29 de setembro de 2018
28 de setembro de 2018
The bad doctor, de Ian Williams
Iwan James é um médico de clínica geral de uma pequena cidade, por cujas mãos passam todo o tipo de pacientes: aquele que «apenas» precisa de uma declaração para uma licença de portes de arma, o que não consegue estar com os sobrinhos pois meteu na cabeça que os pode molestar sexualmente, a velhota incontinente que tem de ser convencida a ser tratada, o homem com uma perturbação obsessiva compulsiva. A sua relação com eles é um misto de proximidade com necessidade de afastamento, que consegue através de longos passeios de bicicleta e conversas com o seu melhor amigo.
Ao mesmo tempo, Iwan confronta-se quase diariamente com o seu passado, quando ele próprio era vítima de perturbação obsessiva compulsiva orientada para o medo de que algo satânico prejudicasse a sua vida e a dos seus. Será que a perturbação está totalmente ultrapassada? Ou ainda influenciará o seu discernimento enquanto médico?
Uma novela gráfica muito interessante que, noutro formato, se poderia tornar entediante. Mas bem desenhada e com um bom argumento, é excelente.
Ao mesmo tempo, Iwan confronta-se quase diariamente com o seu passado, quando ele próprio era vítima de perturbação obsessiva compulsiva orientada para o medo de que algo satânico prejudicasse a sua vida e a dos seus. Será que a perturbação está totalmente ultrapassada? Ou ainda influenciará o seu discernimento enquanto médico?
Uma novela gráfica muito interessante que, noutro formato, se poderia tornar entediante. Mas bem desenhada e com um bom argumento, é excelente.
27 de setembro de 2018
Desdicionário: Comes e bebes
26 de setembro de 2018
25 de setembro de 2018
No jardim do ogre, de Leila Slimani
Depois de ter gostado tanto de Canção doce (Prémio Goncourt 2016), não poderia deixar de trazer da feira este No jardim do ogre, de Leila Slimani. Este foi o primeiro livro da franco-marroquina, e é bastante diferente do outro. Enquanto Canção doce tem laivos de thriller, No jardim do ogre apresenta-nos Adéle, uma mulher aparentemente banal mas que não consegue viver sem sexo compulsivo.
Casada e com um filho, Adéle só se sente completa nas relações de ocasião que tem, algumas mesmo violentas, mas que se esvaem às vezes horas ou minutos depois. Se por um lado não resiste a um homem, seja ele quase como for, por outro gosta de passar despercebida e chega a demonstrar medo de andar sozinha à noite na rua, com medo de violadores.
Apesar de se libertar em cada encontro que tem, pouco depois Adéle sente-se extremamente vazia, tentando mesmo ter uma vida «normal» mas não o conseguindo. É como algo que a puxa e que não tem força para contrariar. A história de uma ninfomaníaca em constante sofrimento.
Apesar da linguagem crua usada por Slimani, não se trata de literatura erótica, mas antes de um relato sobre uma mulher presa nas suas próprias compulsões. Relato esse que se lê também compulsivamente.
Muito boa esta escritora, espero que a Alfaguara continue a investir na tradução dos seus livros.
Casada e com um filho, Adéle só se sente completa nas relações de ocasião que tem, algumas mesmo violentas, mas que se esvaem às vezes horas ou minutos depois. Se por um lado não resiste a um homem, seja ele quase como for, por outro gosta de passar despercebida e chega a demonstrar medo de andar sozinha à noite na rua, com medo de violadores.
Apesar de se libertar em cada encontro que tem, pouco depois Adéle sente-se extremamente vazia, tentando mesmo ter uma vida «normal» mas não o conseguindo. É como algo que a puxa e que não tem força para contrariar. A história de uma ninfomaníaca em constante sofrimento.
Apesar da linguagem crua usada por Slimani, não se trata de literatura erótica, mas antes de um relato sobre uma mulher presa nas suas próprias compulsões. Relato esse que se lê também compulsivamente.
Muito boa esta escritora, espero que a Alfaguara continue a investir na tradução dos seus livros.
