20 de junho de 2017

Guardas de passagem de nível, de Carlos Cipriano

Os Retratos da Fundação são sempre uma coleção em que aprendo algumas coisas. Para quem não conhece, são uma espécie de grandes reportagens em forma de livro e a um preço baixo (entre os €2,50 e os €3,50).

Este foi escrito pelo descendente de uma família de ferroviários, portanto por quem está bem dentro do assunto. E foca um dos postos mais baixos da carreira ligada aos comboios: as guardas de passagem de nível (sim, a enorme maioria são - ou, melhor, eram - mulheres), aquelas senhoras que fecham e abrem as cancelas antes e depois de os comboios passarem quando não há passagens desniveladas.

São retratadas talvez umas dezenas de mulheres, quase todas com cinquenta e muitos anos e das poucas profissionais que ainda restam em Portugal. Algumas ainda residem nas casetas, o nome que se dá às casinhas minúsculas de onde as vemos sair. Outras deslocam-se todos os dias para os seus postos. E outras, ainda, vão atrás dos seus postos. Como aquela que entra no comboio numa estação, sai noutra estação e vai rapidamente fechar a cancela umas centenas mais à frente na linha antes de o comboio que a trouxe passar, para depois a abrir e fazer o mesmo no comboio da volta. Ou outra, na linha do Vouga, que sai do comboio antes da passagem de nível, quando este abranda, faz o seu serviço e volta a entrar na composição uns metros depois.

Dei por mim com nostalgia da adolescência, quando tinha de passar por uma passagem de nível com guarda onde as pessoas se irritavam quando esperavam muito. Mal sabiam que provavelmente aquela espera lhes estava a salvar a vida. São vestígios de um mundo que vale a pena espreitar.

Nota: Podem ler sobre mais alguns destes livros aqui (Malditos - Histórias de homens e de lobos), aqui (A porteira, a madame e outras histórias de portugueses em França), aqui (Prematuros) e aqui (Na urgência).

2 comentários:

CAP CRÉUS disse...

Olá,

É de fotografia?

Vespinha disse...

Não, são mesmo histórias de vida.