30 de julho de 2018

Declaração do meu Pai a um Querido Amigo

Acordámos cedo com o mesmo desejo. Encontrámo-nos logo no primeiro dia, na velha Faculdade de Ciências, na aula de Física Médica, e desde então estudámos, conversámos, rimos e discutimos. 

Completámos, faz hoje 42 anos, a nossa licenciatura. A nossa carreira académica foi em tudo semelhante. Eu sei o que tu sabias, tu sabias o que eu sei. Temos a mesma visão do mundo, seguimos os ensinamento do Prof Abel Salazar: «Médico que só sabe de Medicina, nem de Medicina sabe.» Cada qual na sua área ajudámos, posso dizê-lo, milhares de pessoas e nunca nos moveu objectivos financeiros.

As nossas vidas seguiram fisicamente separadas, mas unidas nos objectivos e corações.

Obrigado por teres entrado na minha vida e de muitos dos meus. Infelizmente não te posso agradecer pessoalmente.

Serás sempre, sempre, o meu Amigo
JOÃO FREDERICO

Nota minha:
O Dr. João, amigo de há mais de 40 anos do meu Pai (e mais tarde também da minha Mãe), foi a pessoa que há uns anos me salvou dos meus próprios pensamentos, antes e depois do nascimento das minhas filhas, quando o meu medo de morrer abafava a minha alegria de viver. Foi mais do que um psiquiatra, foi um amigo que se preocupava comigo mais do que muitos que tenho. Devo-lhe imenso, mais do que ele alguma vez possa suspeitar.
O Dr. João faz hoje 42 anos de curso.
O Dr. João faz hoje 66 anos de vida.
No dia 26 de abril, o Dr. João estava sozinho no seu consultório quando teve uma paragem cardiorrespiratória, estando mais de meia hora sem oxigenação cerebral. Desde aí, encontra-se numa espécie de coma, sem reagir a quaisquer estímulos. Não há esperança, dizem os colegas que o admiram mais do que todos. Mas eu, irracionalmente, acredito em milagres, e quando estou em casa acendo todos os dias uma vela por ele
O mundo precisa de si, Dr. João.
Um grande beijinho cheio de gratidão.

Desdicionário: Coisas lá de casa

  Convém ter um bom stock sempre à mão..
O que nos vale é que hoje os edredões são cada vez melhores.
Passa, passa, tem de passar! Dá um jeitinho que passa!


Sempre tive pena da tristeza dessa parte de trás...
Vá-se lá perceber porquê.
Uuuupppssss...
Há coisa mais irritante no silêncio da noite?


Já os ouvi tantas vezes atrás da porta à espera!


Embaraçoso.
No verão é durante toda a noite.
Tenho lá três destes.

27 de julho de 2018

Bazar no Parque - 2.ª edição

Amanhã, 2.ª edição, no Passeio do Adamastor, Parque das Nações, das 15h às 19h. Vou ter livros, roupa de criança, sandálias e mais meia dúzia de coisas. Tudo de 2,5€ a €20, com uma média de preços de 5€. Não percam! 

Desdicionário da Língua Portuguesa, de Luís Leal Miranda

Este livro é tão engraçado, tão engraçado que vou ter de publicar aqui vários tópicos sobre ele, porque de certeza que se vão identificar com muitas das situações. No fundo, é um dicionário de palavras que não existem. Mas que na realidade já existem, porque foram inventadas, porque fazem sentido e porque acabam por já estar dicionarizadas.

São «novas palavras novas», algumas já vindas da página do Facebook com o mesmo nome, mas que no livro ganham outra graça com o design de Maria João Carvalho e as ilustrações de José Cardoso. A ler de uma assentada, salteado, de trás para frente ou inventando mais umas quantas palavras novas.

25 de julho de 2018

A garrafa da Coca-Cola

Inconfundível, certo? Mas reparem como nada tem a ver com a garrafa original.

Anos das garrafas, por esta ordem: 1899, 1900, 1915, 1916, 1957, 1986.

