2 de setembro de 2019

Até à eternidade, de Caitlin Doughty

Depois de ter lido Smoke gets in your eyes, sobre a sua experiência como colaboradora num crematório, tinha de ler este livro sobre o percurso de Caitlin Doughty pelo mundo em busca de outros modos de encarar a morte. E como aprendi.

Na Indonésia, conhece o povo que vive em Toraja, que convive com os seus mortos por vezes durante anos a fio, conservando-os em casa ou abrindo as suas sepulturas e confraternizando com eles regularmente. No Colorado, assiste a uma cremação original, numa pira funerária ao ar livre. Em Tóquio, fica a conhecer desde as tecnologias mais modernas, que através de um sistema robotizado permite aos familiares visitarem quando querem as cinzas dos falecidos, até à tradição de, depois de uma cremação, serem os familiares a separarem os ossos das cinzas com a ajuda de pauzinhos. Na Carolina do Norte, visita um complexo onde os corpos doados são decompostos ao ar livre, num processo de compostagem. Na Califórnia, praticam-se enterros naturais no deserto, com os corpos enterrados diretamente na terra apenas embrulhados num sudário.

E depois há também casos como o Tibete, que Caitlin não visitou mas que refere, em que os corpos são cortados em pedaços para alimentar os abutres, num fecho da cadeia alimentar.

Sempre que pode, Caitlin critica o sistema tradicional norte-americano, onde a cremação e o enterro são o mais asséticos possível, reduzindo ao mínimo o contacto com os mortos. O seu tom amigável e às vezes sarcástico ajuda, e as maravilhosas ilustrações de Landis Blair também.

Mais uma vez, e depois de já ter lido os dois livros, fico com a certeza de que, se um dia for possível em Portugal, gostaria de ter um enterro natural, sem caixões e sendo depositada diretamente na terra. Acreditemos que algumas tradições instituídas possam mudar.

1 comentário:

PEQUENOS DELITOS RENOVADOS disse...

Experiências interessantes!!!