31 de janeiro de 2017

Némesis, de Philip Roth

Bucky Cantor é um jovem professor de Educação Física em Newark, que no verão de 1944 fica na cidade responsável por um recinto desportivo de férias. Naquela época, quando a poliomielite afetava crianças no tempo quente e ainda não havia forma de a evitar, Cantor começa a ver alguns dos «seus» rapazes a adoecer e a morrer (ou a ficarem séria e permanentemente confinados aos claustrofóbicos pulmões de aço).

Entre a obrigação que sente de se manter na cidade para continuar o seu trabalho e a pressão da namorada para ir trabalhar num campo de férias longe da epidemia, Cantor questiona-se sobre o seu papel no mundo, sobre a ética de uma ou outra opção e sobre a própria vontade de Deus, ao deixar crianças pequenas partir assim.

É Roth mais uma vez no seu melhor.

30 de janeiro de 2017

Ser mãe de gémeas é... #19

... aparecer-me uma miúda doente e saber que em 90 por cento das vezes dois ou três dias depois a outra estará na mesma.

26 de janeiro de 2017

The last act of love, de Cathy Rentzenbrink

Este livro é um autêntico murro no estômago, uma daquelas histórias que julgamos que só acontecem aos outros mas que nos pode tragicamente bater à porta.

A história é verdadeira. Quando Cathy tem 17 anos, o seu irmão Matthew, de 16, é atropelado por um carro que o deixa num estado vegetativo. Durante oito anos, Cathy e os pais tentam tudo para que Matty volte a ser pelo menos uma sombra do que fora, sempre com esperança mas cada vez menor.

Se nos primeiros anos tudo pedem e tudo fazem para que Matty se mantenha vivo, oito anos depois acabam por concluir que andaram a desejar a coisa errada, que a morte teria sido muito melhor para Matty. E é assim, em família, que acabam por se decidir e ter autorização para ter por Matty o último ato de amor.

Não é um livro lamechas, mas uma história que poderia ser a nossa vivida por pessoas com pensamentos e sentimentos que poderiam passar pela nossa cabeça e pelo nosso coração. Bastante duro mas bastante interessante.

24 de janeiro de 2017

Manchester by the sea, de Kenneth Lonergan

Este não é um filme com ação. Nem um filme cheio de efeitos especiais. Nem um filme com intrigas ou casos por resolver. É um dos filmes aparentemente mais simples e mais belos que vi nos últimos tempos.

Interpretado por Casey Affleck, Lee Chandler é um homem atormentado por um passado que durante muito tempo não conhecemos e que se vê obrigado a ser tutor de um sobrinho adolescente, depois da morte precoce do pai. Apesar de não assumidamente, vemos o filme pelos olhos de Lee: primeiro, a vida remediada em Boston, como porteiro e biscateiro; depois, o regresso precipitado a Manchester para resolver a morte do irmão; pelo meio, uma série de flashbacks que nos mostram um Lee ainda a viver numa família alargada e o motivo trágico por que teve de deixar a cidade uns anos antes.

As coisas passam-se devagar neste filme, e é assim que tem de ser. Há neve, muita, há mar, há muitas idas e vindas de jipe, há memórias, e há a relação conturbada mas simultaneamente carinhosa entre tio e sobrinho.

Casey Affleck está excelente, o sobrinho interpretado por Lucas Hedges promete bastante e Michelle Williams também vai bem nas poucas cenas em que entra. Se puderem ver, não percam. É melancólico, mas muito bom.


23 de janeiro de 2017

18 de janeiro de 2017

Está explicado...

... porque é que a Vespa não gosta muito de festinhas no dorso. Deve ter-se composto pouco tempo antes.

17 de janeiro de 2017

Beleza colateral, de David Frankel


O publicitário nova-iorquino Howard Inlet (Will Smith) é um homem de sucesso, gerindo uma agência inovadora onde todos o admiram. Até que um dia a sua vida pessoal muda da maneira mais trágica, deixando-o sem capacidade para gerir o que o rodeia e o que está dentro dele.

Com a agência em maus lençóis, três dos seus colegas e maiores amigos (Edward Norton, Kate Winslet e Michael Peña) veem-se a braços com a tentativa de o tentarem recuperar a ele e, inerentemente, o negócio.

