27 de setembro de 2012

Fui à descoberta e encontrei


É evidente para quem me visita que adoro ler, que é uma das coisas de que muito dificilmente prescindiria. Mas tenho um grave gap na minha bagagem literária: a poesia. Para além das leituras obrigatórias que tive de fazer na escola, confesso que nunca me esforcei muito para gostar de poesia. Ou nunca tive ninguém que me mostrasse o que era.

Ontem tive um convite para ir ao lançamento da Poesia reunida de Maria do Rosário Pedreira, poetisa, editora no mesmo grupo editorial que eu e uma pessoa com quem simpatizo imenso apesar de termos trocado pouquíssimas palavras. E autora do blogue literário Horas extraordinárias, que visito quase todos os dias.

Ontem, na Ler Devagar, acho que pela primeira vez na minha vida ouvi atentamente a leitura de poesia. E gostei, muito. Acho que percebi que o meu problema é não saber ler poesia, nunca ter apanhado a cadência e o ritmo. E agora vou tentar aprender. A sério.

Vejam lá se este não é bonito. (Em caso de dúvida, ler em voz alta ou pedir a alguém para o fazer.)

Vamos ser velhos ao sol nos degraus
da casa; abrir a porta empenada de
tantos invernos e ver o frio soçobrar
no carvão das ruas; espreitar a horta
que o vizinho anda a tricotar e o vento
lhe desmancha de pirraça; deixar a

chaleira negra em redor do fogão para
um chá que nunca sabemos quando
será - porque a vida dos velhos é curta,
mas imensa; dizer as mesmas coisa
muitas vezes - por sermos velhos e por
serem verdade. Eu não quero ser velha

sozinha, mesmo ao sol, nem quero que
sejas velho com mais ninguém. Vamos
ser velhos juntos nos degraus da casa - 

se a chaleira apitar, sossega, vou lá eu; não
atravesses a rua por uma sombra amiga,
trago-te o chá e um chapéu quando voltar.

                   A ideia do fim, in Poesia reunida

PS: Mais tarde, depois de já ter escrito este texto, li mais uns quantos poemas e fiz alguns progressos. Um dia destes mostro mais.

9 comentários:

Alex disse...

Normalmente não ligo muito a poesia, porque acho que tem que se ler com espírito para isso. Tem que ser com calma e concentração. E aí sim, descobre-se a magia. Esse poema é lindo.

Vespinha disse...

Sim, muito bonito, e entretanto já descobri outros também lindos.

Anónimo disse...

muito bonito, mesmo!

MJ With Love disse...

Parece que não dá para ler livros de poesia, numa tarde no sofá. Parece que falta envolvermo-nos nos enredos, sentir com as personagens os medos, aqueles momentos de cortar a respiração...

Eu gosto de poesia, enfim, de alguma poesia, dos clássicos essencialmente, mas acho que precisamente porque me ensinaram a "lê-la" e a apreciá-la.

Também não me esforço para conhecer novos autores, novos textos de poesia. Preciso que alguém me indique o caminho.

Essencialmente penso que não dá para ter as mesmas expectativas em relação à prosa: não são melhores nem piores, são apenas diferentes.

Gostei muito de ler este poema que aqui deixaste e fez-me pensar neste último livro que li, que não sendo de poesia, fala também desta fase da vida (a velhice; a solidão). Refiro-me a "A máquina de fazer espanhóis" de Valter Hugo Mãe.

xo

Vespinha disse...

MJ, que curioso, ontem uma das pessoas que apresentou o livro da Maria do Rosário foi precisamente o Valter Hugo Mãe. :)

MJ With Love disse...

A sério? Que coincidência ter pensado nele quando li o poema e afinal ele esteve presente no lançamento do livro...

:)

xo

CAP CRÉUS disse...

Não me convences :-)
Não gosto, e o meu feitio não se coaduna com poesia :-)

ana b. disse...

Cara Vespinha, também estive no lançamento do livro da Maria do Rosário Pedreira. Que pena não nos termos conhecido. Estive com a Isabel e com o Courinha, ambos frequentadores do Horas Extraordinárias.
O livro é belíssimo, sem dúvida!

Vespinha disse...

Pois foi pena... Eu estive no psio de cima, num varandim. Tenho lido uns quantos poemas e vou gostando cada vez mais. :)