20 de setembro de 2019

Desafio de escrita dos pássaros #2

O amor e um estalo (ou, para mim, o amor é um estalo)

Foi já há largos anos, mas recordo essa noite como se tivesse sido ontem. Estava já deitada, ele ainda não tinha chegado, mais uma vez atrasado no trabalho, ou não. Na escuridão do quarto, já deitado ao meu lado, sem coragem de me olhar nos olhos, disse-me que era o fim. O pai precisava dele, já não gostava de mim, e queria abrir caminho aos dois para refazermos a vida como quiséssemos. Não queria que perdêssemos mais tempo.

Nessa noite ainda ficou em casa, dormiu como sempre, enquanto eu, de olhos abertos, ainda pensava que vivia um pesadelo, com a ajuda do escuro da noite. De manhã saiu, para fazer qualquer coisa prática, e eu saí logo de seguida, numa fuga daquela realidade.

Só voltei a vê-lo uns dois meses depois, cumprimentou-me como se nada fosse, bem-disposto e sorridente, novamente acompanhado embora nunca mo confessasse.

O amor da minha vida deu-me um estalo, um estaladão, e depois mais outro, e tantos outros depois disso. Estalos sem mão, que são os que doem mais e que marcam para sempre.

8 comentários:

Sónia disse...

Esses são os estalos que mais doem

Belinha Fernandes disse...

Vespinha. Gostei imenso dessa frase de fecho: os estalos sem mão são os mais dolorosos, e que marcam para sempre. Sem dúvida!

Paulo disse...

Como concordo com a última frase, mesmo que aplicada a outros contextos.

Sarin disse...

São estalos que rasgam a alma e doem no corpo.
Talvez fique sempre uma ponta rasgada, mas a alma pode colar, crescer, renascer até. Mas apenas se alimentada.
Que nunca nos falte apetite :)

Maria Araújo disse...

Estalos na alma.

Ana de Deus disse...

um abraço enorme, de coração <3

Anónimo disse...

Esses ficam para sempre!

Ana Mestre

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Pink Poison disse...

pois, conheço a sensação mas até agradeci... Dado que levei estalo com mão