Os reformados e as medidas que se anunciam
Por Joaquim Letria
A REDUÇÃO das reformas e pensões são as piores, mais cruéis, e moralmente mais criminosas, das medidas de austeridade a que, sem culpa nem julgamento, fomos condenados pelo directório tecnocrático que governa o protectorado a que os nossos políticos reduziram Portugal.
Para os reformados e pensionistas, o ano de 2013 vai ser ainda pior do que este 2012. Os cortes vão manter-se ou crescer e, com o brutal aumento de impostos, a subida dos preços dos combustíveis, do gás e da electricidade, e o encarecimento de muitos bens essenciais, o rendimento disponível dos idosos será ainda menor.
Os aposentados são indefesos. Com a existência organizada em função dum determinado rendimento, para o qual se prepararam toda a vida, entregando ao Estado o estipulado para este fazer render e pagar-lhes agora o respectivo retorno, os reformados não têm defesa. São agora espoliados e, não tendo condições para procurar outras fontes de rendimento, apenas lhes resta, face à nova realidade que lhes criaram, não honrar os seus compromissos, passar frio, fome e acumular dívidas.
No resto da Europa, os velhos viram as suas reformas não serem atingidas e, em alguns casos, como sucedeu, por exemplo, em Espanha, serem até ligeiramente aumentadas. Portugal não é país para velhos. Os políticos devem pensar que os nossos velhos já estão mortos e que, no fim de contas, estamos todos mal enterrados...
22 comentários:
Começo a achar que Portugal não é país para ninguém que queira trabalhar... só quem vive de subsídios é que se safa! :/
Uma tristeza e uma vergonha...
Nem para jovens, nem classe média... o Diabo que os carregue!!
Pois realmente a única hipótese é fugir de Portugal..
Http://styleloveandsushi.blogspot.com
Se novos e velhos estão indignados, como é que deixamos isto continuar assim!
Será que só no fim de janeiro, quando recebermos o primeiro salário/reforma, é que o povo vai reagir em peso? Seremos capazes de reagir? Haverá vontade para ir em peso para as ruas as vezes que forem necessárias?
Estou como a filipa.
É ir embora para voltar apenas nas férias.
Já não há pachorra nem capacidade para aturar isto.
Mas qual redução é que é cruel? A de 3.5% a quem recebe 1350€??? Sou eu que não sei fazer contas ou isso está longe de se poder chamar uma miséria?
Cortar nas pensões dos reformados é destruir-lhes aquilo por que lutaram uma vida inteira, é ir buscar dinheiro a quem não tem quaisquer alternativas para o arranjar noutro lado, é não lhes devolverem aquilo que descontaram durante tanto tempo.
Além de que há muitos casos invisíveis, em que são os avós a sustentar filhos e netos desempregados, com as reformas que ainda tinham.
E não considero que uma pensão de €1350 seja uma fortuna. É o reflexo do que se descontou e que não terá sido pouco, dos anos que teve de se estudar, de condições difíceis nos primeiros anos de carreira, de um investimento num futuro que agora lhes é retirado sem dó nem piedade.
Nem para novos!
Não é uma fortuna mas dá para viver melhor do que muita gente. Numa altura em que estamos a fazer tantos sacríficios, não me parece mal que quem ganha 1350 perca 3.5%. É disto que estamos a falar! Isso é destruir uma vida inteira de trabalho? A nossa geração vai sofrer muito por se andar agora a pagar subsídios de férias a reformados e reformas muitíssimo elevadas.
"Futuro retirado sem dó nem piedade"? A sério, isso não ajuda a uma discussão séria. Tirar 3.5% de quem ganha 1350 é isso?...
É, também é isso. Porque, como tinha dito antes, são os reformados que neste momento sustentam muitas famílias deste país. Não nos esqueçamos que são também os reformados quem mais recorre a medicamentos, que vão perdendo as comparticipações dia após dia. Que vão adiando as idas às consultas e às farmácias porque o dinheiro tem de ir para outras coisas. E isto é um assunto muito sério.
Os reformados não podem fugir aos impostos, olhem antes para quem o faz e regulem este país. Isso sim, seria uma decisão acertada.
