Eu demorei dois dias para conseguir pronunciar-me sobre o que aconteceu em Lisboa no dia 14. Porque as imagens proliferaram, as opiniões e os comentários também. Mas hoje mantenho a primeira impressão quando nesse dia cheguei a casa e liguei a televisão. E o que vi trouxe-me de imediato à memória três acontecimentos da história portuguesa recente:
- 1989 - no Terreiro do Paço, carga policial sobre polícias em protesto por direitos sindicais (que ficou conhecida como «secos e molhados»)
- 1992 - na Av. 5 de Outubro e na Assembleia da República, cargas policiais sobre estudantes em protesto contra o brutal aumento das propinas
- 1994 - na ponte 25 de Abril, carga policial sobre camionistas e a população em geral que protestavam contra o aumento das portagens na ponte
Elemento comum entre esses três acontecimentos e o de quarta-feira? Um senhor chamado Aníbal Cavaco Silva, que com uma real lata dizia ontem de manhã que ainda não tinha visto as imagens dos confrontos. Este país não precisa pessoas assim, ainda não percebeu?
Independentemente de ter havido fortes provocações à polícia, e de alegadamente estas terem sido feitas por elementos «estrangeiros», a verdade é que a praça estava cheia de cidadãos comuns. E que, se a tal «meia dúzia» de elementos agitadores estava identificada, devia ter sido de imediato neutralizada (afinal, vê-se claramente pelas imagens que eram os que estavam na linha da frente), de modo a proteger não só a polícia como também a população em geral.
Ainda quanto à atuação da polícia, sugiro a leitura deste artigo, para que cada um julgue por si.
8 comentários:
Aplaudo de pé este teu post. Anda tudo cheio de "medo" de dizer que a polícia agiu mal. Pois agiu tardia e pessimamente.
Quanto ao nosso PR, o rídiculo já passou todos os limites!
quando o poder se dissocia do povo acoberta-se atrás das polícias. é um clássico
Francamente, este é o tipo de opinião fácil e populista que leva ao descontrolo.
Não me alongarei em muita coisa. Apenas quero dizer que, falas do aumento de 11% dos polícias.
Um polícia se rasgar a farda tem de pagar uma nova do bolso dele. Se esmurrar um carro, tem de pagar do bolso dele. Na Gnr os guardas só têm uma folga de sete em sete dias sendo que à sétima semana têm dois dias. As folgas que um cidadão normal tem num mês, levam dois meses a ser atingidas por um guarda.
Tendo em conta este (e outros factores) incomoda-te assim tanto que tenham tido um aumento de 11%? Ainda para mais quando essa percentagem representa um aumento é sobre o total dos vencimentos (e não sobre o vencimento de cada um)
Ah, e eu não sou polícia.
João, não me fiz entender.
Primeiro, porque os polícias não fazem o que lhes apetece mas aquilo que os mandam fazer.
Segundo, porque não me incomoda nada os aumentos, tomara eu que todos os pudessem ter. O que me incomoda é que esses aumentos tenham «por coincidência» sido anunciados no dia anterior à manifestação. Pelas mesmas pessoas que os mandam atuar como atuam.
Terceiro, não tenho nada contra os polícias, como se pode verificar pelo título deste tópico. O problema está em quem os dirige, com o claro objetivo de dividir para reinar.
Não me considero uma pessoa demagógica nem populista, daí ter começado por dizer que esperei dois dias para dar a minha opinião, que é esta.
Se não te fizeste entender é porque não o explicaste e limitaste-te a mandar para o ar um artigo "para que cada um julgue por si".
Isto após teres referido outras três cargas policiais com o denominador comum Cavaco Silva.
Vais-me desculpar, mas continuo a achar o teu tipo de posição tendencialmente populista. (no sentido se ser a opinião do povão, e não no sentido de esquerda ou direita).
Quando falas que a polícia devia ter individualizado a acção e detido apenas os desordeiros estás a ignorar que isso seria um passo em falso na segurança da multidão e da polícia. Quantos polícias são precisos para deter meia dúzia? E como é que iam fazer isso? Iam andar a correr entre a multidão para deter um tipo?
