Não por ter cenas de sexo (apesar de também ter nus…) nem palavrões, que eu não sou nada disso… Tem bolinha porque não é aconselhável a leitores muito impressionáveis. A sério. Porque vou falar de Stelarc, o artista australiano a cuja conferência assisti esta semana. O tal mais conhecido pela orelha no braço.
Com um sentido de humor de que não suspeitava, com uma clareza de espírito surpreendente, Stelarc esteve em Lisboa no âmbito da exposição «Inside – Arte e ciência» e falou sobre o seu percurso, um percurso em que não tem faltado dor física inflingida apenas a si próprio, um percurso em que a experimentação artística dependeu sempre da ciência. Para demonstrar que, sob o seu ponto de vista, o corpo humano está obsoleto.
Em resumo, dos projetos de Stelarc, aqueles que mais me impressionaram:
- a suspensão – no início dos anos 80, Stelarc fazia-se elevar, totalmente despido, através de dezenas de ganchos espetados na pele. Fê-lo deitado, atravessando pendurado uma rua de Nova Iorque, também deitado balouçando ao sabor do vento junto a uma falésia no Japão, e em pé, suspenso de uma calha e cujo movimento ele próprio controlava, deslocando-se dentro de um pavilhão de grandes dimensões com o público debaixo de si.
- a escultura dentro do estômago – inserção no estômago de uma cápsula metálica de 7 x 1,5 cm. Com a particularidade de o aparelho emitir sons e luzes e ter um sistema de abertura e fecho, podendo atingir as dimensões de 7 x 5 cm (quando se abria para os lados) ou de 8 x 1,5 cm (quando se abria para cima e para baixo). Os movimentos eram depois filmados através de uma endoscopia. Diz Stelarc que foi o seu projeto mais doloroso de sempre.
- stimbod voltage-in / voltage-out – através da colocação de elétrodos em diversos pontos do braço, e com estimulação através de um computador, o braço inerte ganha vida, e Stelarc chegou a estar 4 horas seguidas sujeito a esta experiência. Teoricamente, este sistema pode dar movimento a todo um corpo, colocando-a a andar.
- a orelha no braço – inserção da estrutura de uma orelha no antebraço esquerdo de Stelarc, que depois foi absorvida pelos seus próprios tecidos. O próximo projecto é a colocação de um Bluetooth na terceira orelha para que, em qualquer parte do mundo, qualquer um de nós consiga ouvir, através da internet, o que Stelarc estiver a dizer ou a escutar.
- the thinking head – um programa de computador cheio de informação sobre o artista, pessoal e profissional. Depois, é só fazer-lhe perguntas. Sobre sexo, sobre religião, sobre dor, o Stelarc virtual tem resposta para tudo. O desenvolvimento do programa passará por o computador conseguir identificar as caraterísticas físicas (cor dos olhos, cabelo) e emocionais de quem lhe estiver a fazer as perguntas (alegria, tristeza).
Este homem pode parecer altamente doente e sinistro, mas a verdade é que me surpreendeu precisamente pelo contrário. Dinâmico, com explicações simples e com o objectivo de demonstrar que o corpo humano está obsoleto, servindo-se apenas de si próprio e nada mais. E, além disto, os projetos de Stelarc vão mais longe, como o de um dia se conseguirem instalar câmaras dentro dos nossos corpos para detetar as doenças antes de os seus sintomas aparecerem à superfície.
Neste pequeno filme, o próprio Stelarc a descrever (e a mostrar) os seus primeiros projetos:
7 comentários:
Lamento imenso, mas continuo a achar o homem doido (e tremendamente sinistro). Só me lembra o Dr. Octopus, vê lá: http://www.youtube.com/watch?v=C2tZKF-RCJU
Eu avisei que tinha bolinha! ;)
E não conhecia o Octopus... quero ver esse filme!
Ele também era um cientista... até enlouquecer :-)
Mana, é uma personagem do segundo SpiderMan. :)
Beijinhos,
percebo-te quando te surpreendes com a simplicidade do louco...
Só a sininho é que me compreende! :)
Para mim tb é tudo louco de mais!
Mas gostei de conhecer.
xxx
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