24 de setembro de 2018
A falta de civismo de alguns pais
Na escola das minhas filhas só deve entrar com o carro para o pequeno estacionamento quem tem miúdos pequenos, por uma questão de logística. O que não impede muitos outros pais de quererem (e conseguirem) entrar, para depois ficarem calmamente dentro do carro a falar ao telemóvel à espera dos miúdos, enquanto quem precisa não tem lugar.
Há dias fiz sinal a uma mãe que estava no carro ao telemóvel, perguntando se iria sair. Fez-me sinal de que não, o que eu interpretei como estando à espera de alguém a qualquer momento. Quinze minutos depois, quinze!, largou o telemóvel, ligou calmamente o carro e foi-se embora como se nada fosse.
Foram «só» quinze minutos em que não estive com as miúdas e em que depois apanhei um trânsito brutal para ir para casa. Que crianças anda este raio de gente a criar?
Há dias fiz sinal a uma mãe que estava no carro ao telemóvel, perguntando se iria sair. Fez-me sinal de que não, o que eu interpretei como estando à espera de alguém a qualquer momento. Quinze minutos depois, quinze!, largou o telemóvel, ligou calmamente o carro e foi-se embora como se nada fosse.
Foram «só» quinze minutos em que não estive com as miúdas e em que depois apanhei um trânsito brutal para ir para casa. Que crianças anda este raio de gente a criar?
23 de setembro de 2018
Parabéns, Mamã! Parabéns, Vovó!
Mais um ano a marcar positivamente a vida das tuas netas, a contribuir para que sejam pessoas melhores, a ensinar-lhes gracinhas, a ralhar-lhes quando é preciso, a dar-lhes todo o carinho que merecem.
Isto para mim vale tudo.
Beijinhos de todos.
21 de setembro de 2018
Desdicionário: Situações embaraçosas
E depois ficamos com aquela espécie de membrana pendurada. |
É isso e gente às cavalitas. |
E depois: despedimo-nos de novo ou ignoramo-nos? |
Tão simples e tão embaraçoso. |
Ui, isto pode ter tantos nomes... |
E não tem nada a ver com o inglês, é distração mesmo. |
Costumo ganhar (mas porque sou a primeira a entrar na sala). |
18 de setembro de 2018
Encontros da Fundação: O trabalho dá que pensar.
Este fim de semana tive a sorte de participar num dos melhores eventos a que fui até hoje: os Encontros da Fundação Francisco Manuel dos Santos O trabalho dá que pensar. Tudo foi pensado ao pormenor, com excelentes convidados e acontecimentos, uma organização impecável e o São Pedro a ajudar:
- o local: três dias no Jardim Botânico Tropical, que à noite se transformava num local mágico, cheio de recantos e de formas criadas pelas maravilhosas árvores que ali moram;
- a decoração: super bem enquadrada no ambiente, super coerente, super moderna e eficaz;
- o tema: muito bem escolhido e abordado dos mais diversos ângulos. O que foi o trabalho, o que é e o que será, o que é não ter trabalho, as diferenças no trabalho;
- os convidados: um dos fundadores da Wikipedia, economistas, o Governo Sombra, engenheiros, poetas, músicos, cientistas, jornalistas, escritores, gestores, um sem-número de pessoas interessantes que fizeram com que os três dias passassem num instante;
- os acontecimentos: conferências, debates, documentários, concertos, filmes, mesas redondas... para nunca, mas nunca ninguém se entediar;
- o catering: apesar de ter contado com cerca de 1000 participantes por dia, isso nunca se notou no que aos comes e bebes dizia respeito. Não havia fila, não havia confusões, era fácil obter o que nos apetecesse;
- os participantes: eram do mais variado que se pode imaginar, novos e velhos, famosos e anónimos, com o denominador comum da atitude descontraída e da vontade de ouvir e pensar em coisas novas;
- e o resto: a app espetacular que nos avisava das hipóteses que tínhamos para assitir, que nos relembrava os currículos dos participantes, que nos dava a oportunidade de classificar tudo; a simpatia de todo o staff, a pontualidade.