Mas isso está a ser feito. Nos últimos anos tem sido feito um esforço enorme nesse sentido. Mas como é que se resolve o problema de as pessoas serem desonestas? Como é que se apanha o caso do canalisador que vai lá a casa e ele não passa fatura e a gente não pede? Mas depois ele quer a sua reforma aumentada e eu também...
Se não se pode tirar 3.5% a quem ganha 1350, então é melhor abrirmos falência porque se isso não é razoável, nada é.
Mas gostava de responder sobre os "invisíveis" de que falas. Isso é realmente importante. Se há uma família em que é o reformado que está a sustentar um agregado onde há, por exemplo, 2 desempregados, então ele não devia ser afetado por esta medida. Isso é que é responder ao problema concreto, não é condenar a medida toda porque ela não é boa para uma parte! De qualquer forma, bem sabemos que isso iria originar fraudes e acabaríamos por estar todos a pagar injustamente. Como sempre.
Já agora, será que percebes que a maior parte dos reformados não vão ser afetados? Os que ganham menos de 1350... Não achas que há alguma sensatez nisso? Não concordas que em vez de atacar toda a gente, houve um esforço para distribuir estas medidas terríveis de forma mais ou menos justa? (nunca é perfeito mas, bolas, há aqui uma tentativa de equilíbrio... ou só os que estão contra é que são solidários?)
O Pedro deve viver noutro País...
Ou é amigo do homónimo.
A questão não é apenas os 3,5% como é obvio, mas não vou aqui discutir esta questão dos cortes e da falta de decoro e o diabo a sete.
Era bom não haver cortes destes (e era bom não haver tantos impostos). Mas se os há, penso não ser desproporcional cortar 3,5% para reformas a partir dos 1350€. Na prática, representam uma diminuição de 47,25€. Segundo o IOnline serão afectados cerca de 12% dos reformados. Será isto injusto, sabendo que a média de salários em Portugal ronda os 700 euros (e não esquecendo que todos os trabalhadores também estão e continuarão a ser afectados pelas medidas de austeridade?
João
Bom, Crap Créus, sobre o assunto concreto o que disse foi que não vai dizer nada. Portanto, deixe lá o sítio onde eu vivo e quem são os meus amigos, ficar na esfera da minha vida. Se quiser discutir alguma coisa concreta, que não a minha vida, estarei disposto a responder. Porque a falta de decoro da insinuação gratuita sem qualquer argumento sério, como é óbvio, não merece resposta.
O problema é que o desconto começa nos 3,5% e vai subindo até aos 15%...
Vou dar-vos um exemplo muito concreto e que me é muito próximo: uma mulher que aos 50 anos teve de se reformar, vítimas de diversos AVC, embolias pulmonares e o agravar de uma doença bipolar. A reforma é confortável, mas neste momento já à justa para as despesas do dia a dia e a medicação. Ora, a medicação vai aumentando; muitos medicamentos deixam mesmo de ser comparticipados, medicamentos essenciais que só assim lhe permitem ter uma qualidade de vida digna. €47,25 (o desconto mínimo) dariam para uns bons dias de medicação.
Agora pergunto: onde vai ela buscar dinheiro para pagar aquilo de que precisa? Pois, não o vai buscar, terá antes de o entregar. E de começar a ir a consultas mais espaçadas, em detrimento do seu estado físico. E a tomar genéricos, que muita gente sabe que em muitas áreas da medicina não são a mesma coisa. Ou a não tomá-los de todo.
Eu acho isto injusto e dramático. Mas se calhar sou só eu e mais meia dúzia.
Eu acho que apontas bem os problemas. Mas não as soluções. Por cada exemplo que dás, podia dar outro, de sinal contrário (reformados que fazem biscates ou trabalham sem declarar, reformados que oferecem playstations aos netos que ainda só tinham uma Wii e uma Xbox, mendigos que param de tocar o acordeão para trocarem sms's... tás a ver? Isto não é bom para uma conversa séria, é demagogia, foi só um exemplo). Mas as decisões não se tomam assim. Se fosse eu a decidir, preocupava-me em comparticipar os medicamentos. Assim, não dava dinheiro que, no caso que falas é necessário, mas noutros casos não é e pode contribuir para que voltemos a ter as contas em ordem e possamos voltar a comparticipar os medicamentos.
