No Natal reúne-se a família. Infelizmente, a minha tem sido reduzida ao longo dos anos. Os mais velhos foram morrendo, não houve renovação com crianças, a separação dos meus pais reduziu ainda mais o número de pessoas reunidas (em contrapartida, este ano tive 3 jantares de Natal familiares: a 21, a 24 e a 25 de Dezembro).
Mas, pelo segundo ano consecutivo, a minha mãe teve o dom de trazer para a noite de Natal pessoas que já cá não estão. O ano passado, ofereceu-me uma fotografia do meu avô. Este ano, uma T-shirt com um passarinho pintada por uma tia, que eu devo ter usado no fim dos anos 80, pouco antes de ela morrer, nova. Espero deliciada pelo próximo Natal porque, melhor do que qualquer presente comprado, é receber estas pequenas heranças que só para mim têm valor. E muito.
29 de dezembro de 2008
27 de dezembro de 2008
Supertópico sobre superfilmes
E como já não escrevo qualquer tópico há muito tempo, e porque até tenho muita coisa para dizer, tento agora pôr a filmografia em dia.
Ensaio sobre a Cegueira - O título em inglês, Blindness, é bem mais forte, mas faça-se jus ao romance de Saramago que lhe serviu de inspiração. Para quem não conhece a história, uma epidemia de cegueira invade uma grande cidade, afectando todos menos uma única mulher (Julianne Moore, numa óptima interpretação). Aos poucos, o ser humano de cada um vai desaparecendo, dando lugar ao mais básico instinto de sobrevivência, pela comida, pelo sexo, pelo espaço, por tudo. Quando li o livro há uns anos, fiquei impressionada, sobretudo com a descrição das cenas de sexo praticado em qualquer lugar entre desconhecidos tomados pela cegueira. Mas o filme consegue chocar ainda mais: vejo todas as imundícies, sinto todos os cheiros, ouço todos os ruídos, e tenho pavor de que um dia o mesmo nos pudesse acontecer. Excelente adaptação, que o próprio Saramago agradeceu por ter sido feita.
Se há alturas em que não há nada de jeito para ver no cinema, estamos agora numa época em que a escolha de boas hipóteses é tão grande que me vejo aflita para conseguir ver tudo antes que saiam de cartaz. Começando pelo que vi mais recentemente...
Caos Calmo - Nanni Moretti mais uma vez no seu melhor. Este filme não é realizado por ele mas teve a sua colaboração no argumento, e Moretti é a personagem principal que aparece em mesmo todas as cenas. Adaptado do livro de Sandro Veronesi, é a história de Pietro, um homem cuja mulher morre de repente enquanto ele estava na praia a salvar outra mulher de morrer afogada. Dias depois, ao levar a filha à escola, Pietro decide ficar lá fora todo o dia à espera, sentado num banco de jardim ou no carro. E no dia seguinte a mesma coisa. E no outro a seguir também. A certa altura, o mundo de Pietro gira naquele jardim, onde familiares, amigos e colegas de trabalho o visitam porque a vida dos outros não pode parar. No meio do drama, Nanni Moretti consegue mais uma vez fazer-nos rir, como já tinha acontecido em O Quarto do Filho, Querido Diário, Abril... O olhar directo, os pensamentos imponderáveis, as listas mentais, tudo é do melhor que há. Muito, muito bom.
Bolt - Um cão actor que nunca viveu fora do estúdio julga que tem superpoderes a sério. Até que um dia, num daqueles azares que só acontecem nos filmes, entre num caixote e vai parar a um estado do outro lado do continente. E, aos poucos, vai-se apercebendo de que superpoderes só mesmo nos filmes. Acompanhado por uma gata manhosa e por um hamster deslumbrado com o seu suposto super-herói, Bolt empreende uma viagem de milhares de quilómetros para voltar para a sua «pessoa» e para a sua casa, aproveitando para, pelo meio, aprender a ser um cão a sério. Em algumas salas, o filme vê-se em 3D com uns óculos próprios (já de plástico, bem diferentes dos usados para ver o longínquo Monstro da Lagoa Negra...), e vale a pena. A ver por miúdos e não só.
Ensaio sobre a Cegueira - O título em inglês, Blindness, é bem mais forte, mas faça-se jus ao romance de Saramago que lhe serviu de inspiração. Para quem não conhece a história, uma epidemia de cegueira invade uma grande cidade, afectando todos menos uma única mulher (Julianne Moore, numa óptima interpretação). Aos poucos, o ser humano de cada um vai desaparecendo, dando lugar ao mais básico instinto de sobrevivência, pela comida, pelo sexo, pelo espaço, por tudo. Quando li o livro há uns anos, fiquei impressionada, sobretudo com a descrição das cenas de sexo praticado em qualquer lugar entre desconhecidos tomados pela cegueira. Mas o filme consegue chocar ainda mais: vejo todas as imundícies, sinto todos os cheiros, ouço todos os ruídos, e tenho pavor de que um dia o mesmo nos pudesse acontecer. Excelente adaptação, que o próprio Saramago agradeceu por ter sido feita.
By the way, muitos outros filmes que quero ver depressa: A Turma, Amália, Austrália, Madagáscar 2, Destruir Depois de Ler.
15 de dezembro de 2008
Situação surreal
Eu no computador, online com a empresa. A televisão no Mezzo, a transmitir um concerto de música clássica. As gatas a entrar e a sair de casa aos pulos. E 3 homens pendurados em escadotes a colarem-me papel na parede. Agora, neste momento.