Quando descobrem que Howard escreveu cartas aos que, para si, são os três elementos fundamentais da vida - o Tempo, o Amor e a Morte -, decidem contratar três atores amadores (Keira Knightley, Helen Mirren e Jacob Latimore) para vestirem as personagens e confrontarem Howard com as cartas que escreveu.

Apreciei o filme, apesar de continuar a não encontrar beleza na morte. Surpreendeu-me o final. E gostei do elenco, de luxo mas em que as personagens não se sobrepõem umas às outras.

16 de janeiro de 2017

Estou onde não estou

Ser mãe de gémeas, estar a trabalhar e deixá-las na escola tem que se lhe diga. E as manhãs são, sem dúvida, os momentos mais difíceis de todos. Mas as tardes não lhes ficam atrás.

Levanto-me às 7h para tratar de mim antes de as acordar. Acordo-as pelas 7h45/8h, dou-lhes comida, visto-as enquanto não param de se mexer... e nisto tudo já passa das 9h e ainda tenho de lhes mudar novamente a fralda, que tem presente. Levo-as à escola e entro na editora às 10h. Às 16h30 saio, com a sensação de deixar imenso trabalho por fazer. Vou buscá-las e chegamos a casa pelas 17h15/17h30. Entre dar-lhes banho, elas dormirem mais uma sestinha de que precisam, dar-lhes jantar e contar uma história não estou quase tempo nenhum com elas. Às 20h30 estão na cama.

É uma sensação de não estarmos num lado nem noutro... Daqui a 5 meses, quando deixar de ter a redução de horário, vai ser bonito, vai!

14 de janeiro de 2017

Para que saibam

Uma semana depois da morte deste senhor que considero um dos pais da democracia em Portugal e que sem proveito próprio tanto fez por nós, respondo assim a todos os que nas redes sociais, escondidos atrás dos seus teclados, o enxovalharam a ele e a todos os que o respeitam.

El Mundo, Espanha.
El País, Espanha.
La Vanguardia, Espanha.
ABC, Espanha.
Le Figaro, França.
Le Monde, França.
Libération, França.
La Repubblica, Itália.
Bild, Alemanha.
O Globo, Brasil.
Folha de São Paulo, Brasil.

11 de janeiro de 2017

Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum

Tinha este livro já há uns bons anos, oferecido pelo meu primo carioca. Há uns meses, quando regressei do hospital, estava a meio de outro, bem mais grosso, e que na altura não tinha forças (físicas) para pegar e ler na cama. Lembrei-me então deste: pequenino, levezinho e com valor afetivo.

Fiquei impressionada em como um livro tão pequeno pode contar a vida de várias gerações e ao mesmo tempo retratar toda uma época e a sua decadência. O Eldorado era Manaus, cidade de grandes riquezas e de muito comércio, onde todos iam parar. A história é contada por Arminto Cordovil, já velho, que conta como cresceu órfão de mãe e filho de um abastado fabricante de borracha, como foi expulso pelo pai depois de uma relacão com uma criada mais velha, como por amor a uma índia órfã criada por carmelitas deixou que a fortuna que o pai lhe legou desaparecesse mais depressa do que era suposto. Desaparece a fortuna, desaparecem as casas, desaparecem os criados.

Pelo meio, este pequeno grande livro ainda consegue falar de lendas, feitiços e maldições, num encadeamento perfeito entre realidade e ficção.

Nota: Apercebi-me entretanto de que este livro já deu um filme em 2013. Mais uma prova de que por vezes não é preciso escrever muito para criar boas imagens.

10 de janeiro de 2017

Ser mãe de gémeas é... #17

... dar banho a ambas na mesma água, preocupando-me apenas se a água não terá arrefecido demasiado entre o banho de uma e o da outra.

8 de janeiro de 2017

Bowie: 70 anos

Era hoje que os faria, e graças a uma surpresa do meu irmão celebrei-os no CCB. Na conferência Bowie: 70 falou-se de música e de filmes, viu-se trailers e videoclipes, ouviu-se David Fonseca a tocar excelentes versões. Parece que Bowie ainda nos deixou umas novidades por revelar, aguardo impacientemente.