24 de julho de 2018

O que os cegos estão sonhando?, de Noemi Jaffe

Este é um livro estranho, uma vez que não o consigo classificar num género. Não é um romance, não é um diário (apesar de também o ser), não é um livro de crónicas (apesar de ser um livro de reflexões). Mas todo ele parte de algo muito concreto que é o Holocausto.

Essencialmente, o livro está dividido em três partes: o diário de Lili Jaffe desde que foi levada para Auschwitz em abril de 1944 até à sua libertação em 1945; um conjunto de reflexões da filha com base nas entradas do diário; e o relato da neta quando visitou o campo em 2009.

O diário terá sido escrito já depois da libertação, uma vez que no campo não haveria condições para o fazer, e os registos são feitos numa linguagem muito crua, quase como se alguém de fora estivesse a descrever um filme. Com uma mãe que aprendeu a relativizar tudo depois do campo, Noemi escreve as suas reflexões a propósito do que a mãe registou: a raiva, a família, o frio, o desejo, o esquecimento, a fome, a dignidade, a humilhação, a memória. Por fim, a neta visita o campo, e aquilo que sente não deixa de nos surpreender, sobretudo vindo da descendente de uma sobrevivente viva do holocausto.

Um livro diferente que vale a pena ler.

18 de julho de 2018

A importância das horas de sono

Há dias irritei-me um pouco no Facebook, quando uma mãe de um grupo a que pertenço argumentava que eu devia ir a um determinado evento mesmo sacrificando a sesta das miúdas, defendendo que o importante era elas terem novas experiências, mesmo que depois ficassem birrentas. Disse ainda que tentava não se privar de nada por causa dos filhos, pois isso acabava por enriquecê-los.

Ora, eu penso precisamente o contrário. E privo-me de muitas coisas não «por causa» delas, mas «por» elas. Aos fins de semana, quando estão comigo todo o dia, as três horas a seguir ao almoço são horas mortas (eu aproveito para também descansar), e antes das 17h é difícil combinar alguma coisa. Agora no verão, ir à praia será quase um «toca-e-foge» ao final do dia. Ir jantar fora significa ir jantar no máximo às 19h30 ou antes, para conseguir que pelas 21h estejam na cama.

Porque a meu ver não haverá experiências que as enriqueçam se estiverem com sono. Ficam irritadiças, choram por tudo e por nada, eu fico estafada, todas perdemos. Para elas, como em geral para todas as crianças pequenas, as horas de sono são fundamentais, servindo para processar as aprendizagens e vivências que tiveram durante o dia. E quando falo de horas de sono, falo de horas de sono de qualidade, deitadas em ambiente tranquilo. Talvez seja por isso que «apanhem» tudo muito rapidamente e que estejam a desenvolver tão depressa o vocabulário. Porque enquanto estão reconfortadas, estão despertas e alerta para tudo o que as rodeia.

Num abrir e fechar de olhos as sestas serão menores, haverá trabalhos para fazer ao fim do dia, ir para a cama terá de ser mais tarde, e a vida encarregar-se-á de lhes proporcionar muitas experiências retirando-lhes algumas horas de descanso. Mas tudo a seu tempo.

17 de julho de 2018

O Livro dos Baltimore, de Joël Dicker

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Contra as minhas expectativas e contra outras opiniões que tinha lido, gostei menos deste livro do que de A verdade sobre o caso Harry Quebert.

Marcus Goldman, o mesmo protagonista e narrador do outro livro, a partir de um evento a que chama de o Drama, analisa a infância e a juventude que passou com os seus dois primos, Hillel e Woody. O fosso económico que dividia os Goldman de Baltimore e os Goldman de Montclair nunca separou os primos; antes, uniu-os.

Tudo nos de Baltimore parecia superior aos de Montclair: as casas que tinham, as profissões que exerciam, as atividades que praticavam. Com o passar dos anos, a vida foi ensinando que a prosperidade nem sempre traz felicidade, culminando em acontecimentos trágicos que, apesar de tudo, não estragaram a amizade fraterna.

