Quando saímos para o almoço, sempre com pressa, voltámos a cruzar-nos com o senhor. Outra pessoa que nos acompanhava disse-me que de manhã lhe tinha dado €10, e que ele lhe tinha agradecido com as lágrimas a escorrer pela cara abaixo. Tinha 60 e picos anos, casado e sem emprego, tal como a mulher. Pensei: «Quando regressarmos vou dar-lhe o que tiver na carteira.»
Não o voltámos a ver. E fiquei com pena de não o poder ajudar. E ainda mais por saber que como este senhor deve haver centenas de outros, se não milhares. É triste o estado a que este país chegou, um país que não trata bem os seus jovens e muito menos os seus «velhos». Muito triste.
Old beggar - down & out, Lewis W. Hine, c. 1915 |
8 comentários:
Nem sei o que dizer!!!40 anos depois não gosto de ver o meu País assim!!!
Caramba, que revolta tão grande!
Trabalha uma pessoa uma vida para isto.
Tão revoltada, caramba!
Eu sei, Vespinha! Que dor tão grande, também essa a dos outros que também nos toca.
Que sentimento de frustração, esse que acompanha a empatia, em que por momentos o chão nos falha, por não termos soluções nem poderes mágicos. Eu sei.
Que raio de mundo este, em que somos capazes de uma nunca antes vista longevidade, somente para destratar quem já não seja jovem.
Abraço
Sempre a gozar connosco, sempre...
Nojentos!
Lembras-te, amor, "naquela" noite, em que um Sr., quando estávamos na fila do H3, nos pedir comida, e, tu teres respondido - que não. Lembras-te do que te disse?
- Se calhar tem, mesmo fome.
E, tu, concordaste.
Quando lhe perguntei o que queria, "limitou-se" a pedir um hamburguer,
no pão.
Quando o recebeu, agradeceu.
Devia ter mesmo fome...
Lembro-me bem, e esse foi um bom exemplo de que às vezes devemos olhar duas vezes. Ainda bem que insististe. :)
Faz-me lembrar algo que se passou comigo há anos.
No trajecto entre a estação dos comboios e a faculdade, conheci um sr, um avô, educado e humilde, que me pediu ajuda.
Como levava sempre comigo um lanche (para poupar), dei-lho. O agradecimento foi sincero.
Passei a levar comigo dois lanches, um para mim, outro para ele. Não me recordo do seu nome, sempre o tratei por senhor "como vai o senhor", dirigi-me a ele com os mesmos modos com que acredito que devem ser tratados os avós.
Muito de vez em quando, levava-o comigo a almoçar ao Macdonald's em frente à faculdade. Entre nós havia discrição, respeito e empatia. Fiz o que pude e fi-lo com gosto, achei-o merecedor.
Infelizmente já fui abordada por tanta gente que pela atitude, me afastam.
Obrigada, querida Ana Chagas, por teres agido como a Vespinha e eu.
Ela concordou com a minha insistência.
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