7 de janeiro de 2017

O fim de uma era


Não consigo deixar de ver a morte de Mário Soares como o fim de uma era. Desapareceu um dos grandes combatentes pela nossa liberdade, um homem que acreditava piamente nas suas causas e que por nada desistia delas, uma pessoa que nunca tinha medo de dizer o que pensava ou mostrar o que sentia.

Ficam aqui algumas das minhas fotografias preferidas de momentos marcantes da sua vida e da vida do país.

O regresso do exílio em 1974.


No comício na Fonte Luminosa em 1975 (eu estava lá, com um anito e pouco).


A assinatura da adesão à CEE em 1985.


A campanha e a vitória nas presidenciais de 1986.




A coragem de defender publicamente o amigo Sócrates em 2014.

6 de janeiro de 2017

Ser mãe de gémeas é... #16

... aproximar-se a hora da refeição e ter quatro olhinhos a olhar avidamente para mim e quatro perninhas que não param de excitação.

5 de janeiro de 2017

E o que leste em 2016, Vespinha?

Em 2015 foram 33 livros, com a perspetiva de em 2016 este número baixar consideravelmente tendo em conta o nascimento das bebés. Mas não foi assim tão mau: 27 no total, 17 antes de elas nascerem e 10 depois.

- The grownup, de Gyllian Flynn
- Little children, de Tom Perrotta
- December, de Elizabeth H. Winthrop
- Purity, de Jonathan Franzen
- Prematuros, de João Pedro George
- Claraboia, de José Saramago
- Zeitoun, de Dave Eggers
- Índice médio de felicidade, de David Machado
- The white lioness, de Henning Mankell
- Genética, de Mayana Zatz
- Segredos de família, Kim Edwards
- Catedral, de Raymond Carver
- Contagem decrescente, de Ken Follett
- Elegia para um americano, de Siri Hustvedt
- Por trás das grades, de Maude Julien
- Alegrias e tristezas do trabalho, de Alain de Botton
- Mentiras & diamantes, de Rentes de Carvalho
- A verdade sobre o caso Harry Quebert, de Joel Dicker
- A música da fome, de Le Clézio
- When you are engulfed un flames, de David Sedaris
- Santaland Diaries, de David Sedaris
- Me talk pretty one day, de David Sedaris
- Numa casca de noz, de Ian McEwan
- A vegetariana, de Han Kang
- Toda a luz que não podemos ver, de Anthony Doerr
- Behind closed doors, de B. A. Paris
- Zero K, de Don Delillo

4 de janeiro de 2017

3 de janeiro de 2017

Lion - um longo caminho para casa, de Garth Davis

Vi este trailer uma data de vezes noutras idas ao cinema, e desta vez acabei por ir ver o filme. Lion está basicamente dividido em duas partes: a perda e a procura.


Na perda, o pequeno Saroo, criança indiana de cinco anos vivendo num local remoto e muito pobre, perde-se do irmão Gudu numa estação de caminhos de ferro. Acaba por entrar no primeiro comboio que encontra e vai parar à confusão de Calcutá, onde vive na rua, é perseguido por recolhedores de crianças, cobiçado para redes de tráfico infantil, até que é recolhido num orfanato. E, em pouco tempo, adotado por uma família australiana.

Na procura, Saroo é já um homem, um jovem estudante de 25 anos que vai estudar para Melbourne e que, uma noite, se dá conta de que tem de encontrar a sua família de origem. Com a ajuda do Google Earth, de cálculos matemáticos e de memórias entrecortadas que tem, empreende uma busca para tentar encontrar a sua mãe e irmãos que deixou numa região paupérrima.

A primeira parte é impressionante, pela interpretação de Sunny Pawar, tão bem escolhido pela capacidade de representação e pelos enternecedores olhos negros (não há quem lhes resista...), e por sabermos que todos os anos na Índia se perdem assim cerca de 80 mil crianças. A segunda parte é um pouco menos plausível, pela forma como a busca é efetuada. Mas não posso deixar de sublinhar as interpretações de Dev Patel (o rapazito de Quem quer ser milionário? que agora se tornou num homem bem interessante), no papel do Saroo adulto, e de Nicole Kidman, no papel da mãe adotiva australiana.

Verte-se umas lágrimas, vale a pena ver. Resta dizer que a história é inspirada muito diretamente num caso verdadeiro.

2 de janeiro de 2017