Enfim, não poderia ter sido melhor.
17 de setembro de 2018
De volta às séries
Graças a uma vaquinha feita com mais 3 pessoas, tenho agora a Netflix por um preço bem simpático. É agora que o meu índice de leitura vai baixar. Para já, tenho isto na minha lista:
Séries:
- Orange is the new black - 3 episódios vistos (6 temporadas ao todo)
- Narcos - 3 temporadas para ver
- Sherlock - 4 temporadas para ver
- O mecanismo - 1 temporada para ver
- La casa de papel - 2 temporadas para ver
- Segurança Nacional - falta-me ver 2 temporadas (de um total de 6)
- Mad Men - 7 temporadas para ver
- Downton Abbey - falta-me ver 2 temporadas (de um total de 6)
- Safe - 1 temporada para ver
- Luther - as 4 temporadas para rever
- Alias Grace - 6 episódios para ver (mas primeiro quero ler o livro)
- Black mirror - 4 temporadas para ver
Documentários:
- Turismo macabro - 1 temporada para ver
- Inside the world's toughest prisons - 2 temporadas para ver
- The world's most extraordinary homes - 1 temporada para ver
E nem vou referir os filmes... Agora só me questiono como me vou organizar com duas miúdas para cuidar e brincar, dezenas de livros para ler e agora estes episódios para ver. Já para não falar em tudo o que se passa fora de casa.
14 de setembro de 2018
Sobre os manuais e o restante material escolar
Com a abertura do ano escolar, começam as habituais reportagens sobre o preço dos manuais, este ano um pouco mitigadas pelas notícias sobre o atraso nos manuais que o Estado está a disponibilizar (do 1.º ao 6.º ano de escolaridade, a título de empréstimo).
Se há algo que até agora me fazia confusão, era o facto de até agora nunca ter lido um artigo que mostrasse com clareza que o que se gasta no início do ano não é só com manuais, representando algumas vezes estes até a fatia menor. Por isso achei interessante o artigo do Jornal de Notícias de dia 11, que faz as contas dos gastos com manuais e com o restante material escolar, em listas separadas. E temos isto:
Basta dar uma vista de olhos rápida para perceber que até ao 7.º ano (excluindo o 5.º, que se trata de uma mudança de ciclo e onde entram em campo mais disciplinas) a balança está muito equilibrada, isto é, gasta-se praticamente o mesmo em manuais e livros de fichas e em outro material escolar (mochilas, fatos de treino, lápis e canetas, mochilas...). E, note-se, estes cálculos foram feitos pelo máximo nos manuais e pelo mínimo no restante material, o que na prática acabará por colocar mais peso neste último.
Não entendo, assim, a revolta de tantos pais contra as editoras e contra os manuais, que exigem como gratuitos. E os ténis e fatos de treino, também não são essenciais? E os lápis e canetas? E as calculadoras? Não deveria assim todo este material ser também gratuito, se é indispensável?
Custa dar €87,71 pelos manuais e livros de fichas para o 4.º ano, ferramentas essenciais para a aprendizagem, mas já não custa assim tanto (ou pelo menos não se reclama) dar €77,25 pelo restante material. Ou mais de €30 por uma mochila. Ou outro tanto por uns ténis da moda. E nem me atrevo a referir outros gastos em que os pais incorrem noutros campos porque isso daria pano para mangas.
Por isso, reclamem, sim senhor, porque faz parte da tradição, mas façam-no com coerência.
Nota: Para que não haja más interpretações, sou editora de manuais escolares, com pleno conhecimento do que custa produzi-los e do investimento financeiro e intelectual que exigem.
