7 de janeiro de 2016

Gato, Alexandre O'Neill

Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

                                                              Alexandre O'Neill

3 comentários:

ana chagas disse...


Lindo! Mas, nem donos nem servos. Um dos motivos porque gosto e dou-me tão bem com gatos é que é possível, com estes, apreciar a linguagem do silêncio, a subtileza da comunhão do mesmo espaço e estado de espírito, sereno, zen, quase preguiçoso. Os gatos são mal entendidos porque há muita gente que não entende esta cumplicidade. O amor não tem que ser sempre barulhento e cheio de movimento. Mas como explicar isto quando meio mundo não sabe apreciar o silêncio?

Marisa disse...

Muito bonito.
Um gato é mesmo aquele animal em que dá para fazer essa pergunta se se é dono ou servo. Eles têm aquele ar de decididos e que sabe mais do que nós.


ps. novo blog http://alittledreamsofme.blogspot.pt/

Vespinha disse...

Ana, o silêncio é de ouro, prezo-o muito... e os gatos são uma grande ajuda!

Marisa, vou lá espreitar. ;)