Dave Eggers escreve romances, autobiografias, e neste caso uma biografia sob a forma de romance. Zeitoun é um homem sírio, imigrado nos Estados Unidos e casado com uma norte-americana convertida ao islamismo. Os dois têm quatro filhos e uma vida confortável e digna em Nova Orleães. Juntos têm uma empresa de construção civil e gerem um negócio de aluguer de casas. Tudo a correr bem.
Em setembro de 2005, a cidade vive o alerta do furacão Katrina, e Kathy , com os filhos, sai da cidade, tal como a maioria da população. Zeitoun fica, para tomar conta das propriedades e para ajudar no que puder, recorrendo a uma canoa que comprou em tempos sem nunca a ter usado. O furacão chega, os diques rebentam, a cidade afoga-se. Durante dias, Zeitoun rema pela cidade, resgatando pessoas, fugindo aos saqueadores que se aproveitam da tragédia, alimentando animais domésticos que ficaram para trás.
Graças a uma linha telefónica colocada numa zona elevada, consegue comunicar diariamente com a mulher, que lhe implora que se junte à família. Até que um dia Zeitoun não telefona. Nem atende os telefonemas. Enquanto Kathy vai desesperando, Zeitoun passa por episódios verdadeiramente kafkianos. É detido por uma brigada, preso numa central de camionagem transformada em celas sem quaisquer condições. Não lhe é comunicada qualquer acusação, apenas tratado como se de um terrorista se tratasse. É-lhe negado qualquer contacto com o exterior e retirada toda a dignidade.
Tudo isto aconteceu. Com Abdulrahman Zeitoun e com a família. Numa cidade em estado de sítio, Zeitoun tomou consciência de que, em situações críticas, os EUA não são mais seguros ou humanos do que a sua Síria natal.
E eu aprendi muito: sobre o que de facto aconteceu em Nova Orleães, causas, consequências, materiais e humanas. Este livro é muito bom. Recomendo-o a toda a gente que tenha oportunidade de o ler.
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