Se há algo que até agora me fazia confusão, era o facto de até agora nunca ter lido um artigo que mostrasse com clareza que o que se gasta no início do ano não é só com manuais, representando algumas vezes estes até a fatia menor. Por isso achei interessante o artigo do Jornal de Notícias de dia 11, que faz as contas dos gastos com manuais e com o restante material escolar, em listas separadas. E temos isto:
Basta dar uma vista de olhos rápida para perceber que até ao 7.º ano (excluindo o 5.º, que se trata de uma mudança de ciclo e onde entram em campo mais disciplinas) a balança está muito equilibrada, isto é, gasta-se praticamente o mesmo em manuais e livros de fichas e em outro material escolar (mochilas, fatos de treino, lápis e canetas, mochilas...). E, note-se, estes cálculos foram feitos pelo máximo nos manuais e pelo mínimo no restante material, o que na prática acabará por colocar mais peso neste último.
Não entendo, assim, a revolta de tantos pais contra as editoras e contra os manuais, que exigem como gratuitos. E os ténis e fatos de treino, também não são essenciais? E os lápis e canetas? E as calculadoras? Não deveria assim todo este material ser também gratuito, se é indispensável?
Custa dar €87,71 pelos manuais e livros de fichas para o 4.º ano, ferramentas essenciais para a aprendizagem, mas já não custa assim tanto (ou pelo menos não se reclama) dar €77,25 pelo restante material. Ou mais de €30 por uma mochila. Ou outro tanto por uns ténis da moda. E nem me atrevo a referir outros gastos em que os pais incorrem noutros campos porque isso daria pano para mangas.
Por isso, reclamem, sim senhor, porque faz parte da tradição, mas façam-no com coerência.
Nota: Para que não haja más interpretações, sou editora de manuais escolares, com pleno conhecimento do que custa produzi-los e do investimento financeiro e intelectual que exigem.
13 de setembro de 2018
Da irresponsabilidade na profissão
Nos últimos dias tenho-me deparado com uma série de atitudes praticadas por «profissionais» que me fazem crer que o profissionalismo e a responsabilidade são coisas do passado:
- vão fazer-me uma vistoria de uma infiltração em casa, ficam de me ligar no próprio dia e estão uma semana sem dar cavaco;
- marcam uma reunião e simplesmente ninguém aparece;
- pedem uma opinião, damo-la e depois estão-se nas tintas para ela, incorrendo em erros;
- ligo, garantem que me ligarão logo a seguir de volta e 5 ou 6 horas depois está tudo na mesma;
- envio emails a pedir informação e nunca a obtenho antes de insistir duas ou três vezes;
- ...
Consequências? Zero. Vale a pena ser irresponsável. Vale a pena não nos preocuparmos com o próximo. Vale a pena vivermos a vida como se mais ninguém existisse. Desde que o ordenado continue a aparecer ao fim do mês, está tudo bem. Só que não está. Porque estas atitudes desgastam, fazem-nos desistir, colocam areia na engrenagem. E no fim todos ficaremos a perder.
- vão fazer-me uma vistoria de uma infiltração em casa, ficam de me ligar no próprio dia e estão uma semana sem dar cavaco;
- marcam uma reunião e simplesmente ninguém aparece;
- pedem uma opinião, damo-la e depois estão-se nas tintas para ela, incorrendo em erros;
- ligo, garantem que me ligarão logo a seguir de volta e 5 ou 6 horas depois está tudo na mesma;
- envio emails a pedir informação e nunca a obtenho antes de insistir duas ou três vezes;
- ...
Consequências? Zero. Vale a pena ser irresponsável. Vale a pena não nos preocuparmos com o próximo. Vale a pena vivermos a vida como se mais ninguém existisse. Desde que o ordenado continue a aparecer ao fim do mês, está tudo bem. Só que não está. Porque estas atitudes desgastam, fazem-nos desistir, colocam areia na engrenagem. E no fim todos ficaremos a perder.
Pois... |
12 de setembro de 2018
Desdicionário: Manias
11 de setembro de 2018
10 de setembro de 2018
O que vemos quando lemos, de Peter Mendelsund
Este é um livro totalmente diferente do que tenho lido. Não é um livro sobre livros, mas um livro sobre a leitura e o que formamos na nossa mente quando lemos. E vai além do título, pois não se refere apenas às imagens visuais que criamos, mas também às sensações captadas pelos restantes sentidos.
