24 de fevereiro de 2014

Da morte

Este fim de semana fui a dois velórios e um funeral e daqui a pouco vou a mais um e, mais uma vez, concluo que lido muito mal com a morte. Não com a minha, porque raramente penso nela, mas com a dos que me são próximos. Na minha memória, tive o primeiro contacto com ela aos 9/10 anos, quando uma tia muito próxima faleceu de cancro. Lembro-me também da morte dos meus avós paternos, mas fui poupada a muitos pormenores. Depois, aos 23 anos, quando a minha Babá faleceu aos 73 anos em duas horas, sem nada o prever, com um aneurisma. E de novo aos 27, quando o meu Vovô, numa semana, se deitou e desistiu da vida.

Depois disso, e felizmente, tenho «apenas» acompanhado a morte de pessoas mais distantes, ou de pais de amigos, o que me provoca uma dor muito grande por ser inevitável antever o que um dia terei de passar.

Eu não acredito que a morte seja um fim e ponto. Gosto de pensar que um dia, algures, vou poder rever todos os que partiram, num contexto que não faço ideia de qual seja. Mas, no momento em que a morte acontece, não consigo deixar de encará-la da forma mais horrível possível. Gostava de viver numa daquelas sociedades em que a morte é celebrada porque é um «até já». Em que as pessoas se reúnem e contam histórias, comem e bebem, e sepultam o seu morto com alguma alegria porque a sua alma continuará entre nós.

Gostava, sinceramente, de ter esta perspetiva. O poema é de Mário de Sá-Carneiro.

8 comentários:

Mamã disse...

Como sabes, meu amor, estou contigo.
Infelizmente, não em tudo.
Tal como tu, "lido muito mal com a morte".
Mas,e, tu sabes "isso", gostaria de conseguir acreditar que um dia, haveria um reencontro.
Mas, se Deus existe, que me perdoe.
Não me "tem dado provas" de que "assim" acontece.
Não tenho capacidade para aceitar tanto sofrimento, tanta maldade...

GATA disse...

Eu tive o meu primeiro contacto com a morte aos 10 anos, e infelizmente já perdi 3 das 4 pessoas importantes na minha vida. Não acredito na ressurreição nem na vida depois da morte, mas "no fundo do fundo" eu gostava de voltar a encontrar as minhas pessoas e voltar a ser feliz com elas...

Loira disse...

Acredito que isto não acaba aqui - não pode acabar!

... só sei que quero muito um dia reencontrar quem já perdi.

Celeste Silveira disse...

Um dia destes ouvi alguém duzer algo que me marcou e que me poderia servir perfeitamente de mote para a vida: "Sonhar como se fossemos eternos, viver como se morressemos amanhã". E isto é bem verdade. Na minha própria morte eu também não penso muito, já na dos que me são próximo... (sem excluir a partida dos meus queridíssimos gatos) a história já é outra.
Acredito que as coisas não devem de acabar por aqui. Somos capazes de ir para um outro lugar, onde poderemos continuar a evoluir. Contudo se agora estamos aqui, pois que vivamos, "bebamos o sumo riquissimo que é vida. E façamos os outros felizes. É expectável que procuremos fazer a diferença. E um dia quando eles se forem (i.e. se não formos nós primeiro), que fiquem connosco muito boas recordações. Assim como muitas histórias para contar.
E quem sabe se depois de tudo, não haverá um reencontro?
Vespinha: gostei muito do "Deixem Falar as Pedras". O autor até já foi meu convidado, e que pena eu tenho de na altura ainda não ter lido os seus romances. Haveria tanto para falar.

Celeste Silveira disse...

Só havia lido os seus livros para o público infantil, bem entendido.

Vespinha disse...

Já acabaste de o ler!? Vou a meio, mas a gostar muito. :)

Celeste Silveira disse...

Sim, acabei esta madrugada. Não conseguia parar de ler. E o fim é absolutamente expectacular. As nossas memórias são nossas. Mas que podem ser condicionadas por muitaaaaaaaaaaa coisa! Agora vou ler Mário Dionísio.

Cristina Torrão disse...

Eu não acho que gostaria de viver numa dessas sociedades em que a morte é festejada. Quem parte, deixa saudades e sofrimento em quem fica. E há uma hora para tudo. Se sofremos, devemos chorar. Devemos viver todas as nossas emoções (positivas e negativas). Celebrar a mort de alguém não me repugna a nível religioso, mas penso que contribui para o recalcar do sofrimento. E recalcar nunca é bom.