1 de setembro de 2007

O mundo na casa dos espelhos

Quando era miúda, e até há bem pouco tempo, adorava ir à Feira Popular. Toda aquela decadência das diversões enferrujadas e repintadas vezes sem conta, o cheiro enjoativo das farturas e do frango assado, os corantes do algodão doce, as buzinas dos carrocéis a avisar que era a hora da partida, os desgraçados empregados dos restaurantes a tentar convencer-nos a entrar... E os comboios-fantasma, onde nunca consegui entrar sem tapar os olhos durante todo o percurso, até um dia desistir de tentar. O único sítio onde ainda conseguia ir era à Casa Maldita, talvez por o percurso ser a pé e, com o meu ritmo, poder controlar quando ia apanhar os sustos. Um dia fiz batota: levei uma lanterninha e tornei-me a pessoa mais corajosa do mundo...

Pertinho havia a Casa dos Espelhos. Nessa sim, divertia-me mas só em miúda, porque mais crescida, para ver deformações do corpo, já bastava o espelho lá de casa. Mas ria-me porque via uma realidade diferente, uma realidade que não era a realidade.

E ontem descobri que também o mundo vai à casa dos espelhos, aliás, vive lá todos os dias. Mas neste caso já não dá vontade de rir. Porque estes espelhos sim, apesar de deformarem, reflectem a realidade tal como ela é, ajudam-nos a vê-la melhor. O método já me tinha sido referido por um professor de Geografia, mas ontem li um artigo na Sábado e fui espreitar o site:

http://www.worldmapper.org/


A ideia é simples mas genial e muito visual: a partir de um planisfério, dá-se aos países novas dimensões consoante as proporções do critério que se quer visualizar. Por exemplo, se se quiser representar o trabalho infantil no mundo, o mapa aparece assim:




Uuppss... A Europa e a América do Norte quase desapareceram, mas em contrapartida África e Ásia ganharam proporções assustadoras. Mas é assim a realidade que não se vê.

Mas se se pegar noutro critério, por exemplo, os mamíferos em risco de extinção, o mundo transforma-se nisto:


Aha! Agora já se vê a Europa, aliás todo o mundo parece mais equilibrado. Mas tendo em conta o que mapa representa, antes estivesse vazio...

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