Até vai a mais de 15% mas para isso é preciso ganhar mais que 1350. Quem ganha mais, paga mais. Parece-te errado? É que se for, teremos então que começar a tirar aos que ganham 300/400 (desculpa lá, mas eu conheço mais é casos desses. Por isso, me faz tanta impressão...).
Já agora, é por ser dramático que estão a ser tomadas estas medidas. Ou achas que só tu e mais meia dúzia se preocupam? Só que estamos a viver com dinheiro emprestado, o que não nos permite fazer o que queremos e nos obriga a ter que pagar. É horrível e eu só espero que passe depressa, mas não vai passar enquanto todos remarem apenas na direção dos seus próprios interesses. E não vai passar sem que doa.
Vespinha, no exemplo que dás, aquilo que considero injusto e dramático é o Estado não comparticipar os medicamentos e consultas da Sra. e não o corte de 3.5 na sua pensão. Não aplicar um corte de 3.5 por presumir que os pensionistas têm (ou que podem vir a ter) um problema desses é no mínimo fantasioso. Usando uma lógica desse tipo, seria impossível implementar-se quaisquer leis. Se calhar deviamos era estar a discutir sobre aquelas pessoas cuja reforma não chega sequer a metade do salário mínimo nacional (conheço vários casos, sobretudo no interior do país)e que, embora não venham a sofrer cortes nas suas reformas (mal seria), têm de aguentar com a redução ou não comparticipação dos medicamentos e consultas de que falas. Concedo que injustiça e dramatismo sejam palavras que se apliquem com mais justiça a estes casos (embora haja concerteza quem discorde: afinal, trata-se de conceitos relativos)
João
De acordo com tudo isso acerca das comparticipações na medicação, mas... terão alguns dos idosos com pensões muito baixas descontado tudo o que ganharam? Ou terão durante anos fugido ao fisco por trabalharem em áreas que o permitiam?
A pessoa de quem falo é a minha mãe, que tirou o seu curso de medicina muito cedo e que durante anos trabalhou em terras recônditas de Portugal, sem cuidados básicos nos tratamentos que fazia e nas condições em que vivia. Foram anos separada da família, num país em que ainda não havia autoestradas que nos ligam num instante. Como médica do SNS, sempre descontou tudo o que lhe era exigido. Tudo. Fez bancos de 24 horas. Fez uma comissão em Timor logo após a independência, quando o país praticamente não era um país. E repito que descontou sempre tudo. Infelizmente as doenças impediram-na de continuar a trabalhar, mas felizmente a reforma deu-lhe algum conforto e o trabalho de voluntariado dá-le alegria de viver. E agora, se lhe cortarem 10 ou 15% não faz diferença? Faz, e muita.
Ao mesmo tempo que ela andava nesta vida, eu entrei na faculdade, coincidindo com o início de pagamento das propinas. Eu pagava o escalão máximo, claro, pois os ordenados dos meus pais eram transparentes. Mas tinha muitos, muitos colegas que estavam isentos. Eram os que já tinham carro próprio, roupa sempre boa e cujos pais tinham negócios que lhes permitia fugir ao fisco.
Hoje, à minha mãe vão cortar mais de 10%. Aos outros, provavelmente nada ou 3,5%. São todos reformados, é certo. Mas dizer que os que têm reformas mais altas não descontaram o que deviam? Não é verdade, ou nem sempre.
Toda a razão, tens toda a razão em tudo o que disseste agora. Percebo o teu sentimento de injustiça. Mas o meu ponto é: a medida não é injusta em sim. Claro que se particularizares, todas as medidas acabam por parecê-lo. Mas o governo não pode governar na lógica do caso individual (embora deva pensar nas exceções).
Estamos todos a pagar por aqueles que fogem aos impostos ou ajudam a fugir. Porque sabemos que o défice estaria coberto se se toda a gente declarasse o que deve. Por isso, Vespinha, infelizmente eu tenho que pagar, a tua mãe tem que pagar, e tu também. Mas não é o governo que é mau e nos quer roubar. O problema é já termos sido roubados.
P.S. Gosto cada vez mais do teu blog. Até por ser um espaço onde se pode discordar e trocar ideias a sério. Olha que não é comum!
Pedro, continua a visitar. Nem sempre se falará de assuntos tão sérios, mas sempre que a meu ver forem oportunos cá estarão... sem filtros! :)
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