14 de setembro de 2018

Sobre os manuais e o restante material escolar

Com a abertura do ano escolar, começam as habituais reportagens sobre o preço dos manuais, este ano um pouco mitigadas pelas notícias sobre o atraso nos manuais que o Estado está a disponibilizar (do 1.º ao 6.º ano de escolaridade, a título de empréstimo).

Se há algo que até agora me fazia confusão, era o facto de até agora nunca ter lido um artigo que mostrasse com clareza que o que se gasta no início do ano não é só com manuais, representando algumas vezes estes até a fatia menor. Por isso achei interessante o artigo do Jornal de Notícias de dia 11, que faz as contas dos gastos com manuais e com o restante material escolar, em listas separadas. E temos isto:



Basta dar uma vista de olhos rápida para perceber que até ao 7.º ano (excluindo o 5.º, que se trata de uma mudança de ciclo e onde entram em campo mais disciplinas) a balança está muito equilibrada, isto é, gasta-se praticamente o mesmo em manuais e livros de fichas e em outro material escolar (mochilas, fatos de treino, lápis e canetas, mochilas...). E, note-se, estes cálculos foram feitos pelo máximo nos manuais e pelo mínimo no restante material, o que na prática acabará por colocar mais peso neste último.

Não entendo, assim, a revolta de tantos pais contra as editoras e contra os manuais, que exigem como gratuitos. E os ténis e fatos de treino, também não são essenciais? E os lápis e canetas? E as calculadoras? Não deveria assim todo este material ser também gratuito, se é indispensável?

Custa dar €87,71 pelos manuais e livros de fichas para o 4.º ano, ferramentas essenciais para a aprendizagem, mas já não custa assim tanto (ou pelo menos não se reclama) dar €77,25 pelo restante material. Ou mais de €30 por uma mochila. Ou outro tanto por uns ténis da moda. E nem me atrevo a referir outros gastos em que os pais incorrem noutros campos porque isso daria pano para mangas.

Por isso, reclamem, sim senhor, porque faz parte da tradição, mas façam-no com coerência.

Nota: Para que não haja más interpretações, sou editora de manuais escolares, com pleno conhecimento do que custa produzi-los e do investimento financeiro e intelectual que exigem.

5 comentários:

Sérgio disse...

Não conheço ninguém que esteja a reclamar com os valores. No meu caso reclamo por me ter inscrito na plataforma assim que foi possível e só ter tido os vouchers 3 dias antes do início das aulas, o que implicou que só nessa altura me foi possível encomendar os livros que deverão demorar entre duas a três semanas.
No meu caso, feitas as contas para ao 5o ano, gastas à vontade 500 euros para o início das aulas.

Já agora, e por uma questão de coerência, como editora de manuais escolares, qual é a margem de lucro que a editora tem por manual escolar?

Rita disse...

A margem de lucro é bem menor do que se julga, tendo em conta o que se gasta na sua elaboração e o volume de exemplares vendidos. Vê os pontos 5 e 6 deste tópico que publiquei há 3 anos: https://vespaaabrandar.blogspot.com/search?q=manuais

Gente a reclamar há muita, basta ver as notícias: pelo menos os que têm filhos no ensino privado ou a frequentar anos a partir do 7.º (desde que não residam em concelhos onde os manuais sejam oferecidos pelas autarquias).

Sérgio disse...

Eu até comentei esse posto na altura.
Não sei como são feitos os livros, mas como qualquer empresa/produto, envolve pessoas (tal como fazer um pão, da semente ao supermercado, e provavelmente até mais), custos, e precisam ser bem geridas para serem rentáveis....
A sensação que tenho é os livros escolares funcionam muitas vezes para as editoras como o mês de Agosto no Algarve: é onde fazem o ano quase todo, e portanto carregam nessa altura.

CAP CRÉUS disse...

Eu reclamo de:

Livros demasiado grandes (em tamanho, não em número de páginas)
Demasiada cor. Menos cor, implica menos gastos, logo fica mais barato imprimir o livro.
Demasiados livros. Livro de Educ. Visual? Livro de TIC? Livro de Educ Física?

Considero igualmente, que tantos cadernos de fichas, são escusados. E mais o CD...

Quanto aos vouchers, estou-me nas tintas. Quando vierem, vieram. Estão quase todos em pé de igualdade.

Vespinha disse...

CAP, concordo contigo nos três primeiros pontos. Quanto aos cadernos de fichas, se não existirem dificultam a reutilização dos manuais. Quanto aos CD, o que há agora são licenças digitais, que também são oferecidas pelo Estado aos alunos até ao 6.º ano.