E de repente passei de 35 ºC para -23 ºC. Não fiz nenhuma viagem, não me enfiei no frigorífico, não andei em tratamentos de crioterapia. Fui ao cinema. Pelo realizador (Brad Anderson, o mesmo de O maquinista) e pelo elenco (com Ben Kingsley), fui ver Transiberiano. Excelente para quem, como eu, gosta de thrillers lentos, que nos enganam nas expetativas, que nos surpreendem quando já achamos que algo era impossível acontecer.
Um casal americano embarca no mítico Transiberiano de Pequim para Moscovo, após uma missão humanitária. Durante a viagem, têm como companheiros de cabine outro casal, mais novo, ela americana com um toque de gótico, ele hispânico. A certa altura, também temos Ben Kingsley, mais uma vez numa excelente interpretação, com olhares que só ele sabe fazer, na pele de um detetive da brigada de narcóticos russa. E mais não conto.
Mas posso falar do ambiente do filme. Da claustrofobia dentro do comboio, em que o espaço vital de cada um é tão pouco. Do contraste com as planícies geladas que o mesmo atravessa, e que nos deixam respirar um pouco apesar da desolação que transmitem. Da dureza e rudeza do povo russo (que pude comprovar em Moscovo há uns anos). Das estações escuras e confusas, onde não se encontra ninguém com vontade de nos conhecer. Do ritmo: criação de ambiente, início das suspeitas, clímax, desfecho inesperado. Das mentiras que enredam algumas das personagens. Das interpretações irrepreensíveis: Roy (Woody Harrelson), o marido dedicado, sempre otimista e fascinado por comboios; Jessie (Emily Mortimer), a mulher observadora e desconfiada que acaba ela própria por cair num jogo de mentiras; Carlos (Eduardo Noriega), o malandro provocador; Abby (Kate Mara), a rapariga calada com certamente algo para esconder; e Ben Kingsley.
Não é um filme com uma mortantade desenfreada. Nem de perseguições non-stop. É um filme cheio de tensão. Muito recomendável.
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