Estou metade da semana em teletrabalho intenso e a outra metade e fim de semana com as miúdas a full, que não me permitem um minuto de desatenção. Estão a ser tempos difíceis.
Ficar em casa com crianças pequenas não é poder ler à vontade. Ver filmes e séries sempre que nos apetecer. Comer coisas boas feitas com calma. Organizar livros, roupa e tudo o que estava há meses à espera. Dormir boas sestas. Conversar com os amigos. Inventar memes giros e partilhá-los. Esticarmo-nos no sofá ao sabor da vontade.
Ficar em casa com duas crianças quase a fazer 4 anos é uma realidade totalmente diferente. É levantarmo-nos e já ter a casa num caos. É não conseguirmos tomar banho até às 11h porque antes disso há que arrumar tudo e tratar delas. É ouvir chamar-nos centenas de vezes por dia. É controlar a própria frustração delas e o comportamento que se alterou e até regrediu. É ter de pensar e confecionar todas as refeições a horas. É gerir birras e conflitos. É tentar inventar todas as brincadeiras possíveis. É não conseguir ter uma conversa ao telemóvel porque pedem atenção permanente. É não ter um minuto de silêncio ou de sossego. É não conseguir ler, ver filmes ou mesmo ouvir a nossa música.
Ficar em casa com crianças pequenas é o maior desafio à sanidade mental que já vivi.
Ao fim do dia, só sobra energia para ver uma ou outra série de episódios curtos (recomendo Killing Eve, na HBO, e After life, na Netflix) e ler meia dúzia de páginas para manter o hábito da leitura, que nunca esteve em níveis tão baixos (li O corpo, de Bill Bryson, Cair para dentro, de Valério Romão, Conspiração contra a América, de Philip Roth, e A educação dos gafanhotos, de David Machado).
Coisas positivas que entretanto aconteceram com as Oliveirinhas: já chegaram ao metro de altura, já sabem afiar os lápis sozinhas e já aprenderam a andar de bicicleta (com rodinhas). Duvido que lhes tivesse ensinado as duas últimas se não estivesse mais tempo com elas.
Tentarei vir aqui mais amiúde.