31 de janeiro de 2011

Três homens num barco, de Jerome K. Jerome

Quem disse que a literatura light é necessária para criar leitores? Depois do último livro que li, acredito que novos leitores podem ser criados de muitas outras formas, até mesmo através de um pequeno livrinho publicado no final do século XIX e que é tudo menos aborrecido e desactualizado.

Em Três homens num barco (já para não falar do cão), publicado em 1889, Jerome K. Jerome descreve uma viagem de barco a remos pelo Tamisa durante 15 dias, levada a cabo por três amigos (inspirada numa viagem que o próprio tinha feito com a mulher uns tempos antes). As peripécias em que os três dandies se envolvem são muitas e cómicas, as situações que recordam são surreais, a ingenuidade que demonstram é extremamente engraçada. Já para não falar da escrita de J. K. J., leve, com frases curtas e tantas expressões do dia-a-dia.

Na época do seu lançamento, o livro foi um sucesso, tendo o tráfego no Tamisa aumentado cerca de 50 por cento no ano seguinte. Nos seus primeiros vinte anos de vida, este título vendeu um milhão de exemplares.

Para mim, ainda hoje tem um enorme potencial, acho que o recomendarei a quem me apareça à frente a dizer que não gosta de ler. É quase impossível não gostar.

29 de janeiro de 2011

Para mim, são perfeitos

Eu estou mesmo apaixonada pelos diários gráficos, surpreendem-me dia após dia pela sua qualidade, pela sua variedade, pela sua realidade.


Hoje ao iníco da tarde fui ao CCB ver a exposição Tinta nos nervos, banda desenhada portuguesa, que apresenta trabalhos de 41 desenhadores. Gostei, alguns surpreenderam-me pela novidade. De seguida fui ao Museu da Cidade de Almada à inauguração de Diários gráficos em Almada. E que diferença! Perdoem-me alguns dos desenhadores representados no CCB (até porque alguns também estão na exposição de Almada), se calhar estou aqui a escrever uma barbaridade, mas na maior parte dos casos o que vi em Almada dá 10 a 0 aos primeiros. São mais de 400 trabalhos de 30 desenhadores, que assim se descrevem a si próprios: «Não somos desenhadores perfeitos.» Pois eu acho que estão lá muito perto.


Maravilhei-me com aqueles cadernos cheios de vida, pequenos no tamanho mas tão grandes naquilo que contêm. Visões do dia-a-dia, de pessoas, de sítios, de momentos, de sentimentos. Sempre com um toque muito pessoal, recorrendo a técnicas que vão da tinta-da-china à colagem, passando pela simples esferográfica ou pelas canetas de feltro.


A qualidade do que vi não foi a maior surpresa, porque já a conhecia bem. Surpresa a sério foi a simpatia com que eu e uma amiga fomos recebidas. Ainda que já houvesse um elo de ligação, o extraordinário Eduardo Salavisa (também mentor em Portugal da divulgação desta forma de arte), surpreendeu-me a humildade daqueles artistas, sempre com um sorriso nos lábios, sempre interessados em quem se interessa pelo trabalho deles. E vale a pena ganhar interesse. Muito.


Vespas na Costa do Castelo, João Catarino.


Azinhaga em Carnide, Pedro Cabral.

27 de janeiro de 2011

Tenho uma pegada demasiado grande

Eu lavo os dentes com a torneira fechada, eu uso muitas vezes a descarga mínima do autoclismo, eu no Verão só rego as plantas do pátio à noite, eu comprei um jarro filtrador Brita para não ter de usar água engarrafada, eu só uso a máquina de lavar roupa cheia e com as temperaturas mais baixas, eu nunca deixo os aparelhos electrónicos em stand-by, eu aderi à tarifa bi-horária, eu reciclo tudo e mais alguma coisa (até as cápsulas da Nespresso), eu conduzo devagar...

... mas a verdade é tenho uma pegada ecológica miserável: 3 vírgula qualquer coisa. E sei que um dos grandes responsáveis por este valor vergonhoso é o facto de conduzir um veículo todo-o-terreno. Assim, já decidi que daqui a uns anos, quando os preços baixarem substancialmente e a autonomia aumentar, vou ter um veículo eléctrico. Não que sejam muito bonitos, mas de certeza que são mais económicos e muito mais amigos do ambiente.

Este é um dos por agora disponíveis, e por acaso até foi fotografado aqui à porta de casa:

26 de janeiro de 2011

Desliguem para se ligarem

É tão bom ter telemóveis, e iPods, e iPads, e etc. e tal... mas melhor ainda é desligá-los e ter amigos e família de carne e osso.