Tal como no livro anterior, a escrita é bastante fluida, e as 500 e tal páginas leem-se rapidamente, mas não encontrei aquele toque diferente na narrativa.

13 de julho de 2018

12 de julho de 2018

Hora de inverno ou hora de verão? A escolha pode ser nossa

A pedido de muitas «famílias», a Comissão Europeia lançou uma consulta pública sobre as mudanças de hora semestrais, colocando-se a hipótese de a hora de verão se tornar definitiva.

O questionário está online e disponível nas 16 línguas da União Europeia para resposta até dia 16 de agosto. Depois de darmos a nossa opinião, devemos justificá-la, escolhendo se é por questões de saúde, poupança de energia, segurança rodoviária... Vamos aproveitar esta oportunidade.

11 de julho de 2018

Longe do mar, de Paulo Moura

Paulo Moura é jornalista e, em agosto de 2007, publicou uma série de reportagens no jornal Público sobre a Estrada Nacional 2, que atravessa Portugal de Chaves a Faro ao longo de mais de 700 km.

A história da EN2 é, acima de tudo, a história das suas pessoas, e um pretexto para conhecer um Portugal que já não existe e que mal suspeitávamos da sua existência.

Ficamos a conhecer Joaquina, que durante 20 anos viveu totalmente sozinha com a filha pequena na remota aldeia da Anta, só no fim do livro descobrindo o verdadeiro porquê deste isolamento. Recuamos 50 anos e vivemos o esplendor e a miséria de Tortosendo, onde a vida faustosa dos donos das fábricas de lanifícios contrastava com a de todos os que viviam em seu redor. Quase sentimos na pele a extrema pobreza, quando muitas vezes as refeições eram constituídas por uma panela de água quente com 4 feijões e meia batata, quando os havia. Somos apresentados a um ferreiro que ainda trabalha à moda antiga, casado com uma mulher que o ajuda e que aproveita cada intervalo para pôr a leitura em dia. E muitas coisas mais.

Um retrato que não é o de uma estrada mas o de um povo, cujas vidas coincidiam sobretudo na pobreza e na vida próxima daquela via de comunicação.

10 de julho de 2018

Desejem-me sorte

Hoje é o dia da minha ressonância magnética anual à região cardiotorácica. Vou sempre com um frio no estômago e um nó na garganta.



5 de julho de 2018

Crimes exemplares, de Max Aub

Totalmente negros, insólitos e divertidos são estes 87 crimes que Max Aub relata em microcontos na primeira pessoa. Crimes cometidos pelo(s) narrador(es) simplesmente porque sim, ou porque algo banal o(s) irritava, ou porque não havia mais nada fazer. Crimes que se contam na sua maioria em meia dúzia de linhas e alguns com que até nos conseguimos identificar.

Eis alguns exemplos:

«Matei-o porque me doía a cabeça. E ele, zás, falava sem parar, sem descanso, sobre coisas que nada me interessavam. E mesmo que me interessassem. Ainda olhei seis vezes ostensivamente para o relógio: não fez caso. Creio que é um atenuante a tomar em consideração.»

«De mim ninguém se ri. Pelo menos esse, já não volta a rir-se.»

«Íamos como sardinhas em lata e aquele homem era um porco. Cheirava mal. Todo ele cheirava mal, sobretudo os pés. Garanto-lhe que não se podia suportar. Além disso tinha o colarinho da camisa negro de sujidade e o pescoço ensebado. E olhava-me. Uma coisa asquerosa. Ainda quis mudar de lugar. Pode não acreditar, mas aquele indivíduo seguiu-me. Era um cheiro a demónios e pareceu-me ver sair bichos da sua boca. Talvez o tenha empurrado com um pouco de força a mais. Agora não me culpem pelas rodas do autocarro lhe terem passado por cima!»

« – Antes morta! – disse-me. E eu só quis fazer-lhe a vontade!»

«Matei-o porque tinha a certeza de que ninguém estava a ver.»

«Era tão feio, o pobre tipo que, cada vez que o encontrava, era como que um insulto. E tudo tem um limite.»