28 de fevereiro de 2009

Os meus carros também contam histórias

Quem me conhece sabe que gosto muito carros. De preferência robustos mas acima de tudo que não sejam iguais a todos os outros. Não troco de carro com regularidade, sou adepta de comprar em 2.ª mão mas «em bom», tenho o mesmo carro há 5 anos e estou muito contente com ele. Os meus carros têm uma história, que se mistura com a minha. Cada um me traz recordações, boas e más, mas que não deixo de relembrar quase sempre que vejo um igual. Sei de cor a matrícula de quase todos, seria capaz de entrar neste momento em qualquer um e arrancar.

E aqui estão os carros da minha vida:

- O primeiro de todos (Opel Corsa cinzento escuro, de 1988, PE-37-20). Herdado da minha mãe, foi um dos que mais sofreu nas minhas mãos e aquele com que mais vezes bati. Com ele, fiquei com a traseira encaixada numa paragem de autocarro e entrei pela feira de S. Pedro de Sintra adentro, partindo uma data de pratos.

- O primeiro novo nas minhas mãos (Ford Ka cinzento escuro, de 1998, 39-36-JQ). Aquele que me traz melhores recordações e que me acompanhou numa das melhores fases da minha vida. Tive muita pena de ter de o vender, mas uma oportunidade não se pode perder. Certas noites ainda sonho com ele, como se estivesse lá fora pronto para o conduzir. Já o vi entretanto mais duas vezes, e fiquei com lágrimas nos olhos.
- O companheiro das aventuras (Land Rover Defender branco, de 2001, 98-03-SJ). Comprei-o imaculado em 2.ª mão, com apenas 170 km. Passado uns meses já não estava tão imaculado e encontrava-se bem mais carregado de acessórios. Serviu para subir bem alto e atravessar vaus quase impossíveis e até para temperar carne em cima do capot. Tenho saudades de andar lá em cima.
- O que durou menos tempo (BMW 328i cinzento claro, não me lembro da matrícula). Tive-o durante 3 ou 4 meses, marcou uma das piores fases da minha vida e não descansei enquanto não o vendi. Talvez por me ter sido «imposto», nunca me identifiquei com este estilo.

- O que tenho hoje e que sempre quis ter (Land Rover Discovery II preto, de 2000). Também comprado em 2.ª mão e que já me tem feito desembolsar uns bons milhares de euros. Mas não me importo assim tanto. Adoro conduzi-lo, não ambiciono mais nenhum, sinto-me tão bem lá dentro como quando o comprei, em 2004. Marca 205.000 km e espero que aguente outros tantos.

26 de fevereiro de 2009

Casa mia

E já está. 14 meses depois de ter assinado o contrato promessa de compra e venda, 6 meses depois de ter vendido a casa antiga, 4 meses depois de ter vindo habitar para esta, a casa é finalmente minha, com escritura assinada e ponto. Ou pelo menos um 1/3 da casa; o resto é do banco, mas isso não interessa para nada.

Vivi estes meses em indefinição, sem pagar empréstimo mas também sem saber ao certo quanto iria ficar a pagar depois. Não gosto de situações cinzentas, ou sim ou não. Agora é sim.

O meu pátio um dia destes à noite, fotografado com uma máquina muito manhosa.

24 de fevereiro de 2009

Excentricidade ao cubo

Como gostos não se discutem, e apesar de saber que estas imagens vão causar repulsa a muita gente, tenho de guardar aqui algumas fotografias de um animal de que sempre gostei, desde que o vi no Algarve em miúda e que nunca mais voltei a ver ao vivo.

Cores vivas que altera para se exibir, camuflar, ameaçar ou mesmo regular a temperatura (sim, quando tem frio fica mais escuro para aquecer). Olhos com movimentos independentes que lhe permitem uma excelente visão mesmo quando não se mexe. Cauda preênsil para o ajudar a agarrar-se aos ramos. E surdo, muito surdo, talvez o motivo para toda esta explosão de excentricidade.

Furcifer pardalis, fotografia de Tom Junek.


Calumma Parsonii, fotografia de Jialiang Gao.