23 de janeiro de 2011

As presidenciais de hoje, para mim

Como eu gostava de ter tido interesse e respeito por esta campanha eleitoral, de ter querido ir a um comício na sexta-feira à noite, de hoje ter sentido algo ao deitar o voto na urna, de sentir crescer a ansiedade ao longo do dia, de ao fim da tarde acompanhar as transmissões de todos os canais, de roer as unhas ao conhecer os primeiros números, de pular de alegria ou ferver de raiva apor ter visto o meu candidato a vencer ou a perder.

Mas hoje eu não tenho candidatos. Ou melhor, tenho não-candidatos: duas pessoas que eu não queria de todo que ganhassem, fosse em que volta fosse; uma pessoa que me é indiferente; uma que não me importo que ganhe mas que acho que não terá perfil para lá estar; e outra ainda sobre a qual não tenho palavras.

Até daqui a 5 anos.

Ideia boa e barata

A marca Mr. Clean vende produtos de limpeza para a casa. E publicitar produtos de limpeza não é fácil, mas pode ser simples e genial. Como este anúncio aplicado numa passadeira na Alemanha. Branco mais branco não há.

17 de janeiro de 2011

Desenhos todos os dias

Hoje andei a limpar a secção «O que leio de dia», a retirar blogs inactivos, outros que já não me interessam, mas, acima de tudo, a acrescentar uns novos muito bons e que recomendo. Todos registos maravilhosos, todos com um estilo muito próprio, todos sobre a minha grande aspiração: a capacidade de manter um diário gráfico. Visitem-nos aqui ao lado:

- A janela de Alberti, de José Louro
- Bonecos de bolso, de Pedro Cabral
- Desenhos do dia, de Joao Catarino
- Desenhos em blocos, de Filipe Leal de Faria
- Urban sketchers
- Urban sketchers Portugal

Sem esquecer de voltar a referir o Diário gráfico, de Eduardo Salavisa, que me abriu a mente para estas coisas.

Pavilhão de Portugal, Parque das Nações, por Eduardo Salavisa.

16 de janeiro de 2011

A sala de vidro, de Simon Mawer


Uma casa moderníssima construída na Checoslováquia nos finais dos anos 20 por um arquitecto conhecido. A família que a encomendou e que a habitou durante 10 anos até ter de a trocar pelos EUA para fugir da perseguição nazi. Nos anos 40, a instalação de um laboratório de biometria para medir cores de pele, olhos e cabelo, estruturas ósseas, formas de maxilares, em busca do tipo judeu. No pós-guerra, a instalação de um centro de fisioterapia para crianças vítimas de poliomielite. Nos anos 60, a conversão em museu per si.
O livro de Simon Mawer narra de modo genial e cativante a história de uma geração através da história da «sala de vidro» e das pessoas que por lá passaram. A Casa Landauer fascinou-me, imaginei-a noites a fio (talvez por gostar tanto de arquitectura mas acho que não só...), os vidros enormes que desciam e abriam a sala para o jardim em declive, a parede de ónix, as colunas em aço que sustinham todo aquele espaço.


A «sala de vidro» hoje.
Hoje descobri que a Casa Landauer é de facto a Casa Tugendhat, de Mies van der Rohe. Situa-se em Brno, na actual República Checa, e mantém hoje praticamente as mesmas características de há 80 anos: moderna, espaçosa, luminosa. Grande parte do romance foi imaginado (apesar de a fuga da família ter sido real), mas a casa é descrita de modo exemplar. Depois de a imaginar tantas vezes, as fotografias que encontrei não me desiludiram. Para conhecer tudo aqui, no site da Villa Tugendhat.


Mies van der Rohe na «sala de vidro» em 1931.

Duas obras-primas, o livro e a casa.

15 de janeiro de 2011

Hoje dou a palavra...

