O autor do nome impronunciável mais uma vez não me desiludiu. Consegue que um único dia na vida de um prisioneiro num gulag seja assunto para cento e muitas páginas, sem ser nem um bocadinho aborrecido.
A miséria do campo entranha-se-nos na pele, com o frio de enregelar, a fome constante, o cansaço extremo. Desde o momento em que acorda às 5 da manhã na sua cama com colchão de serradura até ao momento em que se volta a deitar, acompanhamos Chukóv em toda a sua rotina.
As chamadas de centenas de prisioneiros ao frio, a demanda pelo pequeno-almoço, a tentativa constante de se aquecer, a ida para o trabalho como pedreiro, a jornada levada a cabo, apesar de tudo, com energia, o regresso e a loucura que é conseguir uma sopa aguada no refeitório. Mas Chukóv não é um lamuriador, mas antes alguém que vai tentando arranjar esquemas de sobrevivência, desde conseguir mais uma dose de pão até ter pequenas ferramentas escondidas que lhe facilitam a vida.
No final do dia, e já com 10 anos de campo em cima, adormece com a sensação de que até não foi um dia mau. Como todos os outros, aliás. É «só» uma questão de habituação.
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