23 de fevereiro de 2009

Paralelismos que não queria encontrar

Kym abandona a clínica de reabilitação durante uns dias para voltar a casa e assistir ao casamento da irmã. Durante esse período, os sentimentos na família são um misto de saudades e de ansiedade, de medo que ela volte a mentir, a roubar, a ser indiscreta e a estragar os momentos. Pais divorciados, com famílias refeitas; o pai ansioso por conciliar e agradar, mas sempre atento a qualquer mau sinal; uma irmã mais velha preocupada com ela mas ressentida por tudo o que a outra os fez passar; um irmão mais novo já morto num acidente causado pela condução de Kym em estado pouco recomendável.

















Gostei muito de O Casamento de Rachel, de Jonathan Demme (O Silêncio dos Inocentes, Filadélfia). E ao mesmo tempo odiei-o.

Porque me fez pensar naquilo em que não quero pensar. Nos meus pais divorciados por problemas parecidos, na minha mãe durante muito tempo dominada pela minha irmã, no meu pai destruído e lavado em lágrimas quando descobria as suas mentiras, no meu irmão que felizmente raramente teve de andar de carro com ela. Os nomes são outros, o espaço geográfico também, as ocasiões também, mas tudo o resto é assustadoramente parecido. Dentro de 2 meses, a minha irmã estará temporariamente de volta. E se por um lado tenho saudades dela, a ansiedade que dentro de mim cresce é enorme, com medo de mais mentiras, de mais intrigas, de mais vigilância apertada. E, tal como a irmã de Kym no filme, sei que quando ela partir o meu sentimento será de alívio. Parece horrível, mas não o posso esconder. Nunca um filme me tinha parecido tão real.

22 de fevereiro de 2009

Máscaras como deve ser

E já que estamos no Carnaval (que eu, sublinhe-se, abomino, pelo ridículo das crianças mascaradas com os pais mais contentes do que elas e pela decadência e falta de gosto das ditas máscaras...), mais uma série de fotografias de Annie Leibovitz, esta com encenações de filmes da Disney. Verdadeiros cenários de sonho, em que não me importava de ter entrado. Máscaras a sério.

Where you're the fairest of them all. (Rachel Weisz como Branca de Neve)


















Where dreams run free. (Jessica Biel como Pocahontas)


















Where every wish is you command. (Whoopi Goldberg como O Génio)




















Where you're always the king of the court. (Roger Federer como Rei Artur)


















Where you never have to grow up. (Mikhail Baryshnikov como Peter Pan, Giselle Bündchen como Wendy e Tina Fey como Sininho)


















Where every Cinderella story comes true. (Scarlett Johansson como Cinderela)


















Where wonderland is your destiny. (Beyoncé como Alice, Lyle Lovett como March Hare e Oliver Platt como Chapeleiro Louco)


















Where a Whole new world awaits. (Jennifer Lopez como Jasmine e Marc Anthony como Aladino)


















Where the magic begins. (Julie Andrews como a Fada Azul de Pinóquio e Abigail Breslin como Fira de Disney Fairies)


















Where imagination saves the day. (David Beckham como Príncipe Filipe de Bela Adormecida)





21 de fevereiro de 2009

Citação 2 - A fé e a ciência

Quando temos sede parece-nos que poderíamos beber todo um oceano: isto é a fé; e quando bebemos, bebemos apenas um copo ou dois: isto é a ciência.

Anton Pavlovich Tchekhov (1860-1904), escritor e dramaturgo russo

Citação 1 - A religião e as ciências

É permitido a uma mulher católica evitar a gravidez recorrendo à matemática, contudo ela ainda está proibida de recorrer à física ou à química.

Henry Louis Mencken (1880-1956), jornalista e crítico social

17 de fevereiro de 2009

As benevolentes, de Jonathan Littell

Leio um calhamaço que estou a adorar. 890 páginas com letra pequenina (a que normalmente sou totalmente avessa...), as memórias de um ex-oficial nazi que participa na execução judaica, na invasão de Estalinegrado, na organização dos campos de concentração. As benevolentes, de Jonathan Littell, revela uma confissão crua, sem arrependimento mas também sem maldade, de alguém que afirma ter feito o que fez por ser o que tinha de fazer. Era o seu trabalho.

