2 de novembro de 2012

O teu rosto será o último, de João Ricardo Pedro

Admito que resisti muito tempo a este livro. Por me terem dito que estava carregado de palavrões, por não me terem conseguido explicar porque era bom, porque tenho sempre uma certa resistência aos sucessos muito rápidos.

Mas um empréstimo de uma das minhas companheiras de leituras obrigou-me a lê-lo. E assim que comecei mal consegui largá-lo. Em poucas páginas, o livro retrata a vida de três gerações: o avô, médico urbano que optou por uma vida de médico de aldeia; o pai, obrigado a ir para a guerra e regressado outro homem; e o neto, já filho da revolução e herdeiro de tudo o resto. A acompanhá-los, as mulheres das suas vidas, tão ou mais importantes do que eles. Há alegrias mas também muitas tristezas, algumas ganhando mesmo o caráter de desgraças.

E poderão perguntar-se: como se consegue contar tanta coisa em apenas 208 páginas? De uma forma original: a história é contada em pequenos episódios, nem sempre por ordem cronológica mas sempre com um título próprio e com princípio, meio e fim. E cabe-nos a nós, leitores, ir fazendo o puzzle e ir encaixando os episódios no sítio certo, até tudo fazer sentido. Parece complicado mas não é.

O resultado é um livro com conteúdo e muito bem escrito para uma primeira obra. Para quem não tiver acompanhado os acontecimentos, João Ricardo Pedro, engenheiro, ficou desempregado em 2009, aproveitando o tempo livre para escrever este «O teu rosto será o último». Concorreu ao Prémio Leya e ganhou-o em 2011, de forma bem merecida. Fico agora à espera de mais histórias bem contadas.

11 comentários:

celeste disse...

Eu também gostei muito deste livro. E deixe que lhe diga: fiz com que algumas das minhas colaboradoras também o lessem. Primeiro porque as mesmas viam o meu entusiasmo, e depois conseguimos falar sobre o mesmo e tirámos inclusivé algumas dúvidas...
Profissionalmente eu sou bibliotecária. E adoro esta minha profissão!

Vespinha disse...

Olá Celeste, ora aí está uma profissão que, apesar da imagem esterotipada de rato de biblioteca que tem, não me importava nada de ter!

Cristina Torrão disse...

Como eu disse na opinião que publiquei no meu blogue, João Ricardo Pedro é um exímio contador de episódios da vida. Apenas penso que, por vezes, as suas ideias são pouco originais, há uma sensação de "déjà vu" em certas passagens do livro.

Vespinha disse...

Eu acho que algumas dessas sensações advêm de serem episódios da nossa história recente, e até mesmo de nos identificarmos com algumas delas.

Mas nada como esperar pelo próximo livro dele para ver como evolui...

Anabela F. disse...

A minha passagem favorita (e sei que é a de muitos leitores) é a da mãe, quando «vai ao cabeleireiro». O dia nunca mais acaba e ela consegue fazer tanta coisa, muitas antes mesmo de todos os outros. Aquele ritmo leva-nos por ali fora e no fim levamos um murro no estômago. Eu já tinha lido essa parte na net antes de a ler no livro, mas ainda assim senti o murro.
Sinto que hei de reler este livro um dia destes. Porque o li depressa demais. Porque me lembro de partes, mas já não as ligo muito bem num todo e queira perceber se tem a ver apenas com a minha leitura apressada.

Cristina Torrão disse...

Não me refiro a isso, Vespinha. Há três coisas muito concretas que me desiludiram:
1 - usar um pormenor menos conhecido de um quadro como simbologia e pôr muita gente à procura desse quadro, para confirmar o pormenor, não é nenhuma novidade no mundo da literatura. Desde Proust, a Dan Brown, já muitos escritores o fizeram.
2 - O assassinato do Índio, ou melhor, a maneira como o cadáver foi encontrado é uma cópia daquele crime acontecido em Nova Iorque, envolvendo dois portugueses.
3 - A cena do órgão que, sem pilhas, não emite som e, mesmo assim, é tocado pela personagem principal, para mim, é uma cópia de uma cena do filme "o Pianista", de Roman Polanski.

Não costumo fazer publicidade ao meu blogue em caixas de comentários, mas se quiser ler estes aspetos com mais pormenor, deixo-lhe o link:

http://andancasmedievais.blogspot.de/2012/09/originalidade.html

Cristina Torrão disse...

P.S. De resto, estou como a Vespinha: curiosa quanto a obras futuras.

Vespinha disse...

Cristina, de facto tem razão, mas só senti isso no primeiro ponto, o do quadro. O segundo pode ter sido coincidência. O terceiro não conheço. O seu blogue dos livros vai já para os meus favoritos!

Anabela, de facto quando li essa cena pareceu-me familiar, se calhar foste tu que ma contaste. :)

Cristina Torrão disse...

Vou gostar muito de a ver por lá ;)

Clara Fernandes disse...

A minha irmã falou-me disto no supermercado. Queria ler.Dizia ela que ao menos esse homem não tinha nome feito em coisa alguma, que tinha sido escolhido de forma isenta pelos seus pares, ao contrários desses livrecos publicados para fazer dinheiro rapidamente, escritos por actrizes, chefs, futebolistas, gente do reality show e outros...Ela não se conseguia lembrar do nome do livro!

Vespinha disse...

Ofereça-lho, Clara, ela vai gostar. Acho que o prémio vou entregue em boas mãos.