... a Maria do Rosário Pedreira, que no seu blog Horas extraordinárias publicou ontem este extraordinário texto:

Por Maria do Rosário Pedreira, às 09:11 | comentar

Há uns tempos, um dos proprietários de um grande grupo editorial disse numa entrevista que os editores de livros não escolares pouco acrescentavam a um livro. Embora suspeite de que não era bem isto o que queria dizer e saiba de alguns editores que não têm na verdade praticamente nenhuma intervenção no que publicam (além da selecção, mas até isso é muito), fiquei logo de cabelos em pé – e até gostava que alguns autores pudessem explicar-lhe o trabalho que muitos dos editores desenvolvem entre o momento em que enviam os livros para avaliação e a sua ulterior publicação. Não me cabe, porém, elogiar o meu próprio trabalho (até porque nenhum editor pode criar o talento onde ele não existe e o sucesso de um livro é sempre da responsabilidade do autor) e só por isso não escrevo este postpara me queixar de uma afirmação que considerei bastante infeliz (pronto, já me queixei), mas para dizer que efectivamente é uma pena que alguns editores escolares (ou coordenadores, como já lhes ouvi chamar muitas vezes) não tenham o reconhecimento que merecem nem apareçam referidos nos meios de comunicação como acontece tantas vezes aos editores de literatura geral. Porque fazer livros escolares deve ser mesmo uma tarefa hercúlea: escolher os professores-autores, garantir que entregam tudo a tempo (tratando-se de livros com prazo certo para serem apresentados às escolas e ao ministério, não há como adiar a sua publicação), escolher um layout e ilustrações adequados e apelativos, controlar a revisão que tem de ser absolutamente rigorosa e imaculada a nível da informação e da correcção gramatical (se aparece um erro num livro escolar, dá logo notícia nos telejornais), ser, enfim, responsável, em última instância, pela aprendizagem de determinada matéria por milhares de crianças e jovens em todo o País. E, embora tenha sido professora durante algum tempo e nem todos os livros escolares tivessem o mesmo nível, hoje quero partilhar com os leitores deste blogue a minha admiração pelos que, tão discretamente, fazem um excelente trabalho que o público nunca aplaude.


Só me compete agradecer-lhe.

13 de janeiro de 2011

Recado para quem está a pensar ficar em casa


Votem Nobre, votem Cavaco, votem Coelho, votem Moura, votem Lopes, votem em branco... mas votem. Perder uma horita de um domingo não custará assim tanto. A meu ver, é um direito, sim. Mas também um dever.

10 de janeiro de 2011

A contradição humana, de Afonso Cruz



Este livro é bonito por fora, por dentro, na forma e no conteúdo. Em A contradição humana, Afonso Cruz, o homem dos sete ofícios (escritor, realizador, ilustrador, músico, fotógrafo), veste a pele de uma criança curiosa e perspicaz e observa o mundo à sua volta. E deixa-nos a pensar em coisas como estas:

- Percebi, certo dia, que o espelho do meu quarto é uma grande contradição: o meu lado esquerdo, quando reflectido, torna-se direito – e o direito, esquerdo - , mas a parte de cima não se torna parte de baixo. Nem a parte de baixo, parte de cima. Acontece o mesmo com o meu gato. Mesmo quando se vira o espelho ao contrário.

- Depois de me deparar com estas coisas que desafiam a lógica de todo o universo conhecido, comecei a observar algo mais curioso ainda. Dentro das pessoas – e isso inclui os vizinhos – habitam as maiores contradições. Por exemplo: A minha tia gosta muito de pássaros mas prende-os em gaiolas. É uma pena.

- O vizinho do sétimo esquerdo toca piano, canta e nunca desafina. Tem uns cabelos despenteados e uns dedos mais compridos do que aulas de Matemática. Mas o que realmente me impressiona é que ele toca músicas tristes e isso deixa-o feliz. Chega a chorar de feilicidade (eu já vi).

Agora imagine-se tudo isto escrito com letra manuscrita como a de uma criança e ilustrado a preto, vermelho e branco. Uma delícia.

4 de janeiro de 2011

Faça sol

É tão giro, simples como eu gosto; é modular, para eu deixar de me sentir atrofiada; tem viseira interior contra o sol, para quando eu me esquecer dos óculos escuros; foi-me oferecido e escolhido pelo meu irmão, a meu pedido no Natal... Só é pena estar há quase 2 semanas à espera de um dia bonito para o estrear.

3 de janeiro de 2011

Persepolis, de Marjane Satrapi


Se calhar quem me lê não tem muita paciência para a minha conversa sobre livros, muito menos para os de banda desenhada, mas eu não me canso de os recomendar, porque fazem parte da minha vida.

Este estava na minha to read list há muito tempo, e agora li-o de uma assentada. São mais de 300 páginas da autobiografia maravilhosa e emotiva de uma rapariga iraniana que chega à adolescência no eclodir da revolução islâmica e que vê o fundamentalismo obrigar à separação de sexos e à obrigação de as mulheres começarem a usar o véu, entre outras atrocidades. Marjane Satrapi teve a sorte de nascer numa família de mente aberta, que lhe deu uma educação isenta, que lhe permitiu sair do país, voltar a entrar e voltar a sair, que lhe perdoou e compreendeu todas as suas dúvidas e altos e baixos.

