar um livro, já não me lembro qual. Depois de horas à espera na Fnac Chiado, só para o ouvir falar, chegou com o editor (na altura, o Manuel Valente) que transmitiu que o autor estava demasiado cansado para falar e que só iria dar autógrafos. Tinha feito uma palestra no dia anterior na Culturgest, e pareceu-me que não estava para mais conversas. Fiquei fula. Mas continuei a comprar e a gostar dos livros na mesma.

Foi assim com um certo cepticismo que fui ontem à Fnac do Cascaishopping com o mesmo propósito. Conferência às 15h. Pelas 15h10, informação de que o autor estava atrasado. Pelas 15h20, a mesma coisa. E eu a começar a ferver. Mas então lá apareceu. Alto, vestido de escuro, tal como eu o imaginava. Começando por dizer que só tinha sido informado da conferência às 12h. Medo. Mas o gelo lá se quebrou, só que a conferência seria à base das perguntas da audiência. Primeiro o silêncio da vergonha, depois lá arrancámos. E lá lhe perguntei sobre a experiência como realizador (por acaso, sobre um filme de que não gostei). E Paul Auster tornou-se de repente humano, com piadas, com desejos, com sonhos, com simpatia. Mais 5 ou 6 perguntas e a conversa esmoreceu. Até que arranjei coragem para o confrontar com uma dúvida que me assolava há muito: a grande semelhança entre um dos livros da sua mulher (Siri Hustvedt) e o seu próprio estilo - as histórias dentro da história. Negou, julgo que ficou incomodado, e se calhar até fui eu que fui injusta, afinal só li um livro dela, e dos mais antigos, e parece que hoje já não é assim.

Mas tirei a barriga de misérias. E fiz as pazes com ele. Mesmo que ele não as tenha feito comigo. Porque não sabia que precisava de o fazer.

15 de novembro de 2008

«'cause I'll never be with you»

De manhã gosto sempre de ouvir música na rádio, nos 20 ou 30m minutos que demoro até à empresa. Aliás, é a única altura em que ouço rádio, na ida e na volta. Mas raras vezes presto grande atenção às letras das músicas que ouço. Ou só ouço a melodia, ou só ouço o refrão, ou se me parecem muito lamechas vão-me passando ao lado. Mas esta semana, vá-se lá saber porquê, prestei atenção a uma letra de James Blunt, «You´re beautiful». E só agora percebi que relata um encontro «visual» de circunstância no metro, com uma pessoa que poderia trazer todas as possibilidades do mundo mas que não se voltará a repetir.



E de repente recordo muito claramente uma vez em que o mesmo me aconteceu. Há pouco mais de um ano, num regresso de Ponta Delgada, no vaivém cheio de gente do avião para o aeroporto, uma troca de olhares, a partilha de um momento, eu, ele, umas calças de ganga, um blusão, lembro-me bem de como estava vestido. De ainda nos vermos mais uma vez no tapete das bagagens, e depois o vazio, sabendo que ali poderia estar tudo. E a certeza de que o mesmo encontro nunca se repetiria.

Tal como na canção, «'cause I'll never be with you». Tenho pena.

12 de novembro de 2008

A sétima porta, de Richard Zimler

Quando pensava na II Guerra Mundial (tema que sempre me interessou pela minha incompreensão para com ele), pensava essencialmente no «durante», nos horrores do Holocausto, nos campos de concentração, nas valas comuns, nas caras famintas e sem expressão dos que eram transportados para Auschwitz, Buchenwald, Sachsenhausen e tantos outros campos «de trabalho». E pensava também essencialmente no povo judeu, implacavelmente perseguido.

Mas houve também um «antes» e um «depois», e muitas outras vítimas não judias de que muitos nem nos apercebemos. Em A Sétima Porta, de Richard Zimler, conheci a história de Sophie, uma rapariga de 15 anos em 1932, um ano antes de Hitler ser nomeado chanceler da Alemanha. Sophie vive em Berlim e tem um pai comunista, uma mãe católica e um irmão «parado» (autista, nos nossos dias). Não são judeus, mas Sophie tem muitos amigos judeus e vive também rodeada de outras personagens menos ortodoxas: uma amiga que sofre de gigantismo, dois anões, dois surdos, um cego.

Ao longo dos anos, vamos assistindo às manobras cada vez mais insinuantes do partido nacional-socialista, com o objectivo de banir o povo judaico e todos os seus vestígios da sociedade. Como cúmulo, na Noite de Cristal, depois de arianos terem destruído milhares de lojas judaicas, os judeus são obrigados a pagar multas pela destruição das suas próprias posses. Também os deficientes são perseguidos, a maioria dos quais esterilizados para não «sujarem» a raça ariana.

