Ontem fui um bocadinho à praia, para tentar compensar estes três dias que foram mais agitados do que eu pensava. Ao chegar ao areal, ouvia-se do cimo de uma pequena falésia duas pessoas a discutir, a voz dele a sobrepor-se à dela. Ela era uma velhinha toda de preto, que aparentemente teimava em sentar-se num banquinho a ver a praia.
Durante uns minutos, o barulho acalmou, até que se começou a ouvir a voz dela a praguejar com ele, ao mesmo tempo que, com um andarilho, tentava chegar, através da vegetação, até ao local onde ele e o carro estavam. Eu tinha acabado de me deitar na toalha, e toda a praia olhava discretamente lá para cima. Não consegui ficar parada, vesti uma camisa e pus-me a caminho, logo seguida de mais 3 ou 4 pessoas.
Pelo caminho, pensei em como abordar o assunto, afinal de contas estava a intrometer-me numa questão familiar. Ao chegar lá acima, deparei com o homem encostado a uma palmeira, à espera dela, que continuava a praguejar bem alto e a dar passos ao centímetro. Percebi que era o filho e optei por lhe perguntar se queria que o ajudasse a levar a mãe até ao carro. Que não era preciso, que ela conseguia, que era sempre assim. Insisti, alegando que seria melhor para todos. Lá fomos, amparando aquele peso morto, até chegarem as restantes pessoas.
Só que algumas, em vez de ajudarem, começaram a insultar o homem. Como é que deixava a mãe ali assim, porque é que não tinha pedido ajuda, porque é que a tinha deixado ir para tão longe. E ele a suar em bica e a irritar-se. E eu a tentar pôr água na fervura, alegando que o importante era levá-la até ao carro.
Ali havia miséria e agressividade, física e psicológica, e confesso que fiquei com medo do que o filho pudesse fazer à mãe depois de todo aquele conflito e dos insultos que lhe dirigiram. Não lhes conheço a história. Por um lado, se ele a levou ali a ver o mar foi porque queria que ela se distraísse. Por outro, não fez o mínimo esforço para a ajudar. Também não sei como a trata em casa. Ou o que ouvirá da boca dela todos os dias.
O que conheço são as histórias de violência contra idosos que vejo na televisão. Por isso intervim. Mas sempre, sempre com a dúvida na minha cabeça. O que poderá levar um filho a fazer aquilo com a mãe? Haverá aliás algo que o justifique? Acho que não. Mas nunca o saberei.
4 comentários:
Estas histórias de violência deixam-me tão triste e sem esperança.
Fizeste bem em intervir.
A tua maneira de intervir foi a melhor: ajudar, quem precisa de ajuda, e não julgar. E o insulto nunca ajuda...
É peciso coragem para intervir em situações dessas sem julgar e sem insultar. Porque julgamentos e insultos não ajudam!
Mas também não deve ser fácil sair e ficar a pensar no que se estará a passar naquela família.
Quando me levantei do areal foi logo a pensar em agir apenas, pois temo muito no que estas coisas possam gerar a posteriori.
Enviar um comentário