As ilustrações são belíssimas, de uma inocência comovente, a perspectiva é muito pessoal, sem esconder virtudes ou defeitos, cada capítulo é uma descoberta que queremos reler e reler.
Persepolis mostra-nos que as visões que nos chegam nunca são 100 por cento fiáveis, e que a realidade pode sempre ter várias leituras. Li, quero reler e gostava que todos fizessem o mesmo.

Para mim, esta vinheta representa todo o livro. Fabulosa:

História longa mas que vale a pena ler

Cada vez mais sou fã das redes sociais, nomeadamente do Facebook. Porque acredito, e tenho provas, de que pode mudar a vida de muita gente. No meu caso, para melhor.

Há quase um ano, em Janeiro, o cão do meu irmão não apareceu à hora de comer. De manhã estava lá; à tarde, já não. Desconfiámos que o jardineiro o teria deixado fugir e que alguém o teria apanhado logo de seguida. Apesar de o Cascão não ter por hábito andar fora do jardim, teria voltado para a casa nem que fosse por ouvir a Twiggy a ladrar. Percorremos todas as ruas da zona, a pé e de carro, passámos a pente fino as estradas circundantes, na hipótese de ter sido atropelado, o meu irmão ligou para o canil... nada.

Há duas semanas, num domingo de manhã, liguei-me ao Facebook. No feed de notícias, uma das primeiras era do grupo da Caderneta de Cromos, que por sua vez remetia para uma campanha de angariação de rações da União Zoófila. Juntei-me ao grupo da União Zoófila e, no mural, a primeira mensagem que apareceu referia um cão encontrado no dia anterior à noite, perto de casa do meu irmão, preso a uma grade, à chuva e com fome. A mensagem tinha uma fotografia. De um cão que parecia o Cascão. Mas uma coincidência destas era impossível. Pedi mais fotografias a quem tinha colocado a mensagem e, ao longo do dia, o que parecia impossível começava a deixar de o ser.

Entretanto, o Alfredo (nome que entretanto quem encontrou o cão à chuva lhe deu) tinha sido entregue no canil municipal, à espera que alguém o adoptasse ou que os donos aparecessem. Na segunda-feira, à hora de almoço, fui com o meu irmão ao canil e aqui a descrição dele é a melhor:

O senhor que nos guiou até lá disse: “Ele está ali ao fundo, nesta cela.” Sai de lá um cão que por um ou dois segundos estranhou a situação, ainda baralhado com tudo aquilo, e foi aí que se fez um click na cabeça dele, do Cascão! Ele deve ter pensado: “Espera lá, eles são os meus donos! Yupiiiiiiii!” Veio a correr para nós aos pulos de felicidade e a pedir mimos! Quanto mais diziamos “Cascão” mais ele pulava de contentamento, há um ano que não ouvia esta palavra. Pulava dava as suas mordidelas suaves de amizade na mão que lhe são típicas, enfim, não havia dúvidas, era o nosso Cascão. :)

O Cascão não pôde vir logo connosco, não tínhamos documentação que comprovássemos que era nosso, e a lei prevê um prazo mínimo até um animal poder ser dado para adopção. Assim, 8 dias depois, meia hora antes do fim do prazo, lá estávamos para adoptar o Cascão. Nós e três dos seus "padrinhos", graças a quem o Cascão foi reencontrado. Depois foi o preenchimento de uma série de papelada, a colocação do chip, a administração da vacina anti-rábica e, finalmente, o regresso a casa.

O próximo passo, causador de alguma ansiedade, era o reencontro com a Twiggy, que há quase um ano era senhora de todo o jardim. Algumas rosnadelas, alguma desconfiança, e segundos depois já o Cascão corria a toda a velocidade para o local onde costumava beber água e para sua casota. Horas depois, já os dois brincavam e saltavam como se nunca se tivessem separado.

Que este exemplo sirva para provar que as redes sociais até são uma coisa boa. Se não, leia-se Uma história sobre Oliveiras, publicada por mim em Junho e que também relata uma importante mudança na minha vida.

By the way, o Cascão agora também já tem página no Facebook.

1 de janeiro de 2011

1.1.11

Foi aqui que entrei em 2011, ao ar livre, bem no centro da cidade, com amigos e com uma pequena (mas importante) parte da família. Por esta altura a minha listinha de desejos já se terá desfeito na água da fonte sul.