Não resisto a transcrever aqui duas passagens de um prefácio que considero excepcional:

Os fillósofos políticos têm feito notar muitas vezes que em tempo de guerra o cidadão, do sexo masculino pelo menos, perde um dos seus direitos mais elementares, o de viver (...). Mas raramente notaram que o mesmo cidadão perde ao mesmo tempo um outro direito, igualmente elementar e talvez ainda mais vital, no que diz respeito à ideia que faz de si próprio enquanto homem civilizado: o direito de não matar. Ninguém nos pergunta a nossa opinião. O homem que fica de pé à beira da vala comum, na maior parte dos casos, não quis estar ali mais do que aquele que está deitado, morto ou moribundo, no fundo da mesma vala.

Penso que me é permitido concluir como um facto estabelecido pela história moderna que toda a gente, ou quase, num conjunto de circunstâncias dadas, faz o que se lhe diz que faça: e, peço descupla, há poucas probabilidades de ser o leitor a excepção, tal como eu não a fui. Se nasceram num país ou numa época em que não só ninguém aparece para matar as vossas mulheres, os vossos filhos, mas em que ninguém aparece também para vos dizer que matem as mulheres e os filhos dos outros, dêem graças a Deus e vão em paz. Mas mantenham sempre presente no espírito esta ideia: talvez tenham tido mais sorte do que eu, mas nem por isso são melhores do que eu.

Por já ter lido e visto tanta coisa sobre os horrores do Holocausto, estou a aprender com esta visão, e tento colocar-me dentro de outras cabeças. O que teria eu feito se lá tivesse estado?

16 de fevereiro de 2009

Para não me esquecer

Se calhar estou a ser repetitiva, afinal já vi estas imagens numa série de blogues... Mas em época de grandes filmes e de óscares, não resisto a publicá-las aqui, até para eu própria não me esquecer...

(imagens retiradas do The 2009 Hollywood Portfolio, captadas por Annie Leibovitz)

CHRISTOPHER NOLAN and the late HEATH LEDGER, The Risktakers - One film together: The Dark Knight (2008)

MERYL STREEP and JOHN PATRICK SHANLEY, The Undoubted - One film together: Doubt (2008)

NICOLE KIDMAN and BAZ LUHRMANN, The Colonists - Two films together: Moulin Rouge! (2001) and Australia (2008)


RON HOWARD and TOM HANKS, The Classicists - Four films together: Splash (1984), Apollo 13 (1995), The Da Vinci Code (2006), and the upcoming Angels & Demons (2009)


PENÉLOPE CRUZ and WOODY ALLEN, The Odd Couple - One film together: Vicky Cristina Barcelona (2008)


GUS VAN SANT and SEAN PENN, The Milk Men - One film together: Milk (2008)


SAM MENDES and KATE WINSLET, The Partnership - One film together: Revolutionary Road (2008)


DARREN ARONOFSKY and MICKEY ROURKE, The Ringers - One film together: The Wrestler (2008)


DANNY BOYLE and DEV PATEL, The Dickensians - One film together: Slumdog Millionaire (2008)

Até onde nos leva a vergonha?

Foi a pensar nisto que saí da sala de cinema onde assisti à ante-estreia de O Leitor. Coisas muito simples, que temos como adquiridas e que para qualquer um de nós parecem banais, podem ser a vergonha da vida de uma pessoa. E, ao não admitir uma fraqueza, ao não assumir a vergonha, levá-la à condenação. E mais não conto, para não estragar a surpresa.

Gostei bastante, apesar de Kate Winslet não estar na minha lista de preferências e de ter ficado um bocado cansada de a ter visto tantas vezes nua no primeiro terço do filme. Numa altura em que filmes sobre judeus, alemães, holocausto e julgamentos estão na moda, este não é mais um. É um filme que, para além da culpa ou da falta dela, para além da assumpção ou não da vergonha, nos mostra que, mesmo quando se tem um grande amor, a justiça o pode vencer. E é isso que Ralph Fiennes faz, utilizando a «mão de Deus» para condenar mas também para aliviar o sofrimento. Bom filme, se calhar a Kate Winslet leva o óscar este ano...

