17 de janeiro de 2014

Do bullying: antigamente e nos dias de hoje


Há muitos anos, andaria eu no 7.º ano (teria portanto uns 12 anos), mudávamos de sala entre cada aula, por isso as mochilas acumulavam-se no pátio a cada intervalo. Um dia alguém abriu um dos bolsos laterais da minha mochila e encontrou lá dentro um penso higiénico. Não contente com isso, toca de o mostrar a toda a gente, de brincarem com o dito, de o passarem de mão em mão.

Ser uma miúda de 12 anos já menstruada é uma coisa normal. Mas na adolescência, e no meu caso particular, tinha vergonha. E os meus colegas perceberam isso. Seguiram-se semanas de sufoco, em que chegava à escola e a primeira coisa que ouvia era «penso higiénico!». Hoje, à distância, julgo que vindo de alguns era até uma espécie de vingançazinha, por ser boa aluna. Diziam-no alguns rapazes e também algumas raparigas, como se não fôssemos iguais. Até nas aulas por vezes me bichanavam isso. Eu, que na altura era bastante tímida, era um alvo fácil, calava-me, corava e ficava com lágrimas nos olhos.

Nunca contei nada em casa. Mais uma vez, por ter vergonha da situação. Mas o tempo passou, devem ter-se metido as férias pelo meio, e o assunto ficou esquecido, ou outro mais interessante para os adolescentes terá vindo à baila.

Mas na altura não havia telemóveis. Nem e-mail. Nem Facebook. O que significa que eu na escola passava um mau bocado mas que a coisa ficava por ali. Em casa tinha o meu ninho garantido, e isso ninguém me tirava.

Agora imaginemos uma situação parecida nos dias de hoje, com SMS de gozo e até, quem sabe, insultos e imagens no Facebook. Não sei como teria sido. Não ter paz e ter sempre alguém a rir-se à minha custa.

A adolescência é uma fase tramada. Por isso, por muito que custe aos pais, devem estar mais atentos do que nunca ao comportamentto dos filhos. Às pessoas com quem se dão. Às suas mudanças de humor. E até, com toda a polémica sobre privacidade que isto pode gerar, aos seus telemóveis e amigos no Facebook e outras redes do género. É que daí podem vir os sinais, e assim evitar-se uma tragédia.

11 comentários:

Sexinho disse...

Ontem mesmo tive esta conversa aqui em casa (o penso higiénico no meu caso eram outras coisas); a diferença é mesmo que agora com as sms, fb, etc não há onde estar a salvo. Na altura a escola podia ser um campo minado mas era só ali e a coisa, mais tarde ou mais cedo, acabava por perder o interesse.

Fatima disse...

Também passei por isso, no meu caso era porque era gordinha,e.. também sofria em silêncio.No entanto, a situação deu-me traquejo para depois, enquanto mãe estar mais alerta.
E..podem crer que salvo raras excepções, todos, mas mesmo todos os adolescentes passam por uma situação destas.
O que é preciso é nunca desvalorizar os alertas.
Parabéns Vespinha pela coragem de assumir

GATA disse...

Eu agradeço a Bastet não ser adolescente agora!

No colégio chamava-me 'a espanhola', irritava-me, e um dia passei-me e dei um pontapé num miúdo! Os meus pais foram chamados, blá, blá, blá, e nunca mais me chamaram tal coisa!

No liceu chamavam-me 'corvo', porque me vestia de preto e era gótica. Mas então aprendi a ignorar... e o desprezo funcionava.

Hoje acho que os miúdos são maus, e as redes sociais vieram aguçar essa maldade.

Livros e outras manias disse...

Não costumo ser alarmista, mas há aqui um efeito de amplificação da "gozação" (ou seja, "bullying") que é bem capaz de agravar uma situação que não é de agora. Chegar a casa, ao pé dos pais, a esse outro mundo menos duro e mais macio, olhar para o telemóvel, e ter lá uma agressão escolar é capaz de ser mesmo muito difícil de aguentar.

Vespinha disse...

É muito, muito pior, tenho a certeza disso... porque deixa de haver portos de abrigo. :(

Mamã disse...

Tenho pena de não ter sabido.
Garanto-te que não iria "fazer escândalo" na escola, mas podes ter a certeza que te daria mais consolo, naquilo que chamas de "ninho".
Lamento, sinceramente o que passaste.
Mas, permite-me que te diga uma coisa: não és tu que me criticas por me expor demais?
Sabes, meu amor, "aquilo" que fizeste, é "aquilo" que tantas vezes faço, e que considero um "desabafo".
Adoro-te, minha querida.

Celeste Silveira disse...

Também tive disso. No 9º ano. Mas comigo deu-se uma ironia do destino. Hoje a minha actividade profissional é exercida justamente na cidade onde fiz o agora chamado 3º ciclo. E nunca mais lá tinha ido após esse 9º ano. Agora é um gosto para mim, cumprimentar os "facinoras" que vão com os filhos lá ao meu estamine. Eu sei que não me devia vangloriar com isso, mas não resisti. Desculpem...

Celeste Silveira disse...

Também tive disso. No 9º ano. Mas comigo deu-se uma ironia do destino. Hoje a minha actividade profissional é exercida justamente na cidade onde fiz o agora chamado 3º ciclo. E nunca mais lá tinha ido após esse 9º ano. Agora é um gosto para mim, cumprimentar os "facinoras" que vão com os filhos lá ao meu estamine. Eu sei que não me devia vangloriar com isso, mas não resisti. Desculpem...

Celeste Silveira disse...

Também tive disso. No 9º ano. Mas comigo deu-se uma ironia do destino. Hoje a minha actividade profissional é exercida justamente na cidade onde fiz o agora chamado 3º ciclo. E nunca mais lá tinha ido após esse 9º ano. Agora é um gosto para mim, cumprimentar os "facinoras" que vão com os filhos lá ao meu estamine. Eu sei que não me devia vangloriar com isso, mas não resisti. Desculpem...

Vespinha disse...

Não acho que me tenha exposto, apenas quis dar um exemplo, passado comigo, para alertar para o facto de que estas coisas podem acontecer com qualquer um, e que é preciso estar atento. Sobretudo nos dias de hoje...

Mamã disse...

Provavelmente, tens razão.
Eu era : a "caixa de óculos".
Boa noite.
Mil beijinhos.