Já não sei muito bem através de que artimanha, mas alguém do Jornal de Letras deu-me o contacto do escritor. Lembro-me de estar no meu quarto, com o meu telefone vermelho (sim, eu tinha uma extensão do telefone lá de casa no meu quarto...), nervosa antes de marcar o número. Liguei-lhe para um fixo e João Aguiar logo se dispôs a receber-me em sua casa.
Era algures para os lados de Oeiras, recebeu-me numa sala com uma grande janela e muitos livros, e durante umas duas horas fiz-lhe perguntas sobre a sua escrita. De A voz dos deuses, o primeiro que li, até A encomendação das almas, num registo totalmente diferente. Um gato preto passeava pela casa, com um nome africano de que já não me recordo. João Aguiar recebeu-me com toda a humildade e com toda a simpatia, e respondeu-me a tudo o que lhe perguntei para um gravador ainda dos velhinhos.
Mais tarde, em Outubro de 2006, voltei a estar com ele num curso de escrita criativa, e por brincadeira levei-lhe uma cópia da «notícia» que sobre ele tinha escrito. Por essa altura já tinha lido tudo o que tinha publicado, e continuei a fazê-lo até hoje.
E digo até hoje porque hoje João Aguiar morreu. Com 66 anos, vítima de cancro. Morreu um dos escritores portugueses mais humildes e acessíveis, alguém sempre pronto para conversar e que não tinha medo de com outros partilhar as suas técnicas e as suas ideias.
Vou ter saudades.
1 comentário:
Excelente homenagem, que deixei passar... Não me esqueço que um dos livros que mais me marcou na adolescência foi «A Voz dos Deuses»! Amo!
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