Montalegre é tão triste

Já alguma vez estiveram num local onde, a cada passo que deram e a cada coisa que viram, ficaram mais deprimidos? Eu julgava que isso só me aconteceria num bairro degradado ou clandestino como alguns que conheço, mas nos últimos dias aconteceu-me numa cidade inteira.

Chegámos a Montalegre pelas seis da tarde e deparámo-nos logo com um funeral na igreja junto ao castelo. Até aí tudo normal, os funerais fazem infelizmente parte da vida. Seguimos para o castelo, bonito mas a entrar em degradação. Depois, uma volta pelas ruas do centro. Quase todas as lojas fechadas por causa da hora adiantada mas também por estarem «mesmo» fechadas. Como se alguém um dia tivesse fechado as portas e deixado tudo tal como se voltasse no dia seguinte. Só que não voltou. As montras exibem artigos com a cor consumida pelo sol, coisas velhas, objetos que não interessam a ninguém. À porta, algumas lojistas com ar infeliz.

E arrancámos dali, por arruamentos claramente preparados para acolher uma população cinco ou seis vezes maior. Numa rotunda, fomos atraídos pela indicação para a pista automóvel de Montalegre, e fomos à procura. Quanto lá chegámos, encontrámos uma estrutura gigantesca mas praticamente ao abandono, com uma pequena parte a funcionar como kartódromo e o resto entregue ao crescimento das ervas daninhas. Pela primeira vez, andei a pé por uma pista automóvel, vazia e apenas com umas dezenas de altifalantes a debitar música para meia dúzia de pessoas. Surreal e deprimente.

De todos os locais de Portugal que conheço, acho que este era o último onde escolheria viver, desolado por dentro e tão longe de tudo. E que me desculpe se alguém de Montalegre me estiver a ler, mas saí de lá mesmo muito triste. Deve ser disto que se fala quando se fala de desertificação.

Castelo de Montalegre

Antigo stand da Rover

Isto foi o que senti enquanto lá estive

Circuito automóvel de Montalegre