Ao ler a descrição de uma pessoa, imaginamo-la todos da mesma maneira? Ou será que um nariz afilado se transforma em imagens diferentes de leitor para leitor? E quando lemos a descrição de uma paisagem, não teremos tendência para a associar a uma paisagem que já conhecemos?
Gostei bastante dos fundamentos do livro, apesar de por vezes a argumentação se tornar demasiado abstrata. Mas o design supera tudo: recortes de outros livros, variações nos tamanhos de letra, desenhos inesperados... cada página é um mundo novo. Não é de desvalorizar que Mendelsund é também (e acima de tudo) um conceituado capista, colaborador de várias editoras e empresas de design.
Acima de tudo, dá gosto ver.
Ao ler a descrição de uma pessoa, imaginamo-la todos da mesma maneira? Ou será que um nariz afilado se transforma em imagens diferentes de leitor para leitor? E quando lemos a descrição de uma paisagem, não teremos tendência para a associar a uma paisagem que já conhecemos?
Gostei bastante dos fundamentos do livro, apesar de por vezes a argumentação se tornar demasiado abstrata. Mas o design supera tudo: recortes de outros livros, variações nos tamanhos de letra, desenhos inesperados... cada página é um mundo novo. Não é de desvalorizar que Mendelsund é também (e acima de tudo) um conceituado capista, colaborador de várias editoras e empresas de design.
Acima de tudo, dá gosto ver.
7 de setembro de 2018
Das ideias pré-feitas sobre os agentes imobiliários
Sempre olhei para a profissão de agente imobiliário com a ideia de que deve ser cansativo mas giríssimo andar a ver e a mostrar casas, algumas mais modestas mas outras verdadeiramente interessantes.
Mas agora, que a minha mãe vendeu a casa dela e está a tentar comprar outra, apercebi-me do verdadeiro trabalho de um agente imobiliário, e garanto que não dá metade do prazer que eu pensava:
- É preciso negociar, e muito. Com quem vende, quando acha que a sua casa vale mais do que darão por ela. Com quem compra, porque quer sempre puxar para baixo, além de estar quase sempre dependente de empréstimos e outros financiamentos que podem nunca chegar.
- É preciso lidar com muita burocracia. Saber que ónus recaem sobre as casas que angariam, como hipotecas e outras, pedir certidões, certificados e tanta outra papelada. E depois verificar se está tudo conforme. Tratar dos contratos promessa de compra e venda e das escrituras, conjugando todas as vontades.
- É preciso coordenar uma série de outros profissionais. Além dos compradores e vendedores, há os advogados, os solicitadores, os bancos, eu sei lá. E o telefone sempre com bateria para fazer e receber chamadas.
- É preciso ser motivador. Mostrar entusiasmo em cada casa que se mostra, mesmo que esteja cheia de defeitos que não podem nem devem ser omitidos. E ainda ter de ouvir os comentários nem sempre agradáveis.
- É preciso praticar bastante psicologia. Para gerir as ansiedades, frustrações e indecisões de vendedores e compradores. Pessoas que vendem involuntariamente porque precisam de se financiar, pessoas que vendem por falta de saúde, pessoas que vendem com vontade mas sempre com nostalgia. Pessoas que querem comprar mas não sabem o quê. Pessoas que veem uma casa hoje e a adoram mas a do dia seguinte é que é boa. Pessoas que só vão ver casas para se entreter, sem qualquer intenção de comprar. E tantas outras situações.
Nós temos sido clientes difíceis, tenho noção disso. Mas também sei que os haverá muito mais complicados. Não é mesmo fácil esta profissão.
Mas agora, que a minha mãe vendeu a casa dela e está a tentar comprar outra, apercebi-me do verdadeiro trabalho de um agente imobiliário, e garanto que não dá metade do prazer que eu pensava:
- É preciso negociar, e muito. Com quem vende, quando acha que a sua casa vale mais do que darão por ela. Com quem compra, porque quer sempre puxar para baixo, além de estar quase sempre dependente de empréstimos e outros financiamentos que podem nunca chegar.
