Já tinha ouvido algumas coisas acerca do extermínio dos Romanov, mas sempre por alto, a propósito da revolução russa, e sempre assumindo que tinham sido fuzilados e pronto. Se é que isto se pode dizer assim.
Nas últimas duas semanas li Os últimos dias dos Romanov (recuso-me a colocar o s no plural como se refere no título da versão portuguesa, mas isso é outra conversa), de Helen Rappaport. Acompanhei de perto os seus últimos dias de cativeiro na Casa Ipatiev, em Ekaterinburg. Os dias que se sucediam praticamente sempre iguais e passados a rezar ou a jogar cartas, com tempo limitado para ir ao jardim, na total ignorância do que lá fora se passava. O avanço dos checos durante a I Guerra Mundial, a brutalidade de muitos bolcheviques, o apenas aparente alheamento de Lenine relativamente ao destino da família Romanov.
Durante três meses, 11 pessoas viveram fechadas na Casa Ipatiev: o czar Nicolau e a czarina Alexandra, as 4 filhas, o filho hemofílico e quatro acompanhantes (um médico e três criados). Até que, na noite de 16 para 17 de julho de 1918, todos foram conduzidos para a cave e brutalmente assassinados, de modo muito diferente do «simples» fuzilamento que sempre tinha imaginado. Depois, seguiram-se dois dias de frenesim na tentativa de esconder os corpos, alguns dos quais só em 2007 foram encontrados.
Helen Rappaport fez uma investigação profunda para recriar os últimos dias da família e bem sei que não pretendia fazer um retrato exaustivo do czar. No entanto, depois de ler o livro, fica-se com a ideia de que Nicolau foi apenas uma vítima, e não um antissemita também responsável por tantos massacres. Mas nada justificaria a chacina de uma família inteira (animais de estimação incluídos). Chacina essa que esta noite me tirou o sono e me proporcionou um valente pesadelo. Um livro não recomendável a mentes sensíveis. Mas recomendável a quem queira conhecer pelo menos uma parte da história do século XX.
PS: Impossível não referir a péssima revisão de que foi alvo este livro. Incomodativa, mesmo.
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