Ao longo dos anos, cada personagem tenta adaptar-se às novas circunstâncias, umas continuando a lutar até ao fim, outras «mudando de equipa» à medida que a conjuntura se vai alterando. Algumas personagens surpreendem-nos, outras nem por isso.

Finda a guerra, a vida de Sophie já deu voltas que grande parte das nossas vidas nunca darão. E ainda bem. Terminado o livro, chego a uma conclusão que poucos livros me mostram: que sorte que tenho de ter nascido neste tempo e neste lugar.

11 de novembro de 2008

Quem diz a verdade não merece castigo?

Hoje vi pela primeira vez uma emissão completa de O Momento da Verdade, apresentado por Teresa Guilherme. Já tinha ouvido falar, até já tinha assistido a uma ou duas perguntas, mas hoje tive a dose completa. Isto porque esta mulher que...

- ... fez parte de um bando e esteve em casas de correcção;

- ... confessa nunca ter amado um homem e ter destruído pelo menos um casamento;

- ... disse ao pai da sua filha que não queria continuar com ele quando ele a visitou na maternidade;

- ... chama «bruxa» à mãe;

- ... deixou a filha para ser criada pela mãe até aos 7 anos e depois recorreu à polícia para a ir buscar;

- ... internou a filha num colégio interno;

... acabou por ganhar €250.000. Porque respondeu com a verdade a todas as perguntas que lhe fizeram . Enfim.

10 de novembro de 2008

Desvantagens de ser a primeira

Fui, e continuo a ser desde há cerca de um mês, a primeira e única habitante de um prédio com 32 apartamentos. E não tem sido nada fácil... Senão veja-se:

- durante as primeiras duas semanas, a água quente ia e vinha, e não raras vezes tive de tomar banho «à gato» (e vivam os Dodots). Lá descobri que o problema era da bomba que abastece o cilindro, e que era ligada diária e manualmente por um funcionário da obra. Ora, quando o sujeito se esquecia, quem ficava com água fria era eu. Arranjei agora uma solução de compromisso: sou eu mesma quem vai ligar a bomba todas as noites, durante cerca de uma hora. Com a agravante de, nos primeiros tempos, ter tido de ir à casa das máquinas (na garagem) às escuras e às apalpadelas;

- as escadas e zonas comuns estão um nojo, sempre com pó, sempre com pegadas, não fosse o meu edifício o último antes de se passar a outros em obras. Assim, ter a casa impecavelmente limpa é também uma utopia;

- o vendedor já não pode ver o meu número de telefone a tocar-lhe no telemóvel, mas não resisto, porque estou sempre a encontrar pequenos defeitos que, se houvesse outros vizinhos, seriam diluídos por mais gente. Assim, quem passa por chata sou mesmo só eu;

- e de vez em quando ainda tenho trolhas a passar por mim com um sorrisinho e um «Boa noite, tudo bem?». E o pior é que tenho mesmo de responder.

Estou a pensar em cobrar uma taxa aos meus futuros vizinhos, por todos os problemas que me vi obrigada a resolver-lhes quando eles ainda nem sabiam que existiam.

8 de novembro de 2008

Afinal sou TV dependente

Telejornais, ouço mas não vejo. Telenovelas, não vejo, só 15 ou 20 min. por semana quando janto em casa da minha mãe. Filmes, praticamente só no cinema. Séries, prefiro ver em DVD. Por isso, nunca pensei que a televisão me fizesse tanta falta.

Desde dia 18 de Outubro e até ontem vivi numa casa sem televisão nem Internet, num prédio onde para já sou a única habitante. Dei por mim a pôr no leitor de DVD séries que já tinha visto, só para me fazerem companhia enquanto fazia outras coisas. A estar em casa de amigos a olhar para a televisão só por olhar. A perder notícias, telenovelas, filmes e séries que noutra altura nunca me apeteceria ver.

Por isso hoje acho mesmo estranho que haja quem não tenha televisão em casa por opção. Porque esta foi mesmo uma caixinha que mudou o mundo. E porque no meu mundo fez muita falta durante estas 3 semanas.

I'm back

Quase dois meses depois dos meus tópicos regulares, espero agora voltar a sério à blogosfera.

E a Vespa mudou de cor, para vermelho. Para agradecer a persistência de quem me lê e esteve à espera tanto tempo e para agradecer às quase 3000 visitas que o blog entretanto teve enquanto eu estive off. No fundo, para que quem aqui volte a entrar perceba que estou on outra vez.

Mais tópicos muito em breve.