- É preciso lidar com muita burocracia. Saber que ónus recaem sobre as casas que angariam, como hipotecas e outras, pedir certidões, certificados e tanta outra papelada. E depois verificar se está tudo conforme. Tratar dos contratos promessa de compra e venda e das escrituras, conjugando todas as vontades.
- É preciso coordenar uma série de outros profissionais. Além dos compradores e vendedores, há os advogados, os solicitadores, os bancos, eu sei lá. E o telefone sempre com bateria para fazer e receber chamadas.
- É preciso ser motivador. Mostrar entusiasmo em cada casa que se mostra, mesmo que esteja cheia de defeitos que não podem nem devem ser omitidos. E ainda ter de ouvir os comentários nem sempre agradáveis.
- É preciso praticar bastante psicologia. Para gerir as ansiedades, frustrações e indecisões de vendedores e compradores. Pessoas que vendem involuntariamente porque precisam de se financiar, pessoas que vendem por falta de saúde, pessoas que vendem com vontade mas sempre com nostalgia. Pessoas que querem comprar mas não sabem o quê. Pessoas que veem uma casa hoje e a adoram mas a do dia seguinte é que é boa. Pessoas que só vão ver casas para se entreter, sem qualquer intenção de comprar. E tantas outras situações.
Nós temos sido clientes difíceis, tenho noção disso. Mas também sei que os haverá muito mais complicados. Não é mesmo fácil esta profissão.
6 de setembro de 2018
O filho, de Michel Rostain
Este livro entrou mesmo dentro de mim, de várias formas.
De forma resumida, é narrado por um jovem de 21 anos que morreu de forma inesperada e que conta e observa o luto dos pais (sobretudo do pai). Desde a análise de cada momento passado com os pais na semana que antecedeu a sua morte, passando pelo processo em que a mesma aceleradamente aconteceu, pelas cerimónias fúnebres e pela posterior deposição das cinzas.
Não há morbidez, mas uma montanha-russa de emoções, que após muitos altos e baixos de laivos de alegria e tristezas, termina lá no cimo, com a conclusão de que se consegue viver com uma tragédia destas.
Sofri com este livro sob vários prismas. Por um lado, do ponto de vista de uma mãe que não consegue de modo nenhum imaginar a dor que será a morte de um filho. Por outro, do ponto de vista de uma filha que já esteve muito perto da morte e que sofre só de pensar na angústia passada pelos pais. E foi este último ponto que mais me tocou, pensar que a dor que os meus pais e família anteciparam terá sido muito pior do que tudo aquilo que eu possa imaginar.
É um livro que se sente na pele e que nos deixa alguns arranhões.
Nota: Importante realçar que ganhou o Prémio Goncourt Primeiro Romance 2011.
De forma resumida, é narrado por um jovem de 21 anos que morreu de forma inesperada e que conta e observa o luto dos pais (sobretudo do pai). Desde a análise de cada momento passado com os pais na semana que antecedeu a sua morte, passando pelo processo em que a mesma aceleradamente aconteceu, pelas cerimónias fúnebres e pela posterior deposição das cinzas.
Não há morbidez, mas uma montanha-russa de emoções, que após muitos altos e baixos de laivos de alegria e tristezas, termina lá no cimo, com a conclusão de que se consegue viver com uma tragédia destas.
Sofri com este livro sob vários prismas. Por um lado, do ponto de vista de uma mãe que não consegue de modo nenhum imaginar a dor que será a morte de um filho. Por outro, do ponto de vista de uma filha que já esteve muito perto da morte e que sofre só de pensar na angústia passada pelos pais. E foi este último ponto que mais me tocou, pensar que a dor que os meus pais e família anteciparam terá sido muito pior do que tudo aquilo que eu possa imaginar.
É um livro que se sente na pele e que nos deixa alguns arranhões.
Nota: Importante realçar que ganhou o Prémio Goncourt Primeiro Romance 2011.
5 de setembro de 2018
Desdicionário: Portuguesices
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