PS: Descobri ainda a posteriori que o realizador é o mesmo de As Horas e Billy Elliot. Isto explica muita coisa.

12 de fevereiro de 2009

Parabéns, Papá

Ainda a tempo de deixar os parabéns ao meu pai, por 56 anos que com altos e baixos continuam a ser bem vividos. Excelente jantar, muitas gargalhadas, poucos mas unidos.

Na foto: O Papá de bicicleta em Barcelona.

10 de fevereiro de 2009

Se não fossem homens assim..

Sim, homens, com «h» pequeno e com «H» grande, como Harvey Milk (1930-1978). Numa época em que se tentou fazer uma «caça aos homossexuais», Milk lutou até à morte pelos seus, pelos seus direitos, pelos seus deveres, pela sua liberdade. Se ainda hoje os homossexuais ainda são muitas vezes olhados de lado, o que teria sido há 30 anos? E se estes não tivessem lutado na altura certa, que sociedade teríamos hoje? Homossexuais (ainda mais) escondidos, com medo de perderem os seus empregos? Os seus amigos? A sua família? Isolados em guetos, em bairros de periferia, em hospitais? Discriminados e acusados pelos hipócritas representantes de famílias ditas «normais? O que será preferível, um homossexual assumido e feliz ou um heterossexual reprimido e infeliz?

Se abomino e sou contra o «gay pride», defendo e respeito a «gay freedom».



Muito bom este Milk, com Sean Penn em mais um grande papel num grande filme de Gus Van Sant. Como li no Rascunho, um grande homem, por trás de um grande actor, por trás de um grande filme.

4 de fevereiro de 2009

Não revolucionou a minha vida

Não para responder à Mary, mas porque já há 2 dias que queria escrever sobre este Revolutionary Road. E para quem acompanha os 2 blogs, nada como o contraponto da opinião de 2 pessoas que podiam ser irmãs…

Ia com uma expectativa alta, críticas muito favoráveis, um realizador de quem já tinha visto 2 bons filmes (Sam Mendes - American Beauty e Máquina Zero), conselhos de quem, com gostos parecidos com os meus, tinha visto e aprovado.

Resumindo, do que gostei:
- da base da história, um típico casal norte-americano, ele empregado de escritório, ela dona-de-casa, vida nos subúrbios, dois filhos e uma casinha perfeita com o relvado perfeito (só faltava o cão)… mas muita frustração, muito sonhos por realizar e vontades diferentes de o fazer;
- do ambiente dos anos 50 – o mobiliário, o vestuário, os carros;
- da cena final, discreta e cheia de humor.

Do que não gostei:
- da interpretação do casal principal – ele, Leonardo DiCaprio, não me consegue convencer no papel de pai de família (para ser sincera, nunca me convenceu noutros papéis); já com ela, Kate Winslet, aconteceu-me algo que não me acontecia há muito tempo, não conseguir abstrair-me de que estava a representar;
- do efeito «montanha-russa», com discussões brutais intercaladas por declarações inflamadas de amor pelo meio, da sensação de que nunca mais acabava ;
- das coincidências, de quem peca ter sempre o outro à espera com um sorriso nos lábios, não sei se para gerar remorsos se com outro objectivo.
Saí da sala com vontade de ir ver outra coisa.

Próximas sessões: Milk, A troca, O estranho caso de Benjamin Button, Dúvida, Vicky Cristina Barcelona, O rapaz do pijama às riscas, A duquesa

1 de fevereiro de 2009

Este é outro recado - bem mais a sério - para quem:

- não faz separação de lixos;
- vai a a um McDonald's ou afim e tira sempre uma mão-cheia de guardanapos de papel porque só um não chega;
- vai a uma casa-de-banho e tira mais 4 ou 5 para limpar as mãos...

Não sou fundamentalista, não aproveito o verso de todas as folhas, não me assoo a lenços de pano nem defendo o fim das fraldas descartáveis, gosto da comodidade que a evolução nos trouxe... mas há mínimos que não custam nada.