O meu avô materno era uma das pessoas mais metódicas que conheci. Registava todos os gastos que fazia, legendava minuciosamente os milhares de fotografias que tirava e, uns meses antes de morrer, deixou-nos uma carta em que dava conta de todos os seus bens e distribuía tudo de modo claríssimo.
Por isso, as fases da casa onde morei mais de metade da minha vida estão muito bem documentadas. Da sua construção, no final dos anos 60, temos um dossiê muito completo, com fotografias desde as fundações até aos últimos acabamentos. E já no final dos anos 90, aquando de novas obras de fundo para a modernizar, nada falhou no registo do antes e do depois.
Por isso, devo ao meu Vovô e às sua etiquetas cuidadosamente coladas em cada imagem poder relembrar o meu quarto de adolescente e, mais tarde, o meu quarto de entrada na idade adulta. Querem espreitar?
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A confusão total: paredes cobertas de cartazes, uma guitarra que era da minha mãe e que nunca toquei (e acho que ela também não), autocolantes colados na cama, os meus livros de Vergílio Ferreira na cabeceira, uma gato enroscado sobre o pijama (julgo que o meu querido Ropi) e outro na bancada da janela (o Freak ou a Malhinhas), |
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A cama desenhada por mim, paredes bastante mais nuas, uma fotografia da loba Aurora do CRLI,
a estante desenhada pelo meu avô paterno e que está agora no consultório do meu pai,
a coleção de mochos a manter-se lá ao fundo ao pé da janela. |
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De novo o caos. Até latas eu tinha coladas nas paredes... Um roupão pendurado na parte de trás da porta,
uma fotografia do meu maninho colada à esquerda, um relógio «tipo» Swatch pendurado na parede
(porque os originais eram um balúrdio), um cartaz de Versalhes onde continuo a nunca ter ido. |
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A estante que estava esquecida na garagem, toda lixada e recuperada por mim e pelo meu pai,
os livros de Vergílio Ferreira já no meio de tantos outros, o chão sem alcatifa e com a madeira bem afagada. |
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Que dizer? Caos novamente. Aqui vê-se melhor o relógio e a serigrafia de Vergílio Ferreira,
que hoje está cá em casa. A fotografia do navio Creoula e da loba Aurora junto à janela, e na cadeira,
no meio da confusão, a samarra alentejana que era do meu pai e que hoje ainda por vezes uso. |
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Cono já não estudava, deixou de ser necessária uma mesa tão grande e apareceu uma camilha. Por cima
da estante, ramos de oliveira que trouxe de Florença e uma fotografia do dia em que terminei o curso. |
Mais uma coisa: este quarto, um dos maiores da casa, já tinha sido dos meus pais e, depois de eu ter saído, passou a ser do meu irmão. As voltas que uma casa leva com as reviravoltas de uma família...
15 comentários:
Caos, ou não, tudo depende da perspectiva, uma coisa é certa: é uma casa com vida (palavras das minha mãe). Gostei!
Felizmente hoje em dia está bastante mais calma. :)
Concordo com a "felina", uma casa "viva".
Só tenho pena de não ter fotos do meu quarto de infância... mas procurando bem se calhar até se encontra. É giro as coisas que recordei ao ver estas fotografias!
ADOREI :)
E pensar que eu adorei lá viver em todos esses momentos! :)
adorei ver :)
Ah! Adorei o candeeiro que tens no teu quarto "Antes"! É daqueles de puxar, não é?
Ando há tempos à procura de um... Acho-os giríssimos.
http://ocaldeiraoeacolherdepau.blogspot.com
Sim, era desses de puxar, cuja parte de cima tinha uma espécie de mola! Não faço ideia de onde terá ido parar... :(
Se o encontrares, não te desfaças dele. São umas relíquias neste momento.
Talvez na arrecadação da minha mãe...
as prateleiras por cima da cama são desenhadas pelo teu avô joão
Eu sei, e digo-o na legenda da fotografia. :)
Adorei ver o sr. Vergílio na parede!
E continua hoje na minha atual casa. :)
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