Historicamente, todas as cargas feitas por autoridades sobre populares foram assim. Paga o justo pelo pecador. E vão continuar a ser assim.
Francamente, não percebo porque é que ninguém se foi embora quando estava na cara que a coisa ia descambar em violência. Não vejo ninguém a criticar quando alguém diz que o Passos devia de levar duas chapadas ou que lhe deviam de partir a boca, isto é, um jornalista tenta invadir o quarto de um ministro, é herói nacional, chefias da polícia dão ordem para que se carregue sobre manifestantes, entre os quais alguns desordeiros, é ditadura.
Enquanto que as mensagens no 25 de Abril eram "O povo unido já mais será vencido" agora são apenas meros insultos profanos disparados para o ar. Enquanto dantes as pessoas se manifestavam de cara destapada agora muitos aparecem lá de chapéu, óculos de sol, cachecol e lenço.
Mas bem, acabei por me desviar um bocado. O essencial para mim é que em grandes ajuntamentos de pessoas a forma como a polícia actuou será sempre a mesma. Se tirasses de lá um e só um desordeiro (ou meia dúzia para o efeito) só ias gerar mais protestos, porque aí iria ser "ai ai que a polícia está a reprimir" e, quer se queira quer não, iam aparecer outros desordeiros e a brincadeira ia continuar.
Eu também não gostei de ver velhos e outras pessoas que apenas se limitaram a fugir a levarem porrada, mas a verdade é que não podia ser de outra forma.
E vais-me desculpar mas querias que esse aumento no orçamento das forças de segurança fosse anunciado quando? Não foi a greve geral marcada para esta altura em contestação ao Orçamento de Estado? Não está o mesmo a ser discutido na especialidade agora? Esse argumento é, mais uma vez, populista e até algo conspiracionista. É tentar encontrar coisas onde elas não existem.
Não serão as coisas tão lineares como o facto de para evitar escalada de violência dispersa-se a multidão? Para mim é isto. Se o objectivo fosse dividir o país não era por atitudes destas que os governantes o conseguiriam fazer.
João, estamos com visões totalmente opostas. Tu chamas-me populista e conspiracionista. Eu acho que tu, tal como eu, também estás com uma perspetiva pouco objetiva. Porque a objetividade nos dias que correm começa a ser difícil de manter.
Queres continuar a viver assim? Força. Eu não. E não me calarei enquanto todas as barbaridades com que me vou deparando não começarem a ser condenadas.
Não te agradam as minhas opiniões? Paciência. O computador onde estás é teu e tu é que escolhes as páginas onde queres entrar. Se leres a mensagem de boas-vindas do teu blogue verás logo o que quero dizer.
Eu, como sempre, não fecharei a minha página a ninguém.
Eu, ao contrário das pessoas que postavam comentários no meu blog, estou a discutir uma opinião, num acto perfeitamente saudável de discussão.
Não vim aqui insultar ninguém nem desvalorizar ninguém. Nem estive à procura de coisas no teu blog para te atirar, num perfeito acto de estupidez e incapacidade de percerber, encaixar e refutar a opinião contrária. Porque quando falas no que está no meu blog estás a falar de forma ignorante porque nem sequer sabes, nem queres saber, porque é que essa mensagem lá está. Quem me dera a mim que pessoas fizessem comentários como o que eu fiz no teu blog. A discussão é sempre boa. Se não a queres ter não abras os comentários.
As tuas opiniões, não me agradam nem deixam de me agradar, são, até certo ponto, válidas como qualquer outra.
Quando inseri o url do meu blog na identificação do comentário imaginei logo que me virias falar de qualquer coisa que eu lá tenho. Não é a primeira vez nem será a última e só revela pobreza de espírito.
Mas bem, como tu dizes o computador é meu, e eu decidi que queria comentar aqui. Paciência.
Enviar um comentário