14 de dezembro de 2008
Mais uma sugestão saramaguiana
Emitido no dia 10.12, na RTP.
Repetido hoje, 14.12, na RTPN, às 21h00.
E repetido outra vez no dia 23.12, na RTP2, às 00h10.
Levantado do Chão, o documentário mais simples, mais completo e mais comovente que tenho visto nos últimos tempos: http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=24636&e_id=&c_id=1&dif=tv
Para ficar a saber quase tudo sobre o senhor que reparou que «às árvores pintadas não caem as folhas».
Repetido hoje, 14.12, na RTPN, às 21h00.
E repetido outra vez no dia 23.12, na RTP2, às 00h10.
Levantado do Chão, o documentário mais simples, mais completo e mais comovente que tenho visto nos últimos tempos: http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=24636&e_id=&c_id=1&dif=tv
Para ficar a saber quase tudo sobre o senhor que reparou que «às árvores pintadas não caem as folhas».
13 de dezembro de 2008
A viagem do elefante, de José Saramago
E a personagem principal... é mesmo um elefante.
Salomão, mais tarde rebaptizado Solimão, acompanhado de Subhro, mais tarde rebaptizado Fritz. Um elefante asiático e o seu cornaca (vulgo, tratador). Nascidos na Índia, vindos de Goa para Lisboa. Dois anos estacionados em Belém, até que um dia um rei se lembrou de o oferecer ao seu primo, arquiduque da Áustria. E assim começa a viagem. Um conto bem ao estilo saramago, com história, ironia, humor, comparações com o presente, muitos «flashforwards» que nos dão rebuçados de vez em quando.
Uma história que quase me é contada ao ouvido, em que quero cada vez mais conhecer o elefante, vê-lo, cheirá-lo, ouvir os seus barritos, tocar na sua pele grossa e áspera, ser enrolada pela sua tromba para ser pousada na sua testa.
Diz Saramago que Pilar não deixou que ele morresse, para que pudesse acabar este livro. Forma-se-me um nó na garganta e um aperto no peito só de imaginar que um dia poderá não haver mais elefantes a viajar pela minha imaginação.
PS: Nota especial para a fantástica capa que inicia a lavagem à cara dos livros de Saramago. Uma obra de arte que cobre outra obra de arte. Da autoria de Rui Garrido, que tenho a sorte de conhecer por sempre que lhe peço me dar também muitas e boas ideias para os livros escolares que edito.
7 de dezembro de 2008
3 de dezembro de 2008
Procura-se
E porque aqui há dias me esqueci de referir outra profissão que não me importava de ter (mas só como nas séries...), aqui vai: detective, hoje mais do que nunca. Isto porque sou extremamente curiosa, e tantas e tantas vezes gosto de saber das coisas porque sim, não porque me sirvam para alguma coisa, mas porque simplesmente gosto de saber.
Só que hoje até me dava muito jeito. Porque a minha empregada desapareceu sem deixar rasto. Trabalhava comigo, na minha mãe e em mais 2 ou 3 amigos há mais de 4 anos e, de repente, nada. A semana passada insistiu a pedir-nos o subsídio de Natal, pedido estranho, uma vez quer era algo a que tinha direito e que nem precisava de pedir. Que vinham cá os filhos no Natal (é romena) e uns cunhados, que queria comprar as passagens. Só estranhámos a insistência e a vinda dos filhos, que cá tinham estado há pouco tempo. Ontem de manhã, não apareceu, ela que em 5 anos de trabalho nem uma vez faltou. Telemóvel desligado. Pela hora de almoço, apercebemo-nos de que durante o fim-de-semana deixara as chaves de todas as casas em que trabalhava em cada caixa de correio, dentro de sobrescritos, sem nenhum recado. Para quem não a conhece, pode não parecer uma atitude tão estranha, simplesmente terá voltado para a Roménia sem mais. Mas nós conhecíamos a L, conversávamos e preocupávamo-nos com ela. E sabemos que para ter tomado uma atitude destas algo de muito errado deve ter acontecido. Ontem antes de me deitar ainda lhe enviei uma mensagem. A dizer-lhe que tinha pena mas que esperava que estivesse bem. Sei que durante a noite a recebeu. Não sei mais nada.
Só que hoje até me dava muito jeito. Porque a minha empregada desapareceu sem deixar rasto. Trabalhava comigo, na minha mãe e em mais 2 ou 3 amigos há mais de 4 anos e, de repente, nada. A semana passada insistiu a pedir-nos o subsídio de Natal, pedido estranho, uma vez quer era algo a que tinha direito e que nem precisava de pedir. Que vinham cá os filhos no Natal (é romena) e uns cunhados, que queria comprar as passagens. Só estranhámos a insistência e a vinda dos filhos, que cá tinham estado há pouco tempo. Ontem de manhã, não apareceu, ela que em 5 anos de trabalho nem uma vez faltou. Telemóvel desligado. Pela hora de almoço, apercebemo-nos de que durante o fim-de-semana deixara as chaves de todas as casas em que trabalhava em cada caixa de correio, dentro de sobrescritos, sem nenhum recado. Para quem não a conhece, pode não parecer uma atitude tão estranha, simplesmente terá voltado para a Roménia sem mais. Mas nós conhecíamos a L, conversávamos e preocupávamo-nos com ela. E sabemos que para ter tomado uma atitude destas algo de muito errado deve ter acontecido. Ontem antes de me deitar ainda lhe enviei uma mensagem. A dizer-lhe que tinha pena mas que esperava que estivesse bem. Sei que durante a noite a recebeu. Não sei mais nada.
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