... recomendo um destes (clicando sobre cada um podem comprá-o na Wook com descontos variáveis):
A história de uma serva, de Margaret Atwood (€18,80 - 20% de desconto) - Esta é uma distopia que poderia, com uma certa facilidade, tornar-se numa realidade, e temos na História exemplos disso, como a mudança de estatuto da mulher no Irão após a revolução islâmica em 1979.
Aqui tudo se passa em Gileade, um estado teocrático e fundamentalista que antes era os Estados Unidos da América. A transição não foi complicada, tudo muito bem preparado e de forma quase básica, de modo que em poucos anos as mulheres são reduzidas à tarefa de conceberem filhos para casais inférteis (as Servas), de formarem as Servas (as Tias), de servirem todos os outros (as Martas) ou de esperarem que as Servas concebam por si (as Esposas). Tudo num ambiente que nos remete para a Idade Média, no vestuário e nos cenários.
A forma asfixiante como as mulheres vivem é-nos narrada por uma Serva, de que nunca chegamos a saber o nome real, mulher que no “antigamente” teve uma vida “normal”, um emprego, um marido, uma filha.
É um livro violento, muito, com algumas cenas verdadeiramente nauseantes que não vou contar para não estragar o prazer desta leitura.
Muito bom. Pelo enredo em si, inacreditável mas que até pode suceder, pela forma como é narrado, com recorrentes flashbacks a outros tempos, pela capacidade quase cinematográfica de contar uma história. Não lhe mudava absolutamente nada.
E agora preparo-me para assistir a «A handmail’s tale», série feita a partir do livro e que já se está a tornar de culto.
Arranha-céus, de J. G. Ballard (€16,99 - 20% de desconto) - Este arranha-céus fica nos arredores de Londres dos anos 70 e foi pensado pelo arquiteto para ter todas as comidades integradas: lojas, piscinas, uma escola... 45 andares ao estilo das unidades de habitação de Le Corbusier. Este edifício alberga habitantes bastante heterogéneos, dos artistas e empresários que vivem nos andares superiores às famílias modestas que habitam os andares inferiores.E é aqui que começam os primeiros problemas.
Gradualmente, o ar condicionado vai deixando de funcionar, o lixo vai-se acumulando nas condutas, os elevadores param um após o outro. E, aos poucos, todos os pisos vão sendo vítimas de vandalismo por parte dos próprios habitantes. Estes, em vez de abandonarem o edifício, sentem-se presos a ele, entrando num estado de barbárie onde se vive o salve-se quem puder e onde o que interessa é a pura sobrevivência.
Um livro catastrofista mas que reflete uma boa parte da sociedade atual, não apenas pela caracterização das personagens, mas também pelas situações limite que vivem. Venham mais livros deste autor.
Canção doce, de Leila Slimani (€16,90 - 10% de desconto) - Precisam de um livro que vos agarre bem a sério e que à noite vos obrigue a dormir um pouco menos para ler um pouco mais? É este. Sessenta páginas por noite foi a minha média (hoje em dia só consigo ler já depois de me deitar), o dobro ou o triplo do que costumo ler.
Leila Slimani é uma jovem escritora franco-marroquina (tem apenas 35 anos) que, com este Canção doce, ganhou o Prémio Goncourt 2016, que premeia livros de que gosto quase sempre.
Este livro começa pelo final, pelo assassínio de duas crianças pela ama que cuidava delas. Mas já sabendo o final, vamos querer saber o que levou a ele, e aqui deparamo-nos com Louise, uma mulher praticamente sem vida própria que se agarra à vida das pessoas para quem trabalha. À medida que as páginas avançam, Louise vai-nos sufocando cada vez mais através da sua intromissão naquela família que a ela recorreu para que a mãe possa ser também uma profissional.
Não é um livro policial, nem um thriller, mas antes uma análise à vida dos nossos dias, em que trabalhar e ter filhos se torna um desafio e que nos leva a tomar decisões que nem sempre são as melhores. Gostei muito.
Como Deus manda, de Niccoló Ammamniti (€5 - 20% de desconto) - Este é livro é violento, muito. Bastante cheio de palavrões também. Mas intenso como há muito tempo não me lembrava de ler algo, daqueles livros que me fazem resistir ao sono e, de manhã, ansiar pela hora de voltar a casa para continuar a ler. Com um ritmo rápido, com personagens agressivas mas humanas, capaz de me provocar riso, ternura e repulsa ao mesmo tempo. Um daqueles livros que, ao ler, imaginava em filme. Que entretanto descobri que já há.
Em resumo: numa pequena cidade italiana, um rapaz de 13 anos mora sozinho com o pai, um desempregado neonazi que vive de biscates, depois de a mãe os ter deixado. O pai tem dois amigos, um com problemas mentais e neurológicos obcecado por uma personagem de um filme porno, e outro também abandonado pela mulher depois de a filha ter morrido com uma tampa de champô entalada na garganta. Todos desempregados que um dia planeiam roubar uma caixa multibanco. Só que na noite combinada cai um temporal daqueles, que muda tudo.
Eu sei que parece tudo um bocado exagerado e até «faca na liga». Mas ao ler Como Deus manda, de Niccoló Ammaniti, parece tudo extremamente real. Tal como na vida real, as coincidências acontecem. E, tal como na vida real, muitas vezes as personagens sentem simultaneamente amor e ódio pelo próximo.
Ganhou o Prémio Strega, o mais importante prémio literário em Itália, onde a produção literária é muita e boa. Prémio também já atribuído a escritores como Alberto Moravia, Primo levi, Sebastiano Vassalli, Sandro Veronesi e Umberto Eco. Acho que não é preciso dizer mais nada.
A sala de vidro, de Simon Mawer (€5 - 20% de desconto) - Uma casa moderníssima construída na Checoslováquia nos finais dos anos
20 por um arquitecto conhecido. A família que a encomendou e que a
habitou durante 10 anos até ter de a trocar pelos EUA para fugir da
perseguição nazi. Nos anos 40, a instalação de um laboratório de
biometria para medir cores de pele, olhos e cabelo, estruturas ósseas,
formas de maxilares, em busca do tipo judeu. No pós-guerra, a instalação
de um centro de fisioterapia para crianças vítimas de poliomielite. Nos
anos 60, a conversão em museu per si.
O livro de Simon Mawer narra de modo genial e cativante a história de
uma geração através da história da «sala de vidro» e das pessoas que por
lá passaram. A Casa Landauer fascinou-me, imaginei-a noites a fio
(talvez por gostar tanto de arquitectura mas acho que não só...), os
vidros enormes que desciam e abriam a sala para o jardim em declive, a
parede de ónix, as colunas em aço que sustinham todo aquele espaço.
Entretanto descobri que a Casa Landauer é de facto a Casa Tugendhat, de Mies
van der Rohe. Situa-se em Brno, na actual República Checa, e mantém hoje
praticamente as mesmas características de há 80 anos: moderna,
espaçosa, luminosa. Grande parte do romance foi imaginado (apesar de a
fuga da família ter sido real), mas a casa é descrita de modo exemplar.
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