Totalmente negros, insólitos e divertidos são estes 87 crimes que Max Aub relata em microcontos na primeira pessoa. Crimes cometidos pelo(s) narrador(es) simplesmente porque sim, ou porque algo banal o(s) irritava, ou porque não havia mais nada fazer. Crimes que se contam na sua maioria em meia dúzia de linhas e alguns com que até nos conseguimos identificar.
Eis alguns exemplos:
«Matei-o porque me doía a cabeça. E ele, zás, falava sem parar, sem descanso, sobre coisas que nada me interessavam. E mesmo que me interessassem. Ainda olhei seis vezes ostensivamente para o relógio: não fez caso. Creio que é um atenuante a tomar em consideração.»
«De mim ninguém se ri. Pelo menos esse, já não volta a rir-se.»
«Íamos como sardinhas em lata e aquele homem era um porco. Cheirava mal. Todo ele cheirava mal, sobretudo os pés. Garanto-lhe que não se podia suportar. Além disso tinha o colarinho da camisa negro de sujidade e o pescoço ensebado. E olhava-me. Uma coisa asquerosa. Ainda quis mudar de lugar. Pode não acreditar, mas aquele indivíduo seguiu-me. Era um cheiro a demónios e pareceu-me ver sair bichos da sua boca. Talvez o tenha empurrado com um pouco de força a mais. Agora não me culpem pelas rodas do autocarro lhe terem passado por cima!»
« – Antes morta! – disse-me. E eu só quis fazer-lhe a vontade!»
«Matei-o porque tinha a certeza de que ninguém estava a ver.»
«Era tão feio, o pobre tipo que, cada vez que o encontrava, era como que um insulto. E tudo tem um limite.»
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